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— Você finalmente voltou... — Hongjoong diz, sentado numa das poltronas do saguão. Já está tarde, ele deveria estar se arrumando para o jantar. — Jihyo ficou preocupada com você, ela mal saiu daqui e queria te ligar, mas eu a impedi e disse que ela deveria ir ao jantar.

— Ela já saiu? — pergunto, surpreso.

Hongjoong assente, levantando para me alcançar quando começo a ir em direção ao elevador.

— Se você quiser podemos ir também... ou podemos apenas ficar por aqui.

— Não precisa fazer isso — digo, levantando a mão para ele parar.

— "Isso"?

— Ficar atrás de mim. Você conhece minha família e conhece bem a Jihyo, sei que não se sentiria desconfortável em ir sem mim. Você veio até aqui e não faz sentido perder essa oportunidade de se divertir e conhecer a cidade só por minha causa.

Ele só me encara. Literalmente. Não sei o que está pensando, se é bom ou é ruim.

— Quer saber? — Seu tom é revoltoso, o que entrega que, o que eu disse, o irritou de alguma forma. — Tem razão, eu não me sentiria desconfortável...

Sério, eu não estou mais suportando ele.

Viro em direção ao elevador e caminho, sem dizer nada. Acontece que ele me segue e entra no elevador comigo.

Qual o problema dele? Ele me afasta e me puxa de volta o tempo todo, diz que não tenho nada a ver com ele e então diz que se importa com como eu me sinto. Cansei de toda essa situação.

Posso sentir a tensão no ar entre nós, o desconforto presente e o silêncio estranho até que eu saia e Hongjoong não suporte mais.

— Você está sendo um idiota, Park Seonghwa.

É hilário, Hongjoong me chamando de "idiota".

— E você um hipócrita.

— Não, não vem descontar em mim. Se quiser eu tô aqui pra ouvir sobre o que aconteceu mais cedo, mas não vou ficar pra ouvir você dizer coisas que vai se arrepender depois.

Ele me quer fora dos assuntos dele, mas ao mesmo tempo quer que eu fale de mim pra ele.

— Eu só disse a verdade, não vou pedir desculpas! Logo meus pais aparecem com outra festinha, então não é nada demais se eu perder essa. Boa noite, Hongjoong. — Passo o cartão da porta e entro na minha suite. Mas não a tempo de ouvi-lo dizer:

— Não muito diferentes de você.

Eu não tenho certeza do que ele faz depois disso, mas eu sei de mim: fico sentado na cama pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo. Nada me deixa mais desanimado do que as coisas que aconteceram recentemente.

Eu tento não deixar que as coisas que os outros fazem e dizem pra mim, não me afetem. Tento não dar o poder a eles para me machucar. Mas dói. Dói ver Jihyun se preocupando comigo mas dizendo que sou um filho ingrato; dói saber que meus pais estão felizes com o jeito que as coisas estão: eles aqui e nós dois lá. Dói que Hongjoong não entenda como me sinto, e dói que ele não faça nada sobre nós.

Ele literalmente empacou depois de dizer que sentia algo por mim, e quando eu paro pra fuçar minhas lembranças, realmente não consigo lembrar de nada que possa realmente confirmar que ele goste de mim como mais do que um amigo.

Pior, nem isso nós somos, segundo ele.

Deito sobre as cobertas ainda com os sapatos calçados nos pés, enfio as mãos debaixo da minha cabeça, meio deitado de lado, e fecho os olhos para tentar esquecer. Eu não quero ter que pensar em nada, não quero mais precisar pensar em soluções quando eu nunca encontro nenhuma.

Mas não consigo dormir, passo a noite em claro. Ouço quando Jihyun chega e entra em seu quarto, porque ela está conversando com alguém e, pela falta de resposta alta, parece que é pelo celular.

Alguns minutos depois recebo uma mensagem dela perguntando se já voltei, não respondo. Não satisfeita com a falta de resposta, ela vem bater na porta do meu quarto.

Eu levanto, me sentindo muito cansado, ando devagar até a porta e a deixo entrar. Enquanto ela fecha a porta, sento e tiro meus sapatos depois de horas com eles na cama.

— Posso ficar aqui com você? — é só o que ela pergunta depois de sentar ao meu lado. Eu não respondo, não quero Jihyun perto de mim. Ela entende o silêncio mas permanece enquanto puxo meus joelhos e os abraço, observando minhas meias brancas sobre o colchão. — Talvez você queira ouvir o que nossos pais me disseram. Nós conversamos um pouco e eles deram a ideia de você vir pra cá... estudar aqui.

— Eles disseram como uma simples ideia ou mandaram? — é só o que tenho a perguntar depois de pensar um pouco. Acho que não consigo nem ficar surpreso.

— Foi apenas uma ideia.

— O que você disse? Que falaria comigo?

— Eu disse que você não gostaria disso. — Encaro minha irmã e vejo que ela está cansada. Ela tira os chinelos do hotel e imita minha pose, olhando para mim. — Eu sei que sente falta de nós, de estarmos todos juntos, mas a sua vida é como é, agora. Eu gosto da minha, de viver sozinha e correr atrás dos meus sonhos. Nossos pais estão felizes, vivendo os sonhos deles, aqui. Você está encontrando seu caminho, Seonghwa. Nós podemos estar separados, mas nós não vamos deixar de ser uma família. Eu te amo, você sabe disso. — Jihyun segura meu pulso e aperta os lábios em um pequeno sorriso. — Você quer ficar?

Nego, porque ela está certa. Não quero viver nos Estados Unidos, longe de casa. Eu quero ter a minha independência, as minhas próprias coisas e o meu próprio espaço; preciso seguir meu caminho paralelo ao deles e ficar feliz quando nos encontramos. Acho que andei esperando muito de todo mundo e me frustrei quando ninguém atingiu minhas expectativas.

— Você... quer falar sobre você e o Hongjoong? — Seu sorriso é maior, mais contagiante e genuíno quando o menciona. — Ele veio até aqui com você...

— Eu sei, mas isso não é nada. — Viro o rosto ao sentir ele aquecer. — Acho que ele só me vê como amigo.

— Não acho. — Ela pensa sobre, e eu a encaro, esperando que continue. — Ele te conhece, conseguiu me convencer que você ficaria bem mesmo se eu fosse a festa dos nossos pais. Ele disse que cuidaria de você. Não sei, mas, algo nele parece diferente ultimamente... Eu acho que ele sabe.

Sim, ele sabe, mas não confirmo isso pra ela. Penso no que ela diria se soubesse disso. Provavelmente diria que estamos enrolando muito e que somos dois idiotas.

— Por que você não está falando com ele?

— Eu percebi recentemente que ele não vê motivos para me contar da vida dele. E não posso ajudar se não sei de nada. — Dou de ombros.

— Então dê motivos para ele te contar. Demonstre que se importa, e uma hora... talvez uma hora ele vá te dizer algumas coisas por conta própria.

— Jihyun. — Ela me encara. — Você acha mesmo que eu... tenho alguma chance? — Não quero ter esperanças mas a pergunta me escapa fácil, talvez lá no fundo eu queira e nem sei.

— Você só vai saber se falar com ele. — Jihyun levanta da cama e calça os chinelos de forma preguiçosa. — O "não" você já tem. Boa noite, Seonghwa.

Talvez eu precise ser mais claro? — penso sobre isso e a olho instantes antes de ir, ela segura a maçaneta e sorri como se assistisse a minha tomada de decisão.

— Boa noite.

Boys Like Boys » seongjoongWhere stories live. Discover now