(Ana)
Acordamos cedo em uma quarta chuvosa, prontas para pegar um avião para os Estados Unidos, onde iniciaríamos o nosso tour. Me visto rapidamente e envio uma mensagem para Mar, perguntando se ela iria ao aeroporto se despedir de nós, já que estaria indo embora hoje também. Ela me disse que estaria lá. De resto, sei que encontraremos Jeff, o guitarrista da nossa banda, Felipe (que vai conosco) e Paulo Novaes, incrível musicista e grande amigo nosso, aproveitando que estava em São Paulo com seu show.
Eu e Vi combinamos de contar sobre nós para todo mundo hoje, primeiramente para aqueles que veríamos no aeroporto. Sentia um bolo na garganta, com medo de como eles reagiriam. Vitória nota meu silêncio enquanto tomamos café, e segura minha mão.
- Ninha, vai dar tudo certo. Tu continua sendo tu, eu continuo sendo eu e toda essa gente que vamos encontrar sempre nos apoiou em tudo, até no que deu errado. Porque eles nos amam e respeitam as nossas decisões. - Ela para e bebe um gole de seu café. - E, se não respeitarem, a gente larga tudo e some. Esse era o plano inicial, mesmo. - dou risada. Vitória, como sempre, afasta minhas preocupações com a sua calmaria. Terminamos de comer e chamamos um Uber, prontas para ir.
(...)
- Meninaaas. - Estamos andando com as mãos entrelaçadas, distraídas, quando vemos o Felipe do outro lado do salão e corremos até ele. Ele nos cumprimenta, feliz. - Estão prontas? - afirmamos com a cabeça. Marcamos de nos encontrar no teatro em que fizemos nosso show de estreia, para então irmos para o aeroporto juntos.
- Nós vamos pros Estados Unidos parceirinha!!! - Vitória balança meus ombros enquanto dá uns pulinhos de alegria. Pulo junto, feliz. Quando paramos, percebo Felipe nos olhando, divertido. Ajeito meus óculos.
- Já tô até imaginando a gente caminhando no Central Park, tomando aqueles café de copinho, as folhas de outono caindo... - digo.
- Que outono o que minha linda? Lá agora é quase primavera. - Vitória ri da minha cara.
- Me deixa sonhar garota. - falo empurrando seu ombro, enquanto os dois riem.
(...)
- Felipe, precisamos falar contigo. - Vi diz e me lança um olhar rapidamente, antes de se voltar a ele. Ele olha de Vitória para mim, então para Vitória novamente.
- Podem falar, meninas. Aconteceu alguma coisa? - Ele sorri, mas percebo uma linha de preocupação acentuada em sua testa.
- Aconteceu. - tomo a frente da conversa. Penso por um instante no que falar, sem saber como me expressar. - Não somos mais amigas, Fe. - Faço a pior escolha de palavras possível. Seu sorriso desaparece instantaneamente.
- Vocês brigaram? - pergunta, confuso.
- Quê? Não! Pelo amor Ninha... nós estamos juntas, Felipe. - percebo ele mais confuso do que nunca.
- Sim... vocês estão sempre juntas. - rebate.
- Mas dessa vez é pra valer. Tipo... - penso em falar que somos um casal, mas como não tem nada oficializado, me contenho. - juntas, juntas.
- Ok... acho que não estou acompanhando. - Vitória solta o ar impaciente do meu lado. Me puxa pelo braço e me rouba um beijo. Quando se afasta, olho para Felipe. Ele arqueia as sobrancelhas, mudo. E então abre o maior sorriso que já conseguimos arrancar dele. Nos abraça com força.
- Isso é lindo meninas... não imaginava que vocês se gostassem dessa forma. Desejo todo o amor do mundo para as duas.
- Obrigada por nos apoiar, Fê. Tu é importante demais pra gente. - falo, ainda em seu abraço. - Mas agora... o que que isso significa pro Anavitória? - pergunto, nervosa.
- Pra começar, um boom imenso na carreira de vocês. Gente surtando de tudo quanto é lado. Aqueles que já torciam por vocês e aqueles que vão passar a torcer de agora em diante. - olho para Vitória, que está radiante. - Ah. Talvez a perda de alguns patrocínios também. Mas é aí que vamos saber as marcas que merecem o nosso apoio. - Ele nos lança uma piscadinha.
(...)
Chegando no aeroporto, despachamos nossas malas de viagem. Como chegamos adiantados, combinamos de encontrar nossos amigos na lanchonete. Contamos a novidade para Jeff e Paulo, que reagem tão bem quanto Felipe. Entrelaço meu braço no de Vitória e nos mantemos assim durante toda a conversa. Mal posso acreditar que as coisas estão indo tão bem. Marcella conta empolgada como já sabia de tudo desde o início. Decidimos então, em conjunto, postar a foto do selinho.
O tempo passou tão rápido que, quando me dou conta, nosso voo já está sendo chamado. Nos despedimos de nossos amigos e corremos para a sala de embarque. Já na fila, percebo Vitória revirar sua bolsa, nervosa. Ela me diz para achar nossas poltronas e se afasta correndo, em direção a lanchonete. Olho confusa para Felipe, que me faz um sinal para entrar e corre atrás dela. Mostro meu cartão de embarque junto com meus documentos e entro no avião, agitada. Me acomodo em minha poltrona e coloco o cinto. Espero por Vitória e Felipe, sem desgrudar meus olhos da entrada.
Fui a última a entrar no avião, e percebo que este está em sua última chamada. Tiro o cinto e corro para chama-los, mas uma aeromoça barra minha passagem e me manda sentar novamente. Tento explicar a situação para ela, mas antes que consiga, as portas do avião se fecham. E este levanta voo.
