Secondo Capitolo

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Acordei no dia seguinte sem saber onde estava.

Levou um tempo até que eu associasse que as treliças de madeira no teto e o silêncio barulhento característico das manhãs em bairros parados na verdade pertenciam ao apartamento da Itália e que eu não estava mais rodeado de concreto aparente, metal acobreado e fumaça de cidade grande como em Boston.

Porém, não foi tão difícil quanto achei iniciar o meu primeiro dia oficial como um residente de uma famosa cidade portuária na costa oeste da Toscana. Não era nada mau, para ser honesto, e eu tinha tido uma facilidade impressionante de levantar para meu primeiro dia de trabalho.

Esfreguei os olhos para dispersar o sono e joguei os lençóis para fora do corpo. Meus pés descalços logo se acomodaram no assoalho amadeirado que ficava sempre numa temperatura agradável e me levaram preguiçosamente até o banheiro com os olhos ainda fechados.

Só vim a abri-los novamente quando enxuguei a água que tinha jogado do rosto e o encarei de frente para o espelho da pia. Era engraçado como a mudança de fuso horário não parecia ter me afetado muito. Livorno parecia ser um pouco mais clara pela manhã do que Boston.

Talvez fosse a posição do Sol ou essas coisas.

Ou talvez porque em Boston nem ao menos era possível ver o Sol grande parte do ano. De qualquer forma, eu parecia um pouco mais desperto do que pensei que estaria acordando às seis da manhã em um outro país depois de uma longa viagem cruzando o Atlântico.

O despertador nem ao menos tinha tocado ainda...

Bocejei grande enquanto passava a espuma de barbear, fazendo careta para as bolsas inchadas que mantinham meus olhos praticamente fechados por vontade própria, o tom de azul das íris quase cristalino como sempre era pelas manhãs quando eu ainda estava me acostumando com o fato de precisar acordar.

Depois de tirar preguiçosamente os pelos curtos e ruivos que insistiam em crescer durante a noite do maxilar, parti para escovar os dentes, curvando-me para pegar um pouco da água gelada da torneira. Não tinha certeza de quando tinha desenvolvido aquele costume, mas ergui-me de volta para me olhar no espelho enquanto passava a água de uma bochecha para a outra e replicava os movimentos com os quadris, otimizando a higiene pessoal com atividade corporal matinal.

Aproveitei que ainda parecia ter um pouco mais de tempo do que tinha previsto para me arrumar antes do expediente para reduzir a velocidade de cada gesto para ir adaptando e despertando o corpo aos poucos.

Olhei ao redor do banheiro, tendo a visão dele pela primeira vez com atenção na claridade do dia. Não era muito melhor que o resto do apartamento. O revestimento era de azulejo claro estampado de flores coloridas e o espelho do armário bem à minha frente estava desgastado e praticamente solto. O chuveiro era separado do resto do espaço com uma cortina plástica verde oliva que chiava com os arames de metal enferrujados quando se mexia com com vento que entrava pelo mesmo lugar de onde vinha a luz impiedosa da janela alta bem na parede no extremo oposto à porta, me deixando ainda mais intrigado sobre como já era tão claro tão cedo.

Eu não estava pronto para abandonar meus costumes vampirescos durante a manhã. Ainda era madrugada e o sol já estava alto no céu. Não tinha nem me dado tempo para despertar simultaneamente ao amanhecer. Eu já estava elétrico e ainda nem tinha tomado a primeira xícara de café do dia.

Espere um pouco...

...

Eu tinha programado o despertador?

No segundo seguinte, toda a água que estava na minha boca foi direto de encontro com o espelho.

Praguejei alto e corri até a mesa de cabeceira, ligando o visor do celular me deparando com o horário. Senti todo o sangue se esvair do meu corpo quando o cursor registrou 7h33min.

sunday kind of love ➳ l.sWhere stories live. Discover now