𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟗 - 𝒒𝒖𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒆𝒎 𝑹𝒐𝒎𝒂

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Naomi's POV

Roma, Itália.
Quarta-feira.

- Ding-dong - eu gritei, ajeitando a mala no ombro. Guilherme simplesmente odiava que eu fizesse isso ao invés de tocar a campainha, o que explicava a velocidade com que ele veio abrir a porta. Abri o braço livre com um sorrisão no rosto - cheguei!

O rapaz me abraçou, sorrindo com a mesma intensidade e pegou a bagagem de mão que eu trouxe para sua casa. Aya havia aproveitado a semana sem corrida para visitar a família no Brasil, e eu já estava surtando comigo mesma quando meu primo ligou perguntando se não queria passar uma noite no apartamento dele, em Roma.

Resultado: uma playlist do Spotify, uma viagem de duas horas de carro pela costa italiana e uma caixa de donuts depois e lá estava eu.

- Pegou trânsito? - Ele perguntou, jogando minha mala no sofá preto centralizado na sala simples que ele insistia em não decorar. Dizer que não era elegante, no entanto, seria mentira. Tinha um estilo... básico.

- Só na saída pra cidade - me sentei em um dos banquinhos da cozinha, apoiando os braços no balcão de mármore escuro. - Mas você já viu o pôr do Sol naquela parte da estrada? Até valeu a pena ficar parada lá.

Tinha acabado de anoitecer quando cheguei, e de onde estava sentada podia ver a vista absurda que a varanda do apartamento tinha para a cidade que se iluminava aos poucos. Andei até a grade, observando o espetáculo que eu assisti pela primeira vez aos onze anos - nas férias de verão logo depois que Gui se mudou para a Itália -, mas que nunca perdia o encanto. Pouco tempo depois, senti o braço do rapaz me envolvendo por cima dos ombros.

Ele morava ali com o pai desde os onze, quando começou a competir nos europeus de karting. Quer dizer, a guarda de Guilherme era do pai, mas meu tio Antônio viajava tanto que na prática o garoto vivia com a babá, Dona Maria.

Era ela que o acompanhava em todas as corridas, do kart ao monoposto. Ela que lavava os uniformes, que torcia por ele nas arquibancadas e, principalmente, que o consolava quando algo dava errado. O pai, pra falar a verdade, só entrava com o dinheiro e a pressão - afinal, era o logo de sua empreiteira que estava estampado no peito do garoto.

Dona Maria era uma portuguesa que exalava aquela energia de mãe, mas faleceu pouco depois de completarmos quinze anos, de um ataque cardíaco que pegou a todos de surpresa. Naquela época, no entanto, o Gui já passava mais tempo viajando com a equipe da Fórmula 4 do que em casa, e a companhia de um responsável já não se fazia mais tão necessária. O dinheiro do pai sempre esteve ali, mas do lado emocional... era ele por ele.

- Aconteceu alguma coisa? - Ele perguntou, e imediatamente franzi o cenho, questionando em silêncio sobre o que ele falava. - Sei lá, você sempre faz um drama pra pegar estrada e dessa vez topou tão rápido.

Dei um riso sem humor, tentando omitir a parte do "estava em casa pensando na noite que você não sabe que aconteceu em Jeddah", e dei de ombros.

- Não, eu fazia drama pra pegar a Tamoios e fazer um bate-volta ridículo em Ubatuba só pra te ver - olhei para o lado para vê-lo rir jogando a cabeça para trás. - Isso aqui é completamente diferente de uma estrada esburacada que quebrava meu freio toda vez.

- Quebrava o freio porque você é estabanada - Guilherme provocou já se afastando para não tomar o tapa muito bem dado que eu estava preparando. Ainda rindo, passou a mão sobre a pequena mesinha de centro para pegar as chaves do carro - vou no mercado comprar alguma coisa pra gente, quer ir?

Torci o nariz, negando com a cabeça.

- Vou ficar. Tô precisando de um banho.

- Beleza - ele já estava quase para fora do apartamento quando se virou mais uma vez. - Vai querer comer o que?

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Where stories live. Discover now