Capítulo 6 - Que foi?

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— Boa tarde. — A doce voz do presidente do grêmio ecoou pelo auditório lotado. Porém, mesmo fazendo uso de um microfone, a saudação do rapaz foi facilmente ignorada em meio ao tumulto de vozes. Ele tentou outra vez. — Boa tarde! Porra. — Falou mais alto, mas conteve o palavrão num xingamento baixinho. Conseguiu domar a barulheira por alguns instantes. Respirou fundo, sorrindo falso. — Me chamo Huang Renjun. Sou presidente do grêmio e representante do setor de cultura.

— Boa tarde. — O aluno ao seu lado prosseguiu. Os dois estavam de pé no centro do palco, tentando passar um comunicado. — Eu sou Lee Jeno, capitão do time de basquete e representante do setor de esporte. — Finalizou com um de seus sorrisinhos famosos, que causou uma onda de gritinhos estridentes na plateia. Renjun revirou os olhos.

Continuou a falar, com um pouco menos de doçura.

— Nós dois estamos aqui hoje para anunciar qu-

— Vocês vão ter um filho! — Um grito o interrompeu.

A voz havia partido direto das últimas cadeiras do auditório. Foi seguida por uma série de risos espalhados pelo lugar.

Renjun nem precisou refletir sobre quem seria o responsável por aquilo. Lee Donghyuck tinha um tom inconfundível em sua voz. Além disso, os únicos idiotas que não levavam seus pronunciamentos à sério eram seus próprios amigos.

Queria matá-lo, mas deixou essa tarefa para a senhora Yimei, que estava em pé ao lado da fileira onde os baderneiros se sentavam.

— Lee Donghyuck, se comporte! — Repreendeu a professora de artes, se inclinando na direção do rapaz. Em seguida, abaixou a voz e chegou mais perto, aproveitando que o auditório havia se tornado barulhento de novo. Sua voz soou como um sussurro bravo, porque ela era meio gente boa. — Caso vocês não tenham percebido ainda, o diretor está aqui do lado. — Usou seus olhos para indicar o senhor de idade encostado em um dos pilares mais próximos.

Donghyuck arregalou os olhos ironicamente nos primeiros segundos da bronca.

Depois, abriu um sorrisinho debochado.

— Poxa, professora... — Cantarolou. Apontou para uma de suas orelhas. Forçou uma voz rouca. — Relaxa. Acho que nessa altura da vida, ele já não ouve mais nada.

A professora arregalou os olhos diante daquele absurdo. Mal conseguia reagir com palavras.

— Além disso, noona, Hyuck não pode ser suspenso por enquanto. Ele já está suspenso. — Jaemin massageou os ombros do amigo. Donghyuck estava de olhos fechados com um sorrisinho nos lábios, apenas assentindo.

Enquanto isso, Renjun voltava a pedir desesperadamente por silêncio em cima daquele palco. Chenle conseguia ouvi-lo surtar mesmo que estivesse de fones de ouvido, jogando Guitar Flash. Contava os segundos até aquele microfone ir parar na cabeça de alguém.

— Como eu ia dizendo... — Renjun se aproveitou de outra brecha nos ruídos. Agora, nem o ânimo falso se fazia presente em sua voz. Só sentia cansaço. — Nossos setores, juntamente com os professores de Linguagem Artística e os treinadores do colégio, serão os responsáveis pela última atividade multidisciplinar do semestre.

Um coro decepcionado percorreu o auditório. Jeno arregalou os olhos na direção do gremista principal, negando com a cabeça.

— Do jeito que ele fala, parece complicado, mas é só uma exposição com o tema das Olimpíadas. — Tranquilizou os estudantes. — Cada sala vai escolher um esporte e fazer uma pesquisa sociocultural sobre ele. Falar sobre os atletas, as medalhas, o impacto no país, essas coisas.

O barulho voltou com força. Era possível ouvir comentários horrendos sobre o trabalho, xingamentos, reclamações, professores tentando controlar a bagunça e algumas poucas pessoas conformadas tratando escolher seus esportes.

Renjun roubou o microfone das mãos do atleta.

— Antes que me xinguem, a ideia foi toda do Jeno! — Expôs, acima da barulheira. O moreno rapidamente tentou recuperar o objeto, mas Renjun dominava a força do ódio, e não ia soltar aquilo antes de finalizar: — Ele topa tudo por uns pontinhos extras em Artes!

Então, o palco do auditório também passou a fazer parte do caos. A microfonia estava estourada nas caixas de som enquanto os dois representantes gritavam um com o outro e por pouco não partiam pro combate físico.

— Acho que já está de bom tamanho, meninos... — Interviu o treinador do time de basquete, se aproximando do palco.

— Calma aí, ainda não acabamos! — Jeno pediu, ofegante. Após muito sacrifício, o microfone estava de volta em suas mãos. — O trabalho voluntário pra montagem dos projetos começa hoje, depois da aula. Precisamos limpar as salas e arranjar espaço. E com "trabalho voluntário", eu quero dizer que vocês, brutamontes, serão obrigados a participar de toda a organização. — Apontou para Renjun e para os garotos sentados no fundo do auditório.

A fala foi recebida com uma salva de palmas pelo restante da escola.

— O que? Ninguém tinha me avisado sobre essa parte! — Renjun indignou-se, com olhos confusos e raivosos.

— São ordens do diretor, senhor Huang. — Comentou o segundo docente de Linguagem Artística, que estava no canto do palco.

— Mas isso é injusto, eu não fiz nada de errado esse mês!

— Você ia ter que participar de qualquer forma, por ser gremista. — O professor apoiou sua destra em um dos ombros do rapaz, num gesto de reconforto. — Já os seus amigos... você sabe.

— Ai, que merda. — Renjun cobriu os olhos com as próprias mãos.

— Professor, olha o tamanho dos braços desse infeliz. — Jaemin se colocou de pé na cadeira. Acusava Lee Jeno com o dedo erguido na direção dele. — Ele vale por quatro de nós. Não tem a mínima necessidade da gente ficar!

— Chorar não vai adiantar, Nana. — O atleta respondeu calmamente, com um sorriso um sorriso gentil nos lábios. — Mas talvez eu fique depois da aula só pra assistir vocês trabalharem.

Com isso, o auditório foi a loucura. Algo que não podia mais ser revertido.

Chenle continuava no celular, conseguindo pontuações surpreendentes com as músicas do Audioslave, enquanto escutava aquela desordem em segundo plano.

Quando os alunos já haviam sido dispensados, Renjun se aproximou deles.

— Vocês ouviram essa porra toda? — Perguntou.

Donghyuck passou uma das alças da mochila pelo braço.

— Pois é, ainda não tô acreditando que fizeram isso com a gente.

— Foda-se vocês! Eu não merecia isso. — Renjun corrigiu. Sua raiva foi substituída por frustração, aos poucos. — Que merda, eu ia sair com o Jisung... — Ele choramingou, olhando para o outro lado do auditório, onde o garoto estava sentado.

— Chama ele também. — Chenle comentou, simplório, sem tirar os olhos de seu celular.

Hã?

Em estado de choque, os outros três encaravam o garoto rabugento. Zhong Chenle só podia ter sido morto e substituído.

Desde quando ele sugeria que Jisung ficasse por perto?

Estranhando o silêncio, Chenle tirou os olhos de seu celular. Se deparou com uma reação perplexa no rosto de cada um de seus amigos. Eles eram ridículos.

— Que foi? — Perguntou, sem demonstrar sentimento algum. — Só ele vai alcançar as partes mais altas dos armários.

LET THE KIDS STAY RAW!Onde histórias criam vida. Descubra agora