Capítulo 22 - Dedo Machucado (Final Alternativo)

166 10 4
                                    

As semanas passaram rápido. Murilo iniciou, o que apelidou de "operação Alzheimer".

Pegou todos os quebras cabeças, jogos de lógicas, palavras cruzadas e tabuadas que eu tinha comprado, e começou a usar.

Ah, e também decidiu resolver as contas da época de faculdade, era engenheiro aeroespacial. Matemática era o que não faltava nos cadernos antigos.

O período na Eslovênia foi muito bom, era um país que eu ainda não havia visitado, e consegui conhecer alguns lugares.

No trabalho, foi tenebroso.

A Argentina conseguiu perder dois sets para o Egito, e por Deus, eu queria saber o que estava acontecendo com aquele time.

Comecei a questionar se eu era a pé frio.

Brasil ia bem, fui trabalhar lá: perdemos o bronze.

Argentina ia bem, fui trabalhar lá: tiveram uma campanha ruim na VNL, o Mundial estava sendo complicado e conseguiram levar pro tie break um jogo contra o Egito.

Acordei e a primeira imagem que vi foi Conte, adormecido ao meu lado. Não dormia em cima de mim, como de costume.

Desde o dia que comentei do inchaço nos seios, ele nunca mais fez isso. A única coisa que continuou, foi suas reclamações por eu não procurar um médico.

Não tinha tempo.

Quando voltasse ao Brasil eu me consultava.

A incontinência urinária havia diminuído bastante, ainda ia um número de vezes alto ao banheiro, mas nada que eu não pudesse lidar. E os embrulhos no estômago sumiram, duraram apenas três dias.

Deve ter sido algo que comi.

Passei meus dedos pelo cabelo dele, para minha tristeza cortado, e nem a barba tinha mais. Era só o bigode, e o sinal dos pelos crescendo.

Eu o conheci assim, no Taubaté, mas depois que conheci a versão cabeluda e de barba, não quis mais saber das outras.

Essa eu só tinha durante as férias.

— Temos um problema sério. — Resmungou, abrindo os olhos. Sua voz estava um pouco rouca. — Acostumei com você me acordando assim.

— Isso é um problema? — Continuei o carinho no que restava do cabelo dele. Dolorido lembrar que tinha tanto volume aqui.

— É sim, porque eu quero todo dia.

— Se tivesse todo dia você não daria valor, aproveite enquanto tem.

Ele inclinou a cabeça para o lado, e agora eram suas mãos que estavam no meu cabelo, passeando da raiz as pontas.

— Marcou o médico?

— Aqui na Polônia?

— É.

— Não, eu nem falo polonês.

— Mas fala russo, e eu sei umas coisas posso te acompanhar.

— Não pode, está no meio do campeonato. Oitavas de final com a Sérvia hoje.

A Argentina, apesar dos altos e baixos — mais baixos do que altos — chegou as oitavas, quem poderia imaginar? Eu estava nervosa para o jogo.

Os sérvios eram bons, altos, verdadeiros "armários", seria interessante vê-los jogar contra eles.

— Tudo bem, mas eu vou no médico com você, no Brasil, na Argentina.

— Como quiser, senhor Conte.

 Red Zone - Bruno Rezende Donde viven las historias. Descúbrelo ahora