CAPÍTULO 03🦂

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VAMOOOOS LÁ

Eu sou uma garota triste

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Eu sou uma garota triste.

A vida me fez assim, mas isso não é uma lamentação e sim uma realidade. Até lamentei muitas vezes depois de perder a minha irmã e o meu pai, contudo, precisei seguir em frente porque alguém necessitava que eu continuasse sendo forte, que lutasse!

Naquele fatídico dia em que descobri que havia perdido as duas pessoas mais importantes da minha vida, pelos minutos que se seguiram, acreditei estar sozinha, mas não demorou para descobrir que não estava.

Um garotinho de três meses foi deixado na porta da minha casa, mas ninguém viu quem abandonou a criança. O meu pai encontrou o neto dentro daquela cesta e recebeu a ligação do homem que ceifou a sua vida, mesmo que indiretamente.

Um bebê abandonado... um pai destruído... uma irmã desaparecida.

É verdade que tenho motivos suficientes para não ser feliz ou acreditar na humanidade, para sempre desconfiar de quem se diz estender a mão para ajudar ou até mesmo achar que pode haver segundas intenções por trás de cada sorriso dirigido a mim. Eu sou assim.

Mas em meio a todo o caos que corrompia o meu sistema, quando achei que o poço em que eu estava era tão fundo a ponto de não conseguir emergir, aquele bebê, sangue do meu sangue, que lembrava tanto a mãe, me deu algo até então esquecido: esperança.

Carlo é o nome dele, o batizei assim porque significa "homem viril" ou "guerreiro do povo", dois adjetivos que literalmente o definem, porque ele é um sobrevivente assim como eu. Mesmo tão pequeno, o garotinho que agora está com quatro anos de idade sequer tem dimensão do quanto foi forte para chegar aonde chegou, para respirar diante do seu malfeitor, vulgo pai.

Por Carlo, tentei esquecer do ódio que me afetou, do desejo sombrio de vingança, da raiva amarga que me corroía naquela época. Justiça não era apenas o que eu queria, mas também dar o troco, fazer o homem que arrasou com a vida da minha família pagar caro pelo que fez.

Por esse motivo o procurei de modo incessante, mas não o encontrei, só tinha uma foto e as suas iniciais, o que não era o suficiente. Madri é muito grande, nem mesmo sabia se ele morava aqui ou em outra parte do país. Por outro lado, a criança clamava por minha atenção, as nossas vidas precisavam seguir de algum modo, então desisti.

O tempo foi passando, tive que aprender a me virar e me reconstruir, recebi ajuda significativa da vizinhança que me auxiliou com Carlo e o básico para sobreviver, o que me possibilitou voltar a estudar mesmo que um pouco atrasada. Eu sabia que a educação me abriria possibilidades e me impediria de ser uma inútil ou seguir o mesmo caminho que muitos ao meu redor, que não conseguiam sair do lugar ou coisa pior.

Montei um plano, com muito custo comprei um notebook e passei a trabalhar na internet para algumas empresas, mexendo com marketing em redes sociais, ajudando pessoas a montarem bons perfis, a alcançarem o seu público alvo, seguidores e consequentemente vendas. O que ganho não é muito, mas paga as contas e foi a melhor coisa que encontrei para passar mais tempo com o meu niño.

Sempre me chamaram de inteligente devido a facilidade que tenho em aprender, uma qualidade que me impediu de demorar ainda mais para entrar na faculdade.

Foi quando tudo mudou.

Aconteceu há um ano e meio, quando eu visitava uma instituição renomada para participar de um workshop. A minha pretensão era estudar o curso de Direito ali, quando finalmente concluísse o ensino médio, por isso estava aproveitando a oficina para conhecê-la.

Foi de forma inusitada, escorreguei no refeitório e caí bem ao lado do grande e renomado professor de literatura, Mateo Javier:

— Tudo bem com você? — Eu ainda estava de joelhos no chão quando a sua voz grave me fez erguer o rosto e encarar o homem que não saía da minha cabeça, o dono dos meus pesadelos e desejos mais horríveis.

Agindo como se fosse um bom moço, ele se abaixou e tocou os meus braços, momento em que os nossos rostos se tornaram mais próximos e o seu olhar cravou no meu. Sempre o via por foto, mas ali era real. A mais assustadora realidade. Eu estava diante do inimigo até então oculto, e jamais poderia esperar que pessoalmente a sua beleza fosse tão intensa e selvagem.

Por mais que o meu coração estivesse gelado, que o ar tivesse me faltado e a minha mente entrasse em colapso, não pude evitar ser atingida por aqueles olhos azuis como ondas violentas do mar.

— Aham... tu-tudo bem. Só tropecei... — gaguejei, observando de soslaio por um segundo as garotas que riam do meu tombo às minhas costas. Ainda tive tempo de sentir vontade de esmagá-las.

— Deixe que te ajudo aqui — Mateo passou a catar os talheres e os demais objetos, depositando-os de volta na bandeja. Demorei para raciocinar, não conseguia parar de encará-lo, tão chocada, não era assim que eu esperava reagir.

Quis ir embora, me afastar como se estivesse com medo, mas a verdade era outra, eu estava impactada! O que provava que por mais que esse cara estivesse na minha mente desde os dezesseis anos, ainda assim, não estava preparada para olhá-lo frente a frente.

— Não precisa se preocupar — balbuciei, senti meu rosto corar. As nossas mãos se tocaram e uma descarga de energia reverberou por minha pele, o que me deixou em alerta.

Foi quando o infeliz sorriu pra mim, sei que era um sorriso falso, um forçado que não combinava com nada que até então eu sabia dele, todavia, era o mais belo que já testemunhei e por um segundo me golpeou.

— Está tudo bem, foi só um tombo — amansou a voz, como se quisesse realmente me tranquilizar, deixando-me outra vez de pé.

— Obrigada — sorri nervosa, desacreditada, o meu cérebro ainda parecia processar e me dizer que aquilo estava mesmo acontecendo. Afastei-me, caminhei depressa para longe e depois corri até perder as forças, até estar sozinha em algum ponto e cair de novo, vomitando.

Pisco, voltando ao presente, deixando as recordações de lado e focando na nova realidade. Olho-me no espelho outra vez, conferindo a maquiagem bem-feita, o cabelo ruivo extenso e brilhoso, o vestido preto decotado, longo e justo, com fendas nas laterais. Os saltos altos me dão imponência, os brincos com o símbolo de infinito representam o meu objetivo de agora: não vou parar nunca, até conseguir.

Caminho pelo quarto pequeno até a cama de casal com uma colcha florida, onde Carlo está dormindo. Sento-me com cuidado ao seu lado para não acordá-lo. Há um sorriso em seu rosto, deve estar sonhando coisas boas como acontece quase todas as noites.

— Mami... — sussurra de olhos fechados, está se referindo a mim.

Sorrio derretida por perceber que mais uma vez estou em seus pensamentos enquanto dorme. Sim, sou a sua mãe, a que o criou até aqui e não consigo resumir a nossa conexão a uma simples relação de tia e sobrinho. Não é suficiente.

— Estou aqui, meu filho — murmuro, afagando os seus cabelos dourados, o seu rostinho cada vez mais parecido com o do maldito, mesmo assim é impossível odiá-lo. Para Carlo só tenho amor, ele é o único que me dá felicidade e alegria de viver dentro dessa bolha de escuridão que me envolve.

Escorrego a mão até o seu ombro esquerdo, onde há uma pinta escura que contrasta com o tom da sua pele. Essa marca de nascença me faz ficar séria, destruindo o sorriso quando lembro do que irei fazer.

— Desculpe-me pelo que vou começar hoje, meu querido — declaro, resvalando os dedos por sua face tão sensível e sedosa, com uma expressão de paz. — Talvez um dia você me entenda... ou me odeie para sempre.


EEEEITAAAA
O QUE SERÁ QUE ELA VAI FAZER???

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