Capítulo 10 - Todas as coisas

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"Muito além do que eu posso ter..."

Talvez não fosse preciso ter fugido. Talvez devesse ter ficado e ouvido suas explicações. Talvez fosse apenas os seus medos martelando na sua mente "eu avisei, eu avisei..." Sua razão havia lhe alertado inúmeras vezes desde que se permitiu abrir as portas para o amor. "Você não sabe ser feliz" e agora, sozinha, pensava em dar ouvidos ao que ecoava em seus pensamentos.

As lágrimas já não vinham mais, não tinha mais forças. Não havia chorado no caminho que fez de volta para casa, mas bastou chegar e se debruçar sobre a cama para o choro vir descompensado. O amor a enganara duas vezes. Na primeira vez havia se apaixonado por um monstro, ou melhor, pensou que estava apaixonada. Hoje, sabia que não era amor. Nunca havia sido.

Ele foi um verdadeiro lobo em pele de cordeiro e ela era nova demais para entender tudo, inocente demais para duvidar daquelas palavras doces. A jovem Heloísa sonhava com um amor como nos poucos romances que tinha lido, mas no fim, tudo não passaria de um pesadelo que deixaria marcas na sua vida para sempre. Por causa dele teve sua filha roubada e a oportunidade de tê-la nos braços, na sua rotina e em todos os seus momentos.

Depois de tudo o que aconteceu, Heloísa perdeu o chão e teve que aprender a se reerguer, e com isso, ergueu também um muro em torno do seu coração. Ninguém ousaria atravessar, ela não deixaria. Ninguém a machucaria daquele jeito de novo.

As barreiras funcionaram por um bom tempo, mais do que imaginava. Desviou de galanteios, pedidos e declarações, viu o ano se passarem com histórias de investidas mal sucedidas para contar. Até que ele chegou, devagar, tímido, mas sempre disposto a ter ao menos um olhar direcionado. Foi então que percebeu que seu coração tinha começado a bater diferente, entretanto, sua decisão não mudou e as paredes continuaram intactas.

Com isso em mente, se passaram dez longos anos. Até que pagou com a língua e não resistiu, permitindo-se vivenciar aquele sentimento que nascia, se jogando nos braços daquele homem que fazia suas borboletas dançarem e suas bochechas corarem.

Talvez Leônidas e o carinho que depositava nela fosse o início de uma possível cura para suas feridas. Ele poderia ajudar para que ela superasse os seus medos. Sabia que era paciente, afinal tinha cativado cada cantinho do seu coração por muitos anos. Ainda assim, não parecia que seria suficiente. Como se a qualquer momento tudo fosse ruir e o destino a deixaria sem chão mais uma vez. Além disso, não era justo com ele deixar a responsabilidade de catar os caquinhos do seu coração. Heloísa precisava aprender a se livrar da culpa que carregava para poder amá-lo de verdade, já que agora sabia que podia e sabia como.

Uma batida na porta a fez sair dos seus devaneios, e viu uma Violeta preocupada entrar no quarto com uma bandeja de comida.

— Heloísa, minha irmã, você precisa se alimentar! – disse ela, sentando-se na cama – Manuela me contou que você mal encostou no almoço e nem desceu para jantar. Por favor, não brinque com a sua saúde.

— Não estou com muita fome, Violeta. Não precisa de tudo isso.

— Coma ao menos as frutas – insistiu.

Observar a feição de Heloísa apertava o coração da mais velha. É como se aquela parte que ela procurava sempre esconder estivesse às claras agora. Seu instinto protetor – comum de irmã mais velha – detestava vê-la triste daquele jeito.

Havia consolado-a após encontrá-la chorando no quarto. Foi um choque ouvir todo relato do que tinha acontecido, uma fofoca enorme que deixou um caos ainda maior. Era de se espantar que Leônidas havia deixado Heloísa naquele estado, logo agora que esse amor parecia ter finalmente se desenrolado.

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⏰ Última atualização: Jul 30, 2022 ⏰

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