Divorciada e falida. Sem um puto no bolso e devendo.
Precisava tirar um coelho da carola, inventar um método infalível, roubar um banco, sei lá. Qualquer coisa para pagar o condomínio, a internet e a luz.
Dizem que escritora não trabalha, só escreve, mas você já pensou a merda que é construir um livro? Num dia a gente está com fogo no cu e sai peidando palavrinhas como se fosse morrer no dia seguinte.
Em outro momento, fica duas semanas scrollando o Instagram de outros criativos sem saber o que fazer com a lista de pendências acumuladas.
Num dia de fogo no cu, me vi alucinada com uma nova personagem, uma nova história e ignorando lindamente uma pia cheia de louça.
Vou te contar só para dar o gostinho: Teresa Harper, advogada numa firma grande, tem um segredo: ela é Dominatrix nas horas vagas.
Até aí? Perfeito, a advogada encontraria um boy num clube de sexo, os dois se dariam muito bem no escuro e, no dia seguinte, se encontrariam numa reunião séria no escritório dela.
Resumindo: o boy do clube de sexo seria o advogado adversário da outra parte do processo. E que o cabaré pegasse fogo!
Daria uma boa história, você não acha?
Só precisava de duas coisas: Uma, sentar a bunda e escrever. Duas, descobrir como é um clube de sexo e o que uma Dominatrix faz.
Sei alguma coisa sobre BDSM? Não, mas tenho google e quem tem google tem tudo. O resto eu daria um jeito de inventar.
Tinha tudo para dar certo, mas só que eu me fodi.
Patinei por duas semanas até achar o tom da história e entender termos jurídicos (pois Teresa é advogada e tem que falar advoquês, né!)
Pensei em desistir, mas já tinha ganho um adiantamento da editora, dinheiro que inclusive já tinha gastado, então o jeito era fazer o que eu fazia de melhor:
Enfiar os pés pelas mãos.
Entrei no twitter de um Dominador, paguei um curso de Hotmart para entender o universo, me meti em livros e mais livros, saí pesquisando e anotando tudo. Eu sou a pessoa que prefere anotar, então pode apostar que eu tinha um belo compêndio de putaria num caderninho capa dura, mas que não era moleskine porque não tenho coragem de dar 100 reais num caderno.
Por mais que os achasse lindos e chiques, uma mulher tem que saber para onde vai parar seu dinheiro, não é?
Mais duas semanas se passaram de pura pesquisa no XVideos e os cursos me levaram a listas de transmissão de WhatsApp, grupos do Telegram e vários perfis do Instagram.
Porém, uma coisa que me incomodava muito: só tinha homem dominador e homem falando. A minha personagem era Domme e penei muito para achar uma mulher que falasse sobre dominação.
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Todas as coisas que Deixei por Ti
ChickLitClube dos Corações Partidos #2 Ela é uma escritora falida fazendo pesquisas para seu novo livro. Ele é o Dono do Stage, o bar mais fetichista da cidade, e prefere casos de uma noite só. Ela ainda está muito machucada por seu último relacionamento. E...