5. O que Aprendi

64 25 60
                                    

O que aprendi

Com meu pai aprendi muitas coisas,
Aprendi a humilhar com mentiras,
Aprendi a desprezar a arte,
Sacanear gente,
Com ele aprendi a xingar,
A bater e ser batida,
A chorar,
A entender que sou uma vagabunda.

Meu pai nunca entendeu minha mente,
Nessa família não me sinto presente,
Estou sozinha e ninguém me entende,
As vezes sou bicho e não me sinto gente.

Com minha mãe aprendi muitas coisas
A calar, a servir e inventar histórias
Aprendi a apreciar o que me machuca
O que bate no coração e fica
Aprendi que devia ser homem, ser macha
Pois ser mulher é uma vergonha.

Com ela aprendi que não é “ela”
Aprendi a tapar a goela,
Aprendi que sou a puta
E que sou psicopata,
A louca desmiolada,
A mentirosa e doida,
Descontrolada,
Adoentada.

Com a escola aprendi muitas coisas,
Aprendi a brincar e esquecer os problemas,
Aprendi a dividir,
A criar famílias e interagir,
Aprendi a falar e me expressar com a arte,
Com a poesia e a vida,
Aprendi o significado do partir e da saudade sentir,
E que sou graça e choro com lembranças,
Aprendi a contar histórias boas e a estudar,
Aprendi a me interessar,
Aprendi a quer sempre mais,
A buscar que preciso conhecer,
Aprendi que nem tudo vai dar certo,
Mas que o erro nós iremos crescer,
E que temos as mesmas dificuldades,
Somos nossas verdades,
Aprendi que temos vez,

Mas sempre ao voltar para casa,
Olha lá, perco a graça.
Minha alegria já se desfez
Por que o terror vem outra vez...

28 de setembro de 2018.

- Victória França

270 palavras.

Poesias Para Não DormirOnde as histórias ganham vida. Descobre agora