12. Antagonistas - Heitor

45 3 0
                                    

Senti meus ossos gelarem no instante em que reconheci a capa preta e cabelos loiros que avistara pela última vez no dia em que Arminda, minha guardiã, fora morta.

Paulo era o nome do desgraçado. Repassara seu rosto em minha mente milhares de vezes durante meus pesadelos e noites insones. Eu sabia que não poderia ser ele, já que Briseis o matara ainda no mundo humano. Mas... parecia tão real.

Que brincadeira de mau gosto era aquela? Como os cristais poderiam saber?

Bem, de qualquer forma seria um prazer sentir, mesmo que falsamente, a sensação de matar aquele imbecil. Com todo o ódio que me tomava, a luta se tornaria fácil.

Sorri em direção ao mago.

— Ora, pensei que teria um desafio — avaliei. — Mas vejo que os cristais quiseram me dar um presente.

A capa pendulou às costas do homem quando ele girou, acompanhando meus movimentos, a ponta da espada direcionada para mim. Paulo continuou encarando, piscando duas vezes como se o que eu falasse não fizesse sentido algum.

Os olhos sob seus cílios eram negros como o breu e pareciam capazes de expor e perscrutar cada milímetro de quem eu era.

Tratei de me afastar dos pensamentos e dei um passo atrás, fornecendo ao melta espaço para o ataque. Estava entediado e precisaria ser rápido. Os grãos de areia já começavam a fluir no interior da ampulheta.

— Você morrerá.

A voz de Paulo era tão mecânica quanto a de um robô à medida que se lançava em minha direção.

Foi então que, por fim, o embate começou.

As lâminas se chocaram produzindo um imenso barulho metálico que ecoou por entre as pedras que nos cercavam. O mago investia de forma incisiva, à medida que eu tentava revidar, porém, ele era extremamente ágil, desviando do meu ataque com uma destreza invejável.

Tal como eu, parecia que ele obtivera treinamento com os pugnazes nos últimos dias. Eu não duvidava. Já que aquela era uma miragem criada pelos próprios cristais matruakys, seria óbvio que o estilo de luta fosse semelhante.

Um arrepio tomou minha espinha ao sentir a lâmina fria passar a milímetros de meu pescoço e me vi perguntando, entre um golpe e outro, se seria realmente possível morrer ali. Eu chutaria que sim.

Ainda que não estivéssemos utilizando poderes mágicos, as armas matruakys eram compostas por materiais que absorviam a essência de seus portadores. Logo, em um nixge, cortes feitos por aquelas espadas não sarariam rapidamente ou seriam tão indolores quanto se fossem causados por simples espadas de aço humano. Pugnazes também eram conhecidos por envenenar as pontas de suas armas, tornando os ferimentos ainda mais danosos.

O cantar das espadas fazia meus ouvidos doerem, mas tentei seguir firme na missão de atingi-lo. Algo que começou a me parecer trabalhoso — até demais. Me vi torcendo para que aos olhos dos que assistiam ao desafio eu não aparentasse tão desesperado quanto realmente estava.

— Está bem lento hoje, imperador — observou Paulo, aparando com agilidade um ataque em seu lado direito. — Se estivesse assim naquela noite talvez eu pudesse ter lhe atingido ao invés da sua guardiã...

— Idiota! — cuspi, mudando o trajeto da minha arma com um golpe à esquerda, mais baixo.

Dessa vez Paulo não conseguiu prever meu movimento e o fio da espada acabou indo de encontro à sua perna. Ele praguejou, dando um grande passo para trás. Sangue fluiu por entre o tecido negro das roupas num corte em sua coxa esquerda. Porém, aquilo não foi o suficiente para pará-lo.

Ventos do Outono - Livro 2Where stories live. Discover now