Não confie em mim

433 66 28
                                    

— Tae... — Jimin viu Taehyung saindo de um dos quartos, fechando a porta com cuidado pra não fazer ruído. — O Boo...

— O Boo é meu irmão. — Ele andou na sua direção. — E essa é minha mãe. — Se sentou ao seu lado no tatame, com as pernas em lota.

— Eh? — Jimin piscou os olhos, repetidas vezes.

— Hm. — Taehyung apenas confirmou, sorrindo. — Ela trabalhava fazendo programa, que nem você. — Ele tirou o isqueiro do bolso da calça. — Eu nasci quando ela tinha vinte e dois anos. — Esticou o braço — O Boo ela teve com quarenta e quatro, mas... — acendendo as pontas dos palitos de incenso. — ...ela faleceu durante o parto. — Guardou o isqueiro de volta. — Isso foi um ano e meio atrás.

— Oh... — Jimin olhou pro quadro, e do quadro pra Taehyung. De fato, a semelhança estava ali, bem como no rostinho pequeno de Boo. — Um ano e meio... é desde que você trabalha no Cigarettes, praticamente.

— Eu tive que achar um emprego que pagasse bem logo. — Taehyung olhava pro rosto da mãe. — Eu fazia faculdade, sabe, nunca tive que trabalhar antes; mas daí... eu fiquei sozinho, de repente. — Seus olhos estavam brilhando. — Ela não era muito presente, e teve uma época em que eu fiquei bastante revoltado por isso. — Riu de si mesmo, amargo. — Mas a verdade é que ela nunca me deixou faltar nada, sabe? Eu não conheci meu pai, e o Boo certamente não vai conhecer o dele, mas minha mãe nunca me deixou sozinho, e eu quero que o Boo sinta isso. — Os incensos esfumaçando lentamente: um aroma melancólico de violetas enchendo o ar em torno deles. — Mesmo que ele me veja pouco por eu estar trabalhando, não quero que nada falte pra ele. O Boo é a única família que eu tenho.

— Eu... — Jimin baixou os olhos. — Eu sinto muito.

— Tudo bem. — Sentiu os dedos longos lhe bagunçando os cabelos. — Eu tenho que te pedir desculpas, falando nisso.

— Pra mim? — Levantou o rosto: os olhos amendoados pareciam úmidos ainda. — Você não fez nada de errado...

— Eu fiz. — Suspirou, descendo os dedos pelos seus cabelos até sua nuca. — Eu mal via minha mãe, porque ela não parava em casa, mesmo assim eu a vi chorando muitas vezes. — Acariciou ali, levemente: Jimin sentiu um arrepio gostoso descer-lhe a coluna. — Eu com certeza... acabei despejando meus traumas em você, então me desculpe por isso.

— Mh. — Negou com a cabeça, deixando que os dedos frios deslizassem da sua nuca pro seu pescoço. — Você só fez o que achou certo. — Então deitou o rosto nela, naquela mão de dedos compridos. — Você é forte; eu te invejo por isso.

Taehyung sorriu de canto, acariciando o rosto de Jimin na linha da mandíbula com o polegar. "Seja forte", foi o que sua mãe tinha lhe dito uma vez. Jimin ter dito que ele era o fez se sentir orgulhoso.

— Bom. — Se levantou, deixando antes uma última carícia no rosto bonito. — Agora que eu abri meu coração pra você, você tem que abrir o seu pra mim: vem, eu vou dar um banho em você.

— Eh? — Aceitou a mão que Taehyung lhe ofereceu, também se levantando. — Me dar banho...?...

— Sim. — O ergueu bem perto de si, passando um braço pela sua cintura. — Te dar banho.

— Nã-não precisa. — Viu suas bochechas tomando cor: aquilo era raro. — Eu posso ir sozinho...

— Você mal está conseguindo andar direito, não pense que eu não percebi.

— Mas...

— Eu não vou fazer nada, só quero cuidar de você.

"Mas esse é exatamente o problema", era o que Jimin pensava, já sem roupas embaixo do chuveiro quente, de frente para a parede de azulejos e com as mãos grandes de Taehyung deslizando pelas suas costas.

Cigarettes - VminWhere stories live. Discover now