Capítulo 34 - Apenas deixe ir

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Bruno e eu saímos do ginásio, do lado de fora, por incrível que pareça, é melhor para conversar.

O vento frio do final da tarde espalha meus cabelos, que estão soltos.

— Eu passei a noite toda pensando em como seria essa conversa — confesso — e em nenhum cenário ela viria após minha demissão.

— Garanto que eu também não imaginei que seria assim. Como eu disse lá dentro, eu vou conversar com Renan e ele vai te contratar de volta.

— Não, Bruno você não vai conversar com Renan, você não vai conversar com mais ninguém. Será que não percebe que tudo isso aconteceu porque você quis conversar? Com Anna, com Conte.

— Lá dentro você disse que a culpa não era minha, e aqui fora muda o discurso?

— Não estou mudando o discurso, a culpa não é sua. É minha. Eu achei que você tinha mudado, eu te dei um voto de confiança, eu me agarrei a você como se fosse um bote salva vidas. E eu precisei ser demitida para enxergar que a melhor coisa a ser feita nesse momento é deixar toda essa história no passado, que é o lugar dela. Você precisa me deixar ir, do mesmo jeito que eu vou te deixar ir.

— Acontece que eu não posso deixar você ir! — Bruno diz alto — Estela, você é o amor da minha vida. É a única mulher que eu amei de verdade, todas as outras não significam nada perto de você. Eu sou apaixonado por você, eu sempre fui apaixonado por você.

— É só isso que você sabe fazer, dizer! Já perdi as contas de quantas vezes eu ouvi essas palavras saindo da sua boca, mas as suas ações contrariam cada uma delas.

Não queria chorar na frente dele, mas nenhum de nós dois conseguiu segurar.

— Diz então o que você quer que eu faça para provar que eu te amo! Pode ser qualquer coisa, eu faço.

— Tem que ser espontâneo, você não pode fazer algo porque eu pedi ou para me agradar! Amar não é isso.

— Amar, para mim, é estar lá quando o outro precisa, e eu estive com você. Quando descobriu que a sua mãe tinha Alzheimer, quem estava do seu lado foi eu. Em todos os seus momentos de dúvida eu estive lá por você. E você também esteve comigo, quando eu pensei em desistir da carreira, quando eu achei que jamais pisaria numa quadra novamente, você estava lá. E amar é isso. Ser o conforto do outro. E nós somos o conforto um do outro.

— Sou muito grata por tudo que você fez, do fundo do meu coração. Não sei se eu aguentaria passar por tudo isso se não tivesse você comigo. Mas olha a nossa volta, quantas pessoas ferimos em nome desse amor? Eu não quero ferir mais ninguém.

— Então porque está ferindo a você e a mim? Estela, não faça isso. Por favor, não termine as coisas dessa forma.

— As coisas já estão terminadas. Estou cansada de amar sozinha, de não poder virar as costas sem que você corra para os braços de outra.

— Não aconteceu nada demais naquele jantar!

— Claro que aconteceu, o jantar em si! Ver vocês dois, juntos, parecendo um casal, quebrou todos os meus caquinhos. Os quais você tinha ajudado a colar. Tem noção do que é achar que encontrou a pessoa com quem vai passar o resto da vida? Pois foi o que eu senti quando te reencontrei. Naquele momento que te vi eu deixei tudo pra trás. O namorado amoroso, os problemas com um pai negligente, a mãe que se quer lembra quem eu sou. Tudo isso se tornou pequeno porque eu achava que tinha você! Mas quando te vi com Anna, me dei conta de que não tenho, nem nunca tive, e porque você não quer ser meu.

Ele fica em silêncio, no mais completo silêncio. As lágrimas escorrendo pelo rosto, que está vermelho — ainda mais vermelho.

Não temos mais nada a dizer um para o outro, então, saio.

 Red Zone - Bruno Rezende Where stories live. Discover now