► ᴠᴀʟsᴀ ᴅᴏ ᴘᴏᴅᴇʀ

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Valsa do poder~



Maven Calore


Mare e eu deveríamos nos encontrar antes que a valsa iniciasse, mas não me surpreendo quando, em seu lugar, um dos sentinelas da guarda pessoal que designamos para mantê-la sob vigilância surge dizendo-me que a perderam de vista.

Odeio quando ela faz isso.

Neste momento, enquanto o soldado informa sua própria incompetência, penso que minha mãe estava certa ao dizer que três sentinelas para escoltar Mare Barrow não eram o suficiente para que a mantivéssemos sob controle. E sinto o gosto da derrota salpicar minha língua por ter de admitir isso a mim mesmo quando ergo minha mão direita interrompendo o relatório e dispenso o soldado com novas ordens de manter-se atento para caso ela apareça.

É claro que se eu quiser algo bem feito, terei de fazer eu mesmo. E, de preferência, antes que minha mãe descubra e queira resolver sozinha.

Por um breve instante, sinto o arrepio percorrer minha espinha quando rumino a possibilidade e tento afastar-me da sensação. Já não é suficiente quando ela realmente acontece, não preciso que surja em meus pensamentos.

Volto, portanto, a realidade e direciono novas ordens aos meus soldados para que me deixem sozinho. Sem questionar, todos me obedecem e se afastam, dando-me o espaço que preciso para andar livremente pelo salão à procura da garotinha elétrica. Minha noiva.

Que não está presente na própria festa de noivado, penso e, em seguida, não consigo evitar o riso sarcástico.

Meus jogos mentais com Mare e nossa constante troca de farpas são minha principal fonte de entretenimento desde que ela fizera sua escolha no Ossário. Era claro que ela não estava me escolhendo por pura devoção, minha mãe garantiu que eu não tivesse esse tipo de esperança, mas, independentemente, não pude deixar de me deliciar com o rendimento dela, muito menos pude deixar de usar isso como uma desculpa para nossas intermináveis horas juntos ao longo da semana. É interessante analisá-la, a maneira como finge e mantém sua máscara firme mesmo quando nossas conversas, geralmente ambíguas, deixam as ameaças implícitas durante os jantares. Mare é uma boa mentirosa. Tenho que me dar esse crédito, fiz um bom trabalho. Por isso não me admira que consiga contornar seus guardas sempre que lhe convém a ideia de fugir.

Embora isso muito me cause dores de cabeça, quando elas já são frequentes o suficiente, os dois meses que se passaram têm carregado essa rotina. É irritante e infantil. E eu odeio quando faz isso. Porque significa que não estou tendo controle o suficiente sobre ela.

E significa que minha mãe vai ter quando quiser. Completo o raciocínio, mas não me prendo nele.

Continuo caminhando por entre os convidados, nobres das casas que nos servem e deslizo meu olhar atento por entre eles em busca de Mare. Tudo o que encontro são os olhares predadores dos que certamente estariam se aproximando se eu não estivesse com tanta pressa e os ornamentos que decoram o salão, bem como o resto do palácio.

O lustre cristalino iluminando o espaço do centro aos subúrbios pende ao lado das faixas entrelaçadas de vermelho e preto e do lilás e prata. As mesas dispostas próximas ao perímetro carregam as cores das respectivas Casas onde cada convidado Nobre deveria se sentar, mas a mesa na qual eu, minha mãe e Mare sentaremos mais tarde, e nos sentamos ao entrar no baile, se ergue junto ao palanque adornado nas cores da Casa Calore. Elevando-se sobre todos.

Olho naquela direção, na expectativa de encontrar minha mãe sentada ali ao lado de Mare, ambas com seus vestidos e coroas colocadas sobre a cabeça. Mas tudo o que encontro são nossos tronos vazios. Flexiono minha mandíbula contendo minha ânsia, minha raiva, e minhas chamas. Onde ela se meteu dessa vez?

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