Capítulo 39

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Eu nunca senti a dor do fogo, mas sempre escutei que a pior morte que existe é ser queimado vivo, que apenas cinco segundos com a pele em contato com o fogo já é o bastante para provocar uma dor terrível, mas mesmo nunca tendo sentido isso eu já sabia que tudo o que eu ouvia não era nada comparado a essa dor que sinto agora. Não tinha como morrer queimado ser pior que isso.

Aqueles gritos agonizantes que ouvia nos filmes de época em que uma pobre coitada era acusada de bruxaria e condenada a queimar na fogueira não pareciam nada em comparação aos gritos que eu dava.

Não sabia onde estava, ou quanto tempo tinha se passado desde o que aconteceu com Maria. Não conseguia ouvir nada além dos meus gritos que não paravam nem por um segundo.

As vezes, eu sentia meu corpo sendo movido, mas depois de sentir como se meus olhos estivessem sendo arrancados quando tentei abri-los para ver quem era, eu desistir de tentar ver qualquer coisa ao meu redor e apenas fiquei com eles fechados o tempo todo.

Teve uma hora que a dor estava tão excruciante que mesmo sem saber se tinha alguém por perto, eu gritei com todas as minhas forças, implorando para que me matassem. Eu pensei em todas as pessoas que machuquei e matei, mas mesmo assim não me parecia justo, mesmo com tanto sangue em minhas mãos eu ainda não achava que merecia passar por isso. Não conseguia pensar em ninguém que merecesse.

Com o passar do tempo, a dor só foi aumentando, mas por incrível que pareça, eu parecia estar um pouco mais consciente sobre o que acontecia ao meu redor.

Várias vezes senti um jato de água ser jogado no meu corpo e logo em seguida ouvia o chiado da água sendo evaporada. De vez em quanto ouvia vozes, mas não fazia ideia de quem eram ou o que falavam e quase sempre sentia minha mão ser apertada com força.

Eu realmente não sei quanto tempo passou, mas depois do que pareceu anos reparei que as pontas dos meus dedos dos pés já não doía mais.
Isso pode parecer insignificante, mas saber que tinha uma parte do meu corpo que não doía me deu vontade de chorar. Eu tentava me concentrar nos meus dedos e ignorar o resto, claro que eu fracassei, mas pelo menos me ajudou um pouco a me distrair.

Acho que se passou alguns minutos quando uma dormência lentamente começou a subir pela minha perna e percebi que o topo da minha cabeça também já não doía mais.

Eu estava quase gritando de felicidade por achar que finalmente tinha acabado, quando pareceu que toda a dor que tinha se espalhado pelo meu corpo se juntou e atacou apenas meu peito. Eu consegui a ouvir meu coração bater desesperado enquanto era esmagado por essa agonia.

Acho que de todas os gritos que dei desde que isso começou, não se comparam ao que soltei nessa hora. Nada além do meu peito doía, mas eu desejei que a dor voltasse a se espalhar pelo meu corpo apenas para que isso parasse.

Isso durou acho que uns minutos, quando meus sentidos foram se perdendo. Já não me debatia mais porque não conseguia mais me mexer, não conseguia mais ouvir ou sentir qualquer cheiro, e pouco a pouco senti que ficava cada vez mais difícil de se respirar.

Então é assim que é morrer...

Foi a última coisa que pensei antes de sentir meu coração bater pela última vez.

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Eu não sei como isso funciona, mas sabia que estava errado. Não vi nenhuma luz, não vi minha vida como um filme, não ouvi uma voz me chamando nem nada do tipo.

Girl on Fire • Jasper HaleWhere stories live. Discover now