► ᴏ ᴘᴇsᴏ ᴅᴀ ᴄᴏʀᴏᴀ

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O peso da coroa~


Mare Barrow


O peso da coroa faz meu pescoço doer conforme caminho pelos corredores do Whitefire a passos largos e apressados. Atrás de mim, ouço os burburinhos da corte que abandonei às escondidas, ainda não cientes do meu desaparecimento.

Bom, penso, assim ninguém vai me impedir de cumprir meu objetivo.

Continuo andando sem olhar para trás, minha bússola interna me guia em parceria com minha memória pelos corredores. Vire à direita, siga em frente por quatro portas, vire à esquerda na bifurcação e continue, repasso as instruções que me forcei a estudar algumas semanas atrás, me passando por uma prateada nobre, Lady Mareena da Casa Titanos. Uma casa caída, para um sangue caído. Demorei para perceber esse detalhe quase irrelevante no plano de Elara, assim como para perceber muitas outras coisas à minha volta.

À medida que caminho sinto o ruído das câmeras me perseguirem. Me admira não terem me submetido a usar pedras silenciosas nos pulsos, imagino que essa seja só mais uma maneira ardilosa dela me provocar. Nós estamos no controle, garota elétrica. Você não passa de mais um rato de sangue vermelho incapaz de nos vencer. Porque não posso desativar nenhuma câmera sem que ela saiba e, efetivamente, invente alguma mentira para me condenar à execução.

Não que eu sinta medo dela, a morte. Mesmo quando estava presa no Ossário, pouco antes de tudo acontecer, não sentia medo de lutar na arena e morrer, esse era um destino em Palafitas com o qual eu já estava conformada. Ainda sim, não acho que eu deva morrer por idiotices como desafiar a rainha Merandus, por isso tento não me concentrar na sensação de estar sendo vigiada e finjo normalidade.

Há um tempo que me focar em qualquer coisa ao meu redor só tem gerado angústias e ira, não posso me dar o luxo de esquecer porquê escolhi estar aqui. Apesar de eventualmente fugir... como estou fazendo.

Os corredores e saguões foram bem decorados para as festividades recentes. As pilastras e ornamentos da arquitetura carregam as cores da Casa Calore, como de costume, mas estão muito mais espalhafatosas com todas as bandeiras, fitas e, claro, as cores da Casa Titanos misturadas entre elas. Minhas cores. Vermelho e lilás, preto e prata, uma união.

Olho os arredores do corredor quando chego ao meu destino. À esse ponto, o luar começa a se derramar prateado por entre as janelas, a luz suave me permite ver o suficiente para saber que estou sozinha e adentro o cômodo sem dar a chance de alguém me impedir.

Lembranças perpassam meus olhos quando piso dentro de uma das inúmeras salas de visita do palácio.

Há cadeiras esculpidas em madeira, com adornos em dourado e estofados de veludo preto distribuídas em volta de uma pequena mesa de vidro, o chão é revestido por um carpete vermelho rubro, como se tivesse sido tingido pela cor do sacrifício de milhões de vermelhos que morreram na guerra; as cortinas, de um preto denso, estão amarradas com cordas douradas permitindo que a luz prateada da lua banhe o centro e as paredes de todos os lados exibe placas de ébano, trazendo um ar rústico para o cômodo. Apesar disso e de todas as decorações que fazem menção a Casa Calore, meus olhos sustentam a prateleira de livros disposta no canto inferior esquerdo da sala e meu peito se aperta com as recordações que ela me traz, de quem me traz.

Pensar em Julian e em como não posso ajudá-lo na situação que está é um dos pesadelos que me perseguem sempre que deito minha cabeça nos travesseiros. Não só ele, toda a sala me recorda de alguma pessoa com quem falhei. Gisa, minha família, Farley, a Guarda, Kilorn, Lucas, Cal...

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