Capítulo 36

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Capítulo 36 - Priory

Um lugar tão distante para nós encontrarmos
Se esqueceu do gosto e do cheiro
De um mundo que ela deixou para trás

Durante anos o que Ana mais ansiava era exterminar clínicas psiquiátricas, não importava que elas não tinham culpa sobre sua vida, ela só tinha em sua mente que se elas não existissem mais, tudo ficaria bem, sua vida voltaria ao normal. De qualquer forma Ana nunca imaginou que faria tanto esforço e se sentiria tão assustada com a possibilidade de acabar com uma.

A ameaça clara e iminente sobre Priory foi o que a fez permanecer em silêncio e apenas observar.

A primeira coisa que Ana lembra de ter consciência em Priory, era o silêncio. Ela nunca havia estado em uma clínica psiquiátrica tão silenciosa. Não se ouvia gritos ou qualquer discursão alta, apenas sussurros pelos corredores e havia também muitos sorrisos por aí. Mas sim, o silêncio era a principal arte em Priory.

Então não era de se surpreender que o ritmo cardíaco de Ana aumentou mais do que já estava quando tudo o que se ouvia era caos de repente. Ela não sabia se era os funcionários ou os pacientes. Talvez os dois. Mas todos gritavam, todos falavam ao mesmo tempo. E aquilo era tão errado. O medo tomava conta de cada poro de seu corpo.

Ela não pestanejou, e nem mesmo reagiu quando Jack a levou por entre os corredores de Priory e a trancou no quarto, dizendo que voltava logo.

Ana estava em choque, ela sabia que estava. A roupa branca lhe causava náuseas, as paredes da mesma cor a deixava tonta e havia aquele lugar.

Aquele lugar.

Em toda perfeita e elegante Priory, ainda mais que silencioso, onde não se havia nem mesmo sussurros, era a Ala Z. Um corredor longo e estreito, proibido a maioria dos funcionários e a todos os pacientes, onde havia apenas cinco quartos e bem longe um do outro.

O de Ana - ainda desocupado mesmo após meses dela ter saído - era o último, lá no fim. E era onde ela estava naquele momento.

A janela era alta, mas ela sempre conseguiu ver por ali, a visão dava direto para o jardim de fora, e mesmo ao meio de gritos e claramente correria em que ela podia ouvir os passos, havia o jardim completamente vazio.

Era ensurdecedor - e mais que assustador - que havia tantas e tantas pessoas gritando em desespero, mas ninguém parecia estar saindo do lugar.

Coisas lógicas quando não acontecem são mais assustadoras do que coisas ruins acontecendo.

Ela estava grudada na janela, as mãos espalmadas no vidro embaçado pela garoa que caía lá fora, o outono chegaria logo, e a frente fria em Seattle era certa.

Mesmo no escuro, as luzes do jardim lá embaixo ajudava, com Ana se apertando contra o vidro, conseguia ver uma claridade que não deveria existir, era forte demais e bruchuleava pela lateral do prédio em que estava.

A morena deu alguns passos para atrás, o medo assolando cada parte de seu corpo.

Ela tentava se concentrar em respirar, em não perder a batalha para sua própria mente e ter alguma crise, se pânico, se ansiedade, fosse o que fosse, ela precisava se controlar.

50 Tons de Uma SalvaçãoWhere stories live. Discover now