XVIII - Quase Rei

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Os olhos claros e brilhantes do menino Loki ainda encaravam firmemente as pupilas escuras de Chloe quando uma mancha vermelha começou a espalhar-se por suas vestes de príncipe, devorando o tecido verde assim como Alioth devorava o Vazio, sugando cada indício de vida que pudesse ter existido.

A dor não foi imediata. Pelo contrário, o barulho do tiro foi o que mais lhe afetou de primeira. Não porque o som fora tão alto que fez seus ouvidos doerem, mas sim por causa de quem tinha apertado o gatilho.

Traição. Esta foi a primeira palavra que passou pela sua cabeça.

Por isso, assim que a bala de chumbo transpassou seu corpo como se ele fosse apenas um mero pedaço de carne, lançou seu olhar mais sentido e magoado em direção à atiradora, não desgrudando de seus olhos nem por um segundo sequer.

Ele queria que Chloe sentisse remorso. Ele queria que a mulher se sentisse mal pelo que fez. Esse sentimento que ele estava tendo, entretanto, ainda poderia ser tachado de hipócrita. Não era ele quem sempre traía as pessoas?

De início, o que Loki sentiu foi um grande impacto na região atingida, como se algo muito pesado estivesse tentando abrir espaço entre seus órgãos, mas sem chegar à provocar uma sensação dolorosa. Logo depois, com o aparecimento do sangue, uma dormência enorme tomou conta de seus sentidos, causada pela falta de irrigação sanguínea no local.

Foi então que surgiu a verdadeira dor, derivada do buraco em seu estômago. Era uma queimação enorme, insuportável, como se um ferro quente tivesse sido fincado até o fundo de suas entranhas. 

Foi nesse momento que suas pernas fraquejaram, obrigando-o a cair de joelhos. Suas mãos apertavam o ferimento com o intuito de fazer com que a queimação diminuísse de algum jeito, o que, infelizmente, não acontecia.

- Mas que porra, Chloe. - Foi o que ele disse de dentes cerrados, quase quebrando sua arcada dentária de tão forte que mordia.

Ele olhou pra baixo, avistando suas mãos vermelhas. Nem notara quando abrira mão de Laevateinn.

Alguém tocou em seus ombros, falando alguma coisa que o garoto não conseguiu entender. E ele nem se esforçou para entender. Dane-se o mundo ao redor.

As imagens do tiro não paravam de se repetir em sua mente confusa. Se tivesse sido um pouquinho mais rápido, ele poderia ter redirecionado a bala. No entanto, assim como o Presidente, o menino não achava que Chloe iria realmente atirar nele primeiro para atingir o político. Ele estava completamente despreparado para uma reação dessas. Todos estavam.

Inclusive o Presidente.

Uma figura borrada - provavelmente por conta das lágrimas involuntárias que teimavam em escorrer de seus olhos - entrou em seu campo de visão. Era Ariana. Seus lábios se mexiam repetidamente. Parecia falar algo importante.

Pivete... Croki... Fugir... Presidente... Apenas palavras soltas chegavam aos ouvidos do menino. Sua cabeça estava enevoada, leve como uma pluma.

– Hey, pivete! Vamos, se concentre.

– Eu estou com um buraco no meu estômago, Ariana. Que caralhos você quer que eu faça?!

– Você fica com a boca suja quando está com dor, não é?

Ele tinha sido traído. A pessoa em quem ele mais confiava tivera coragem de arriscar a vida de Loki para atingir sua variante estúpida. Agora ele se encontrava completamente vulnerável, com suas fraquezas expostas como roupas em uma vitrine. Loki não xingava quando estava com dor, mas sim quando estava com raiva.

– Escuta, nós temos que sair daqui. Croki conhece uma passagem escondida que leva para...

Mas o rapaz parara de escutar. Tudo ao seu redor ficou preto.

Before Being King - Kid LokiOnde histórias criam vida. Descubra agora