Capítulo 7 - Frisson

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"Com olhos de cristal, me enfeitiçou... nunca vi nada igual."

"Você é a rosa mais linda do meu jardim, Heloísa Camargo. Estou quase explodindo de felicidade, sei que pareço um bobo apaixonado... e a culpa é sua! Ah, Heloísa, Heloísa..."

— Heloísa, levanta criatura! – abriu os olhos num pulo e percebeu que era Manuela que tentava acordá-la – Está quase na hora do almoço e você aqui dormindo? Fez vigília de madrugada?

Heloísa tentava entender o que estava acontecendo ali. Estava em seu quarto e não na biblioteca, estava sozinha e não nos braços dele. Havia sido tudo um sonho? Teria seus desejos e sua imaginação brincado com ela dessa forma? A mente fervilhava, tentando raciocinar, enquanto Manuela continuava tagarelando alguma coisa. O que ela tanto falava, afinal?

— Você me ouviu, menina? – disse a mais velha com a mão na porta.

— Hum?! Manuela, eu acabei de acordar e fica ai falando mais que a mulher da cobra – disse, perdida.

— Eita, que ela está mesmo no mundo da lua! – saiu reclamando.

Ela estava mesmo distraída, mas quem poderia julgá-la? Se fechasse os olhos podia sentir seu corpo vibrar com a sensação de tê-lo tão perto, as batidas do coração descompassadas e de como ele era aconchegante. Haviam passado o resto da madrugada conversando, namorando e fazendo aquela ocasião ser sobre eles e apenas isso. O tempo foi generoso e passou arrastado, só para que os dois tivessem mais algumas horas juntos, porém, nunca seria o suficiente, afinal, dez anos de espera não seriam supridos em três ou quatro horinhas.

Saíram da sala com o nascer do sol, sem vontade alguma, mas logo a casa despertaria e Heloísa não queria dar satisfações, pelo menos não agora, contudo isso não quer dizer que ele não foi até a porta do seu quarto e lhe deu um beijo de boa noite, ou seria de bom dia? Independente da colocação, sempre tinha um gosto de quero mais, bastava que se afastasse um pouco. Será que ele lhe tinha jogado algum feitiço? Porque era a única explicação para estar tão rendida daquele jeito.

Sentia a maior preguiça e indisposição para levantar, mas não havia escolha, tinha três vestidos para terminar e o concurso da tecelagem já estava próximo, teria que sonhar acordada uma outra hora. Aliás, agora ela poderia ter seus sonhos transformados na mais pura realidade, só precisaria de um momento a sós com o motivo de seus pensamentos.

Leônidas observava o jardim da fazenda pela janela do quarto de Matias. Que belo dia estava fazendo! Para ele as flores cantavam, as árvores dançavam e o céu era rosa. Pouco importava se não tinha dormido nada, já que sua noite fora maravilhosa, incrível e todos os outros adjetivos existentes! Estava extasiado, temia que fosse acordar desse sonho a qualquer momento. Carambolas, queria gritar para todo mundo ouvir como ele se sentia, queria bater na porta dela e lhe dar um beijo, queria deixá-la desnorteada, ou simplesmente queria que ela implicasse com ele sobre algo. Seu coração batia por Heloísa Camargo, era inevitável.

Suspirou, lembrando-se dos acontecimentos da madrugada. Deu um pulo quando a viu ali, estava evitando-a dias a fio, numa tentativa fajuta de desistir desse amor. E para completar sua tormenta ela estava admitindo seus sentimentos e com um robe azulado que parecia um veludo em sua pele, além da luz branda do ambiente que conseguia realçá-la ainda mais. Linda, linda, linda. Não dava para escapar dela, estava completamente rendido.

Quando a beijou - depois que se lembrou de reagir - tentou demonstrar todo o amor que guardava no peito, dando o devido valor que a declaração dela merecia. Era a mulher dos seus sonhos, dona de todos os seus desejos e estava lá dizendo que o amava. Só faltou morrer de amores. Ficaram ali sentados no sofá, aconchegados nos braços um do outro, com a cabeça dela apoiada em seu peito, enquanto ele lia um trecho do livro que tinha nas mãos. Conversaram sobre tudo e nada, sobre a Clarinha, sobre as melhorias na vila e sobre aquela relação.

Somente eu e vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora