capítulo 3. maionese

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19h32 Hora da Costa Leste - 00h32 Hora de Greenwich 

Apesar de ter pedido o sanduíche de peru sem maionese, Maya vê a pasta branca saindo pelo pão ao levar a comida até uma mesa vazia. Sente-se enjoada. Tenta decidir se é melhor sofrer comendo aquilo ou tirar toda a maionese e parecer uma idiota. Decide parecer uma idiota e ignora as sobrancelhas levantadas do garoto enquanto disseca o jantar com a minúcia de um experimento biológico. Franze o nariz e separa a alface e o tomate, livrando os pedaços do sanduíche dos glóbulos brancos.

— Você faz isso muito bem — diz ele com a boca cheia de rosbife, e Maya concorda.

— Tenho medo de maionese, então me especializei nisso.

— Você tem medo de maionese?

Ela concorda.

— É meu medo número três ou quatro.

— Quais são os outros? — pergunta com um sorriso. — Quero dizer, o que pode ser mais assustador que maionese?

— Dentistas — diz Maya. — Aranhas. Fogões.

— Fogões? Então você não deve gostar muito de cozinhar.

— E lugares pequenos — diz com calma.

Ele inclina a cabeça para o lado. 

— Então como consegue entrar em aviões?

Maya encolhe os ombros.

— Fico com medo e torço para que dê tudo certo.

— Boa tática — responde ele, rindo. — Funciona?

Ela sente uma onda de ansiedade e não responde. É até pior quando esquece que vai entrar em um avião, porque o medo sempre volta com mais força, como um bumerangue fora de controle.

— Bem — diz o garoto, apoiando os cotovelos sobre a mesa —, a claustrofobia não é nada comparada com a maionesefobia, e você está se saindo muito bem. — Ele aponta para a faca cheia de maionese e pedaços de pão que ela está segurando. Maya sorri para ele agradecida.

Eles comem e olham para a televisão no canto da lanchonete. Estão mostrando informações atualizadas sobre o tempo. Maya tenta se concentrar na comida, mas não consegue deixar de olhar para ele de vez em quando. Sempre que o faz, seu estômago dá um salto que não tem nada a ver com a maionese que não conseguiu tirar do sanduíche.

Ela só teve um namorado na vida: Ian Lewis. Ele era atleta, descomplicado e infinitamente chato. Namoraram a maior parte do ano passado e, apesar de ela adorar vê-lo jogando futebol (gostava quando acenava para ela) e de gostar de se encontrar com ele no corredor da escola (ele sempre a levantava com um abraço) e de ter chorado com as amigas quando ele terminou com ela, era óbvio que o curto relacionamento foi um erro.

Parece impossível que tenha gostado de alguém como Ian quando existia uma pessoa como aquele garoto no mundo, alto e elegante, com os cabelos desarrumados, olhos castanhos e mostarda no queixo, como se fosse uma pequena imperfeição que faz com que o quadro todo fique mais bonito.

Será que é possível, de repente, descobrir o tipo de que você gosta, mesmo quando se acha que nem tem um tipo?

Maya amassa um guardanapo embaixo da mesa. Ela se dá conta de que o apelidou de "O britânico" em seus pensamentos, então finalmente se inclina para a frente, cata as migalhas do sanduíche e pergunta seu nome.

— Pois é — diz, olhando para ela —, acho que geralmente essa parte vem primeiro, né? É Thomas.

— Tipo Thomas Shelby?

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Where stories live. Discover now