Uma semana, quinze mil palavras. Se eu não tivesse reescrito tanto e tantas vezes, teria feito o dobro. Encontrar o tom da história, caçar as palavras que se encaixem nesse clima e fazer pesquisas tomam tempo demais.
Meu compêndio de putaria tinha aumentado boas trinta páginas e seria maior se eu não fosse da idade da pedra e tivesse um caderno online, pois teria anexado vídeos, arquivos da Wikipedia e outros links de sites moralmente duvidosos.
Se o FBI podia ler meus e-mais, não sei como nunca fui torturada num porão, pois o tanto de pesquisa absurda que já fiz, não só para o livro da Teresa, mas para todos os meus livros, era de assustar.
Preciso esconder um corpo? Não, mas descobri como se faz. Preciso fazer uma bomba? Não, mas se eu tivesse gasolina e suco de laranja, o PCC que se cuidasse.
Mas, para bem ou não, só uso meu gênio do mal para a escrita. E a sorte é que eu gosto de livro florzinha, cheios de romances que nunca vivi na vida real, por que se eu gostasse de thriller ou livros de espiões, meus leitores sairiam dos meus livros com o cabelo em pé.
Quer dizer, eles saem. Mas não é o cabelo que sai em pé, não.
Fazer o que se eu gosto do que não presta?
Olhei o armário em busca de roupa para sair, sem me esquecer um só dia que tinha um encontro com Daniel e o resto de seus amigos, e botei um camisetão preto, básico, com um shortinho por baixo. Era o mais perto de "vestido" que eu tinha, e nem morta que sairia de casa para comprar roupa só para um único evento.
Dobrei as mangas da camiseta, catei celular e carteira, calcei outros tênis, Mad Rats old school com meias bem baixinhas, só para não darem chulé, e saí.
De cabelão armado mesmo, sem presilha, sem maquiagem, só um balm com corzinha por que sou a louca dos hidratantes labiais.
Eles, e cremes para mãos, que vivem largados na minha mesa de trabalho e, entre um pensamento e outro, meleco tudo e saio espalhando pelo teclado sem querer.
Cheguei de Uber, para não ter que pegar dois ônibus, e cumprimentei o moço mal-encarado que ficava de planta na porta de entrada. Ele nunca me respondeu, mas eu seguia sendo educada.
Deixei o celular e carteira com a mocinha da recepção e entrei, de tênis e tudo, passando pelo salão até que vazio para as seis da tarde, direto para o pátio do fundão que era onde ficavam as pessoas legais.
De todos os vídeos de BDSM que eu vi, toda a estética me incomodava. Era uma forçação de barra que gritava "Ameaça! Crime! Transgressão!" que não me convencia.
Era como se eles quisessem mostrar, nos adereços, uma marra que não tinham na vida real. Dava a entender que o importante era o roleplay, não a relação entre pessoas.
Por isso acho que o pátio me agradava tanto. Tem mais cara de quintal, um quintal arrumado demais, como os bares que cobram vinte e cinco uma caipirinha, mas não chegava a ter preto, vermelho e corrente e, tudo.
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Todas as coisas que Deixei por Ti
ChickLitClube dos Corações Partidos #2 Ela é uma escritora falida fazendo pesquisas para seu novo livro. Ele é o Dono do Stage, o bar mais fetichista da cidade, e prefere casos de uma noite só. Ela ainda está muito machucada por seu último relacionamento. E...