Capítulo 52- Sempre foi você

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ANNE

-Eu te encontrei!

Foi a frase que ambos disseram juntos, como se tivessem internamente ensaiado para isso, em seus sonhos ou em suas lembranças, como se tivessem passado vinte quatro anos de suas vidas esperando por aquele instante, e muitos séculos onde essa mesma frase se repetira, mas nunca de fato pudera se concretizar em seu sentido amplo e verdadeiro, e se perdera no adeus final de sua separação terrena.

Olhando para Gilbert que de outra vida trouxera a essência de Lucas, Anne não conseguia de fato se lembrar de suas características físicas em outra existência que não fosse essa, mas ela sentia dentro de si que à sua frente estava o homem a quem amara em um século distante deste, e em muitos outros que talvez ele trouxesse um outro rosto, outra cor de olhos, som de voz diferente. No entanto, o coração era o mesmo, o amor tinha a mesma intensidade, e se fechasse os olhos ela se sentia sendo transportada para uma uma floresta maravilhosa de lilases onde sua história com Gilbert tinha uma extensão poderosa e incrível.

Naquele instante, um breve silêncio pairava entre os dois, como se precisassem de um reconhecimento antes de dizerem qualquer palavra, ou darem o próximo passo daquela história de amor que nunca tivera um final, mas muitos recomeços. Os dedos de Anne passarem por cada detalhe daquele rosto perfeito e angelical, como já fizera muitas vezes em suas noites de amor, ou momentos íntimos juntos, mas agora tinha um significado especial e totalmente distintos de todas as outras vezes. Os olhos castanhos esverdeados encaravam os seus como se estivessem vivendo aquele momento em outro plano que não o terrestre, e Anne quase podia dizer que se sentia flutuar também, como se entre os dois houvessem nuvens, estrelas, um paraíso inteiro do qual podiam desfrutar o quanto pudessem.

Seus dedos continuaram seu trabalho de reconhecer aquele homem que conhecia como a palma de sua mão, pois ela sabia qual era o seu perfume, o seu gosto, suas preferências pessoais, sua forma de compor uma música, o jeito que ele tinha de abraçar, fazer amor e dormir. Anne também conhecia todos os seus sorrisos, todos os seus beijos, todos os seus humores, e expressões que a faziam amá-lo cada dia mais. Ainda assim era algo novo, estar diante do seu amor do passado, do rapaz que tantas vezes encontrara em seus sonhos, e que a confundiram com a intensidade de seus sentimentos, que a impressionara com a convicção de suas afirmações de que a encontraria onde quer que fosse.

Anne podia não se lembrar de como fora sua vida ao lado dele antes, mas ela sentia que estava diante de alguém que atravessara imensas tormentas, que lutara inúmeras batalhas apenas para que pudessem um dia se encontrar. E como uma fortaleza de proteção, ela queria se envolver naqueles braços e sentir que o que compartilhariam dali para frente seria um amor sem igual, algo indestrutível que fazia parte de seus corpos como se fosse um órgão essencial para que pudessem continuar vivendo.

Por fim, ela o abraçou, recostando sua cabeça naquele peito forte, sentindo os braços que cobiçara antes, rodeá-la com tamanha delicadeza como se ela fosse uma flor delicada que Gilbert estivesse cuidando com seu amor. Ouvir o coração dele batendo em uma cadência tão parecida com a dela, era uma música diferente, uma melodia que recitava todas as palavras que já tinham dito um ao outro, era quase uma declaração silenciosa.

Então, Anne levantou a cabeça, e tentando encontrar o que dizer, ela murmurou:

-Eu devia saber que era você. Como não te reconheci antes? - Gilbert lhe deu um daqueles seus sorrisos que iluminaria uma noite escura e respondeu:

-Eu também fiquei cego por tanto tempo. Mas algo nesses seus olhos azuis sempre me atraiam tanto, porém eu nunca soube porque até agora. - ele a abraçou tão forte que Anne pôde sentir todo os músculos dele contra os seus, e o perfume delicioso que vinha da pele dele era o único incentivo que precisava para se sentir completamente em casa.

Anne with an E-  flames of the past- AUWhere stories live. Discover now