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"Cada um de nós está sozinho, com certeza.

O que você pode fazer senão estender a mão no escuro?"

- Ursula K. Le Guin

Hermione engasgou quando foi cuspida para fora da penseira e agarrou as bordas da bacia para se equilibrar. Uma mão firme na parte inferior de suas costas a firmou, mas desapareceu antes que ela pudesse registrar adequadamente o que estava ao seu redor. Olhando para cima, ela encontrou o rosto cauteloso de Draco. Ele olhou para ela com uma espécie de expectativa, como se esperasse que ela reagisse, recuasse.

Hermione piscou para conter as lágrimas, sentindo-se oprimida com o que acabou de testemunhar. Ela abriu a boca, mas nada saiu.

— Eu... — ela começou.

— Vamos para o último, certo? — Draco disse baixinho, o rosto se fechando enquanto evitava o olhar dela e trocava a memória pelo último. Antes que ela pudesse dizer uma palavra, ele mergulhou na penseira.

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15 meses após a Batalha de Hogwarts

— É um menino — Narcissa respirou, envolvendo a criança chorosa enquanto a parteira dava a Astoria uma poção para reabastecer o sangue. Draco ficou estóico e silencioso do outro lado da sala, vislumbrando brevemente um cabelo loiro branco ralo na luz aquosa do meio da manhã. — Você quer segurá-lo?

Os olhos de Astoria se fecharam quando o bebê soltou outro choro. — Não — ela respondeu fracamente.

Narcissa olhou para ela com tristeza após uma pausa e segurou a criança mais perto. — Vamos limpá-lo então — ela disse gentilmente e saiu com a parteira.

— Draco? — Astoria gritou, tirando-o de seu estupor. Ele se aproximou da cabeceira dela e finalmente olhou para ela. Ela parecia ainda mais doente do que ele a viu pela última vez. Suas bochechas estavam encovadas, com um tom acinzentado em sua pele. Mas agora havia uma certa paz nela, em seu repouso tranquilo e em seus olhos caídos.

— Estou aqui — disse ele, quando os olhos dela permaneceram desfocados.

Ela sorriu suavemente, os olhos finalmente focando nele. — Nós sabíamos que isso estava por vir, Draco — ela suspirou. — Achei que quando chegasse o momento eu sentiria o medo que deveria, mas não sinto. Eu simplesmente me sinto cansada.

Seu rosto assumiu uma expressão sonhadora, seus olhos novamente cegos.

— É um pouco egoísta, não é? — ela riu levemente, que se transformou em uma tosse violenta. Ele se aproximou, ajudando-a a tomar outra poção para suavizar a respiração. Mas ambos sabiam que não havia nada que pudessem fazer para evitar o inevitável.

O punho de Draco fechou-se em torno do frasco de poção, o peso frio dele entre as palmas das mãos. — Não, não acho que seja egoísta.

De repente, ela agarrou a manga dele, seus dedos frágeis apertando o material. Seus olhos estavam hesitantes, algo que parecia culpa neles. — Eu... eu não estou pronta para ser mãe. Mesmo se eu sobrevivesse, não saberia outra forma de ser mãe além de como fui criada. Eu não iria querer isso para o nosso filho. — Seus olhos de repente se encheram de lágrimas com a confissão repentina — Sua mãe disse que as mães devem sentir um vínculo com seus filhos. Mas eu... eu não posso. Eu não. Não senti nada durante a gravidez e agora ainda não sinto nada além de alívio por ter acabado. Isso faz de mim um monstro, Draco?

Astoria procurou seus olhos como se pudesse encontrar a resposta neles. Isso foi culpa dele. A porra da culpa dele. Ela poderia ter tido mais tempo. Ele poderia ter tirado Raul de lá. Ele poderia ter feito algo para tirá-los de lá. Talvez então ela pudesse ter um futuro pelo qual ela gostaria de lutar mais para viver, uma família com o homem que ela amava e um filho que ela queria.

The Order of Serpents | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora