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"O mar parece preso ao abismo profundo, crucificado, olhando para os altos céus, prestes a escapar, violento, berrando, pregado em seu leito negro."

- Vicente Aleixandre

Hermione rabiscou furiosamente em seu caderno antes de fazer uma breve pausa para mexer o pulso, o feitiço silencioso que ela lançou virou as páginas de três livros ao mesmo tempo. Ela não conseguiu encontrar nenhuma informação sobre os abortos da linhagem Gaunt e o que havia encontrado sobre o uso de magia de sangue e almas era, na melhor das hipóteses, escasso. No entanto, ela descobriu que, apesar de o sangue poder ser "diluído", mesmo que uma linhagem mágica tivesse abortos, a magia ainda estava adormecida em seu sangue. Essa descoberta foi considerada falsa por muitos magos de sangue puro, mas Hermione considerou que seus argumentos não eram apoiados por evidências imparciais.

Além do seu estado de fadiga devido à pesquisa, ela não conseguia tirar da cabeça a imagem de olhos com pálpebras pesadas, de um azul pálido sob o brilho fantasmagórico de fantasmas e a sensação de uma mão quente na parte inferior das costas. Ela amaldiçoou o bastardo que não parecia tão desanimado com aquela noite.

— Esse tal de Shakespeare, sua escrita é densa, não faz sentido — continuou ele. —, quem inventa suas próprias palavras - e, falando sério, histórias de amor trágicas? Quero dizer, esse Romeu se apaixonou depois de conhecer Julieta por quanto tempo? Trinta segundos? Logo depois de ter se apaixonado por outra pessoa?

Hermione cerrou os dentes. Ela tinha ido à biblioteca logo pela manhã para se entregar a uma leitura leve e fugir de sua pesquisa. No entanto, quando chegou, Draco já estava sentado, de óculos, folheando uma cópia de Romeu e Julieta com aquela graça irritante e casual que ele tinha ao se recostar na poltrona.

— ... Shakespeare exige atenção cuidadosa e leitura atenta para desconstruir o significado por trás de sua prosa. E Romeu e Julieta não deve ser tratado como uma história de amor! É mais complexo do que isso! Você não pode simplesmente... — ela prosseguiu, incapaz de se conter. O arrogante.

— Por favor, Granger — disse ele. — Isso é tão ruim quanto o trabalho de Gilderoy Lockhart. Aquilo era um lixo absoluto, e pensar que tantos o bajulavam quando ele lecionava em Hogwarts.

Diante do silêncio dela, ele olhou para cima, com os olhos arregalados pelo rubor traidor no rosto dela.

— Granger, de verdade? Isso...

— Nem uma palavra — ela gritou enquanto os lábios dele se contraíam atrás de um dedo fino. — De qualquer forma, a influência de Shakespeare...

— Assim, de meus lábios, pelos seus, meu pecado foi expurgado. Agora meu pecado foi levado de meus lábios para os seus. — Os olhos dele nunca deixaram os dela enquanto as palavras saíam de seus lábios, lentas e deliberadas. Intencionais. Elas ecoaram no ar da manhã, acenando para ela como um vinho proibido.

— O que - como... — Hermione gaguejou e se ruborizou quando a sobrancelha dele se arqueou ao vê-la olhando para os lábios dele.

— Isso pode surpreendê-la, mas eu já li Shakespeare antes — ele deu de ombros como se isso fosse de conhecimento geral. — Guardado secretamente em minha biblioteca pessoal, é claro...

— Isso não faz sentido...

— Surpreso com o fato de um Comensal da Morte poder apreciar literatura, até mesmo literatura trouxa? — Os olhos dele tinham um desafio. Quando ela não conseguiu responder, ele sorriu e se levantou, colocando o livro debaixo do braço.

The Order of Serpents | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora