Capítulo 3

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"Eu costumava fechar meus olhos e orar para ter outra família diferente
Onde tudo estivesse bem, uma que me pertencesse
Eu jurei que não seria como eles
Mas, olhando para trás, eu era só uma criança
Quanto mais eu envelheço, mais eu vejo
Meus pais não são heróis, eles são como eu
E amar é difícil, nem sempre funciona
Você apenas faz o melhor para não se machucar
Eu costumava ficar brava, mas agora eu sei
Às vezes é melhor deixar alguém ir"

Sasha Sloan, Older


As pessoas, normalmente, dizem que com o tempo iremos superar toda a dor e saudade ou que ficará mais suportável de conviver com elas

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As pessoas, normalmente, dizem que com o tempo iremos superar toda a dor e saudade ou que ficará mais suportável de conviver com elas. Porém, não é verdade, sinto que estou morrendo há anos e não senti nada melhorar com o tempo. Parece que estou presa em um loop infinito de vazio e dor, do qual não consigo sair por mais que eu tente.

Comecei a dizer a mim mesma que tudo ficaria bem, que era somente uma questão de tempo até eu começar a me curar. Todavia, quando percebi, tinha perdido a noção do tempo, da vida e dos meus sentimentos, me senti completamente perdida, passei a sobreviver ao invés de realmente viver.

Não lembro de como cheguei à esse ponto, não sei quando passei a me sentir insuficiente ou quando passei a não me importar comigo mesma. Não sei quando cheguei no ponto de querer estar em qualquer outro lugar ao invés da confusão de pensamentos que é minha mente.

Me pergunto diariamente, quando vou me sentir inteira novamente. Tem dias que sinto que vou conseguir me curar, em outros acho que nunca irá acontecer.

Contudo, passei a me agarrar a dor física para me lembrar que estou viva, e também às pessoas para me impedir de afundar, porém a única coisa que aconteceu foi que passei a me esconder de mim mesma, e me tornei ótima no quesito de fingimento. Pensei que se agisse de tal forma, talvez se tornasse realidade, mas não foi isto o que aconteceu.

Estou me alongando no estúdio de dança que obtenho em minha casa, ao som de Roses – Shawn Mendes, quando minha mãe aparece na porta. Kylie Starfall pode estar na casa dos quarenta, mas possui uma beleza lindamente jovial, parecendo mais nova do que aparenta.

Me levanto em alerta, porém cautelosa por dois motivos. O primeiro é que a mesma raramente vem me ver, e a segunda é a expressão séria em seu rosto. Ela me analisa de cima a baixo, e então finalmente diz:

– Você está seguindo a dieta, certo? Seu aniversário é daqui alguns dias e tem que estar tudo perfeito. Entende como isso é importante Tessa? – diz em sua frieza habitual.

Às vezes, me pergunto se um dia terei uma relação amorosa com meus pais. Quando eu era criança sonhava com isso, com o tempo perdi um pouco as esperanças.

– Sim, mamãe. Eu sei e entendo. Eu estou me esforçando o máximo para tudo ocorrer bem. – Kylie assente.

– Se esforce e treine mais querida, não queremos errar na presença de seu pai e das outras pessoas. – Suspiro abaixando minha cabeça, mamãe sempre pensando somente nas aparências.
– Presumo que saiba que Dominik voltou – seu tom amargo me chama a atenção e levanto minha cabeça para olhá-la atentamente. Anuo e a mesma prossegue: – Fique longe dele. Não quero saber ou ver que ambos voltaram a se encontrar como no passado. Além de que seu pai não gostará, você tem um namorado. Aja com respeito por todos e ignore esse garoto que trouxe somente problemas para nós. Não me decepcione Tessa, sua irmã não iria.

Eu mordo minha língua com vários pensamentos que não posso expressar. Queria poder gritar que não sou obrigada a agradar papai, porque o mesmo nunca esteve presente em minha vida. Que não sou e nunca vou ser perfeita como Aria era. Que Nathan, papai e nem mamãe podem definir com quem eu converso ou deixo de conversar, não quando eu dou mais do que recebo de todos eles.

Porém, a única coisa que faço é assentir, então a mesma se vira e vai embora me deixando com milhões de pensamentos não expressos. Sempre foi assim, todos ditando suas regras e eu sendo obrigada a aceitar todas sem questionar. Eu deveria tê-lo feito das primeiras vezes, mas a única coisa que queria era deixá-los orgulhosos, mostrar que não sou uma decepção completa. Então agi de acordo com as ordens de meus pais sem nenhum tipo de contestamento.

A criança que eu era, queria somente ter uma família onde sentisse pertencimento, por isso sufocou suas vontades e a si mesma para agradá-los. O que ninguém a contou é que tal coisa, nunca foi um trabalho de uma criança, pais não devem responsabilizar seus filhos caso o casamento não der certo, pais devem amar seus filhos independente de qualquer coisa.

Permiti que minha mãe ditasse suas regras, para fazer papai voltar para casa e me amar, como tinha que ser. Não percebi que fazendo isso, acabei perdendo partes cruciais de mim mesma, até chegar um momento que simplesmente fiquei cansada de viver e tão perdida dentro de meu próprio ser. Estou tentando me encontrar até hoje, porém sem resultados, por enquanto.

Além de perder a mim mesma, perdi minha voz... toda vez que penso em me posicionar contra algo, principalmente meus pais, sinto mãos sufocando minha garganta me impedindo de dizer tais palavras. Meus pensamentos dizem que é melhor ficar quieta que será o melhor para mim, que não vale a pena lutar porque não serei ouvida, pois se nunca aconteceu, não será agora que irá ocorrer tal coisa.

Em alguns livros e séries, percebemos que o fato de os vilões serem tão cruéis, foi porque não receberam amor suficiente de sua família. Não que isso justifique suas atrocidades, mas é a causa delas.

Pais não deveriam ser a causa da destruição de seus próprios filhos.

Lost SoulsWhere stories live. Discover now