Confissões

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Poncho deixa que as lembranças materializar em sua mente. Any escuta atentamente.


Três anos atrás.


Alfonso está sentado com um livro aberto em sua frente e tentava fazer cálculos de um exercício de matemática. Apoia-se com as mãos na mesa, tentando decifrar os cálculos. Sente um braço reconfortante abraçando por trás. É a sua mãe. Uma mulher elegante, alta de olhos verdes e cabelos pretos encaracolados.


- Alfonso... — A voz suave da mãe o alcança.


Poncho vira o rosto de lado e sorri para a única mulher que é perfeita. Ruth dá uma voltinha, perguntando-o se está bonita. Poncho sorri.


- Está linda mamãe!


Ela o beija no rosto.


- Estou indo entregar uma encomenda ao administrador do escritório. Seu pai sabe do se trata. Se ele ligar diga que já fui.


- Tudo bem.


Sua mãe se despede dele e sai do quarto, deixando um rastro de perfume. Poncho acha que ela exagerou no perfume. Mais não diz nada. Talvez ela não tivesse exagerado. Sua mãe era perfeita.


O tempo voa. Já era quase sete horas da noite. Ainda faltava revisar três páginas da matéria de matemática. Poncho se preocupa sua mãe ainda não tinha chegado. Seu pai já havia perguntado três vezes pela esposa.


Nesse momento o telefone começa a tocar. É do hospital. Sua mãe sofreu um acidente de carro e junto com ela estava um homem. O melhor amigo de seu pai. Aquele que vinha jantar de vez em quando em sua casa, que trazia sua esposa e filhos. Sentiu repulsa. Seu pai estava acabado, havia envelhecido cinquenta anos em uma noite.


Ruth não teve como negar que estava tendo um caso com o amigo do marido para os filhos. Poncho sentiu toda a decepção percorrer seu corpo e naquele momento alguma coisa se quebra, apaga-se para sempre. Ruth encontra o olhar do filho caçula e sente-se estúpida pelo que fez. Poncho sai do quarto do hospital, correndo. A ligação entre mãe e filho já era.


Naquela noite, não volta para casa. Dorme na casa de Christian. O amigo não faz perguntas. Mais sabe que algo aconteceu. Poncho tem o sono inquieto, algumas vezes acorda chorando. Na manhã seguinte, tomam café sorrindo, conversando de besteiras, compartilham um cigarro. Mais tarde, Poncho vai ao colégio e consegue até tirar seis na prova de matemática. Mas a partir daquele dia, sua vida muda. Nada foi como antes.


Após se recuperar do acidente, Ruth foge com o amante. Seu pai fica arrasado, adoece. E nunca mais teve saúde desde então.


Alguma coisa má aninhou-se dentro dele. Uma fera, um animal terrível fez o seu covil dentro do coração de Alfonso, pronto para sair a qualquer momento, atacar com raiva e maldade a qualquer momento. A partir daí a vida familiar torna-se um inferno. Silêncios e olhares fugidios. Sente raiva do pai, sente raiva da mãe, sente raiva dele mesmo.

SEM LIMITESWhere stories live. Discover now