Capítulo 2- Primeiro encontro

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Olá, segundo capítulo postado. Espero por seus feedbacks. Beijos.


Espanha, 1889

Amybeth observava a garota bonita no espelho, de olhar misterioso e custava a acreditar que era ela mesma. Os cabelos ruivos estavam soltos, e cascateavam por suas costas com lindos cachos nas pontas de um jeito que ela nunca usara antes. As roupas também não eram suas. Ela usava uma blusa de renda branca que deixava seus ombros alvos nus, e a saia rodada de tonalidade verde musgo caía ao redor de seus quadris e chegava até seus tornozelos, onde os pezinhos delicados vestiam sapatilhas de cetim também verdes.

Ela se sentia tão livre aquela noite, como nunca fora.  Não sabia se era porque estava pela primeira vez livre das roupas formais e espartilhos que normalmente usava no dia-a-dia, ou se era porque sairia de casa sem a companhia dos pais.  Eles jamais permitiam que ela deixasse sua casa sem que uma pessoa mais velha e responsável a levasse aos lugares aos quais precisasse ir. 

Mas, a verdade era que estava adorando aquela sensação de liberdade que fazia com que sentisse que podia ser ela mesma sem ter que dar satisfações para ninguém.  Esse sentimento quase a fazia se esquecer de que era filha de pessoas nobres da sociedade mais distinta de Madri, e que seu sobrenome exalava poder e riqueza.

Desde pequena, Amybeth Velasques fora criada para brilhar entre reis, rainhas e duquesas. Tivera a melhor educação, falava várias línguas com perfeição, tocava piano com delicadeza, dançava com graça e sabia como organizar jantares, com qual vinho cada comida combinava, e recebia  e servia convidados com a elegância de uma princesa. 

Seu pai, o Conde Matthew Velasques, se esforçara para que Amybeth, sua filha única, tivesse o melhor de tudo, para que pudesse oferecer ao seu futuro marido toda a sua habilidade como anfitriã e esposa perfeita.

Ela tinha consciência de que o pai esperava que ela atraísse um casamento vantajoso para si mesma e para a família, por isso, deveria sempre se comportar como uma dama e pôr em prática tudo o que aprendera em suas aulas de boas maneiras.

 Secretamente, Amybeth detestava tudo aquilo. Mas como boa filha que era, jamais pensara em se rebelar contra um destino traçado por seus pais desde que ainda estava na barriga de sua mãe, uma mulher totalmente submissa ao marido, que sequer contestara qualquer decisão que ele pudesse ter tomado na vida. Tudo o que ele dizia era lei, e às vezes, olhando para ela,  Amybeth enxergava Marilla Velasques como uma boneca sem vontade própria, que se contentava em viver à sombra do marido, que dava-lhe  uma vida confortável, o que para ela era mais que suficiente.

Quantas vezes Amybeth ouvira sua mãe lhe dizer que a função de uma mulher era manter seu marido satisfeito, cuidando da casa e dos filhos, e principalmente, evitando que ele sentisse qualquer estresse quando chegasse em casa do trabalho. 

Sua casa deveria ser sempre agradável, problemas com os criados e rotinas familiares deveriam ser resolvidas pela esposa e o marido nunca deveria ser aborrecido com qualquer assunto que não fosse de ordem administrativa. Enquanto a mãe repetia vezes e mais vezes as obrigações de uma esposa, Amybeth se perguntava se a vida seria somente aquilo? Não era possível que sua mãe fosse feliz com uma vida tão vazia e sem propósitos concretos. Como ela não morria de tédio, vivendo com um homem tão frio e pedante como seu pai?

 Nem mesmo com Amybeth, ele demonstrava algum afeto, seu único interesse nela eram os lucros que ela poderia dar-lhe por meio de um marido rico e influente, era quase como se a tivesse criado para ser exposta em uma vitrine e leiloada pelo preço mais alto.

Às vezes,  quando andava pelas ruas de Madri, em sua carruagem que a escondia do mundo, Amybeth invejava as moças que viviam uma vida simples e sem luxos, pois elas tinham uma liberdade que ela nunca poderia alcançar. 

Anne with an E-  flames of the past- AUWhere stories live. Discover now