Capítulo 1

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Marcones Toskiart dizia que jovens donzelas deviam se comportar. Agir conforme a sociedade esperava delas, sendo angelicais, com seus futuros já planejados, de acordo aos desejos dos pais e familiares: um crescimento saudável e sereno, com bastante etiqueta, estudos selecionados, aparições em eventos sociais, até o dia mais esperado chegar, o casamento.

Esse pensamento, entretanto, só não era adequado à sua filha, Daisy.

A jovem desde pequena cresceu ao redor de homens grosseiros, fortes e machucados, sabendo distinguir de longe o cheiro do sangue, da morte e do caos. As batalhas poderosas e cansativas para sobreviver aos longos dos anos e ter autoridade...

Ao contrário das outras garotas, Daisy não tinha muita noção de como se comportar em uma mesa, muito menos sabia sobre vestidos. Usou armaduras por tanto tempo que somente pensar naquilo em seu corpo causava estranheza demais. Também não sabia matemática básica ou tais baboseiras de etiqueta, já que nunca cresceu com o objetivo centrado em ser uma doce donzela, e sim uma arma, criada para ceifar, em nome do pai, o Rei de Rosivan.

Mas se lhe perguntassem sobre estratégia, os melhores pontos para matar alguém ou como ser rápida o suficiente para conseguir salvar sua vida, ela com certeza responderia em questões de segundos, com bastante técnica e sabedoria.

Essas eram suas qualidades. Sobreviver, matar, vencer guerras, expandir ainda mais territórios, custasse o que custasse. Porque esse era o seu posto como filha bastarda do rei. Essa era sua forma de demonstrar respeito e gratidão por ele ainda tê-la permitido viver confortavelmente.

E ela sempre se esforçou. Muito. Para adquirir técnica, ser aceita como alguém relevante, alguém tão admirável e inquebrável quanto Marcones.

Apesar de todas as tentativas, o respeito, que considerava ter conquistado diante sua insistência, era na verdade, medo.

Daisy sabia o quanto aterrorizava todos do palácio. Cada pequeno passo seu pelos corredores travava a respiração de quem estivesse perto, fazendo-os agir cuidadosamente. Como uma bomba prestes a explodir. Ela também sabia que seu nome era pronunciado com uma maldição entre todos de Rosivan.

"Aquela garota pode estar vencendo batalhas em nome do pai agora, mas você verá, ela será a maldição deste lugar algum dia.", ouvira uma vez num bar, enquanto estavam em viagem para casa.

Um velho bêbado tinha uma mulher sentada em seu colo. As roupas velhas e nojentas dele estavam rasgadas. Seus dentes amarelos enquanto esbanjava um sorriso presunçosamente e dava goles e mais goles.

Naquela época, a princesa estava em seus recém quinze anos e ainda tinha esperanças de ser vista uma boa pessoa. Com o tempo, percebeu que não importava o que fizesse, ou como agisse, nada mudaria os olhares julgadores que recebia diariamente pelo castelo. Ou os comentários machistas de homens tentando intimidá-la.

Mas se o seu pai sentia-se orgulhoso dela, orgulhoso de seus feitos, de suas incontáveis vitórias, no final, talvez, nada disso importasse, realmente. Daisy era capaz de aguentar qualquer outra mísera coisa. Pelo menos, é o que ela pensava.

— Princesa, cubra mais o seu rosto.

Ao seu lado, a voz inesperadamente próxima, vinda de seu companheiro de guerra, tirou-a do transe. Ela olhou para ele, em silêncio, as órbitas verdes de Gaven analisando-a, e ajeitou o capuz, mantendo-se em anonimato enquanto caminhavam.

Ainda não estava tão tarde, mas em breve, o sol dormiria, e ambos precisariam voltar para o palácio, como foi informado que ocorreria, antes que o rei mandasse seus homens atrás da garota, no temor que algo infeliz tivesse ocorrido com ela durante o caminho.

The Stolen KissWhere stories live. Discover now