Capítulo 3

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Daisy tinha uma banheira com água morna lhe aguardando tentadoramente quando entrou em seu quarto. Sem contestar, ela começou a retirar suas roupas, jogando as armas no chão e indo de encontro àquele líquido tão desejado.

Pousou uma das mãos dentro, um arrepio transitando pelo tronco. Então se aproximou um pouco mais da beirada, introduzindo primeiro os pés, um de cada vez, até afundar o corpo completamente, se permitindo relaxar.

Quando mais nova, eram as criadas que lhe banhavam. Tiravam suas roupas às pressas, esfregando cada centímetro de sua pele com rispidez e penteavam suas longas madeixas castanhas como se ela tivesse cometido um pecado mortal. Ela detestava, tanto, que a tortura durou somente até os seus onze anos de idade, quando decidiu que faria tudo sozinha, apesar do destontentamento das mulheres da corte.

Mas o que poderiam fazer? Forçá-la não era mais uma opção, visto que naquela época, a jovenzinha já estava sendo muito bem treinada para ser uma arma.

Imagens daquela senhora surgiram em sua mente ao completar o sangue de seu machucado se misturar com aquela transparência e jogou um pouco de água no rosto pálido. Flashbacks que tanto odiava: os da morte.

E pensou consigo mesma: Poderia ter sido ela, se aqueles caçadores não tivessem errado a pontaria. Era para ter sido ela, aquela cujo não estaria mais respirando nesse exato momento, aquela com uma flecha bem no meio do peito e sangue saltando entre a boca.

Ao invés disso, tudo que conseguiu foi um mero arranhão no braço.

Daisy não demorou muito no banho, apesar do desejo absurdo de se manter ali por mais algumas horas. Quando a porta bateu levemente e uma criada pediu passagem para entrar, já estava terminando de pôr suas calças e tinha até feito uma trança rápida no cabelo.

Haviam alguns vestidos no armário, sua madrasta costumava colocá-los lá na esperança de vê-la os usando algum dia, não porque amava e desejava torná-la mais feminina, simplesmente eram apenas sobras de Elyane. Ela apreciava tanto ver Daisy com os restos.

Para o azar da mulher, entretanto, a garota não tinha tal interesse.

— Perdão pela intromissão, princesa. — falou, segurando algo cuidadosamente entre as mãos pouco agitadas. Uma pequena caixa preta, com um elegante laço brilhoso no centro. — O rei Markones ordenou que eu trouxesse isso. É para a senhora.

Erguendo uma sobrancelha, desconfiada, pegou o objeto, abrindo-o.

— Ele disse mais alguma coisa? — Daisy observou o colar que estava ali.

Era delicado e galante, com alças finas e um ponto de luz cintilante no centro. Aquela pequena pedrinha valia fortunas.

— Acho que ele espera que a senhora o use no jantar.

— Acha? Daisy encarou a mulher, retirando a jóia da caixa

Suas palavras embolaram umas nas outras quando foram pronunciadas:

— Quer dizer, me... me desculpe, eu.. não sei.

Era uma chantagem?, pensou consigo mesma.

Seu pai, que mais do que ninguém conhecia seus gostos tão bem, estava tentando chantageá-la com jóias? Ela sorriu, cética demais. Só havia unicamente um objeto que ela desejava ter. E sequer era para si mesma.

— Eu tenho uma dúvida — indagou, ainda de olho na caixa.

— Claro, pode falar, senhorita.

— O jantar já está pronto?

— Quase — respondeu, vendo-a suspira impaciente. Por isso, continuou, numa tentativa de aliviar o estresse de Daisy: — Mas acredito que poderá descer em cinco minutos, estão terminando de pôr a mesa.

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