Nota 5 - Água e Docinhos...

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Este capítulo pode conter gatilhos: ansiedade, insegurança.
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Já sem roupa alguma, voltei ao meu quarto, pegando meu celular em cima da cama, só então, indo até o banheiro, me permitindo trancar a porta. Novamente minha mente se preencheu dos mais diversos pensamentos negativos e sufocantes, memórias perturbadoras sobre o colégio, situações que eu adoraria esquecer para sempre. Quando percebi, meus olhos já estavam cheios d'água novamente.

Com o celular em mãos, coloquei uma das músicas da minha playlist, o aleatório adorava me pregar peças, em segundos, pude reconhecer a música, Drown - Bring Me The Horizon, suspirei, e fechei os olhos me apoiando na pia, meu corpo todo coçava, sabia que aquilo não era alergia, mas sim a porra da ansiedade que corroía cada parte do meu corpo diariamente, me fazendo sentir fraco e eternamente instável, malditos traumas que essa vida trancado em casa me trouxe. Ainda que para o meu bem, me sinto cada dia pior sobre cada detalhe disso.

“O que não te mata, te faz querer que estivesse morto
Tenho um buraco na minha alma crescendo mais e mais e eu não consigo aguentar
Mais um momento deste silêncio, a solidão está me assombrando
E o peso do mundo está ficando mais difícil de suportar...”

A letra invadia o espaço, e quanto mais eu ouvia, mais estranho era o sentimento que corria por meu corpo. A necessidade dos arranhões por minha pele eram constantes, minhas unhas estavam relativamente grandes, então, sabia que bastaria um arranhão para eu me machucar. Subi as mãos para os cabelos, longos, os puxando com um pouco de força, soltando um suspiro de estresse abafado, fechando os olhos.

— Eu só queria poder trocar de vida... - sussurrei para mim mesmo, soltando os cabelos.

Entrei no box do banheiro, liguei a água na temperatura mais quente, qualquer pessoa normal sentiria queimar por conta do calor que fazia e o quanto aquela água estava quente, a fumaça deixava evidente, mas, a dor da água quente batendo em minhas costas, me fazia sentir vivo, e lembrar, que tudo isso não era mais uma perturbação da minha mente, mais um sonho, mais um pesadelo do qual eu não poderia acordar. Fechei os olhos, sentindo a água escorrendo por minha pele, enquanto o vapor preenchia o espaço.

Enquanto a fumaça do chuveiro se espalhava, as memórias de quando eu roubava os cigarros do meu pai, quando ele ainda era um pai presente, correram por mim, era relaxante a sensação da pressão caindo e a mente distante, mas, nunca tive coragem de comprar para mim mesmo, me sentiria culpado demais por isso, ainda que sentisse falta de um vício que sequer era meu.

Lavei os cabelos como podia, ainda que meu couro cabeludo estivesse ardendo um pouco por conta de coçar demais, acabava machucando a raiz vez ou outra, e eles também estavam bastante grandes, e o costume de dormir as vezes com ele molhado era péssimo, mas, nem sempre conseguia evitar, tinham dias que só um banho, lágrimas e dormir até não aguentar mais resolveriam meus problemas, ou, me permitiria fugir deles ainda que por apenas algumas horas.

Finalmente terminei o banho, torcendo os cabelos que quase caiam nos ombros, e enrolando com uma toalha branca macia, enquanto pegava outra para enxugar o corpo, não iria sair, então, sequer passei perfume e deixei para escovar os dentes após conseguir comer alguma coisa, isso, se eu conseguisse.

Voltei para o quarto naqueles passos cansados de quase sempre, e resolvi abrir um pouco a janela, as cortinas brancas voaram para dentro assim que abri, uma brisa gostosa invadiu o quarto, mas, sabia que logo teria que a fechar, mamãe não gostava que deixasse as janelas abertas muito tempo, sempre reclamava, dizia que o vento bagunçava as coisas, e podia entrar muita sujeira ou bichos. Revirei os olhos com meus próprios pensamentos, andando até o closet, ainda que tivéssemos muito dinheiro, e eu pudesse comprar das mais caras roupas que gostasse, nunca me senti muito confortável em todo esse luxo, sempre me fez sentir deveras deslocado. Mesmo que moda fosse meu sonho, nem sempre eu gostava de me vestir como se tivesse saído direto da capa de uma revista.

Golden Gate (L.S.) - HiatusWhere stories live. Discover now