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Apertei os olhos tentando me proteger da luz forte que teimava em apontar para meu rosto. A persiana da janela estava fechada, mas certamente havia algum tipo de conspiração das persianas contra mim. Ou isso ou então algum tipo de acordo entre elas e o sol, que sempre parecia descobrir uma brecha para poder mirar um de seus raios diretamente em minha cara. Virei para o outro lado devagar para não sentir a dor no peito e lembrei que Nolan estava comigo. Abri rápido os olhos mas não o encontrei. Aos poucos comecei a sentar na cama. O relógio que havia me "hipnotizado" mais cedo marcava 10:43. Escutei conversas do lado de fora. Algumas identifiquei como sendo de médicos e enfermeiros, outras pareciam de familiares querendo saber de notícias de algum interno.

Me senti grata por ter acordado depois de tanto tempo e ter dado de cara com Nolan, mas agora, apesar de ter passado a noite com ele, estou me sentindo novamente sozinha e perdida. Muitas perguntas povoavam minha mente. Eu não sabia de minha casa, meu carro, minhas roupas. Não sei quem pagou minhas contas, não sei se eu ainda possuía um emprego, eu não sabia de nada e aquela sensação estava me corroendo. Não ter o controle sobre minha vida me deixava sem chão. Eu queria muito ir embora daquele hospital, mas nem saberia por onde começar. Olhei para a bata que me cobria mal e parcialmente.

Claro, Sarah! Saia por aí com o rabo de fora e seja o centro das atenções.

Respirei fundo e soltei o ar com força. Notei que meu peito não doeu por conta disso. Graças a Deus! Minha boca continuava seca e com um gosto péssimo e meu estômago roncava de fome. Olhei para o criado mudo e percebi que nele havia uma gaveta e também uma porta mais abaixo. Coloquei a ponta dos pés no chão frio e abri, me deparando com alguns lençóis e mais batas. No canto, dentro de uma sacola, havia uma pantufa de algodão branco. A coloquei sob meus pés, vesti outra bata de trás para frente para que ela cobrisse meu traseiro e saí do quarto em busca do que comer.

Não andei nem 10 passos e ouvi uma voz masculina chamar meu nome atrás de mim. Me virei e encontrei o dr. Flynn.

- Espero que não esteja com a ideia de fugir do hospital, mocinha. - Ele usou um tom jocoso como se estivesse dando sermão em um adolescente.

Ele se aproximou de mim e me ofereceu seu braço como um cavalheiro. Eu passei o meu ao redor dele.

- Após 3 meses acompanhando seu caso é quase impossível eu não me sentir na obrigação de acompanhá-la de volta ao seu quarto, srta. Logan.

Começamos a caminhar, mas ao ver o que pretendia, eu estanquei. Se ele estava me tratando como uma adolescente rebelde, me comportaria como tal para conseguir um café descente. Fui hiperbólica.

- Desculpe doutor, não quero contrariá-lo mas estou faminta e se eu não comer agora, terá que cuidar de mim por mais 3 meses.

- Você tomará o melhor café da manhã e se quiser mando trazer também seu almoço para que você desfrute de tudo no conforto de sua cama.

- Se espera que eu coma comida de hospital, esqueça. Pelo gosto horrível que sinto na boca, aposto que passei esses 3 meses com algum tipo de caldo de brócolis e cebola sendo injetado em minhas veias.

Ele riu mas não parou. Eu estava perdendo.

Merda! Eu era policial! Passei parte da minha vida resolvendo crimes, consegui arrancar confissões das piores espécies de bandidos, passei 3 meses deitada em uma cama sendo alimentada por um tubo e agora que eu queria uma simples caneca de café eu não conseguia!! Não mesmo!!

Parei a poucos centímetros da porta do quarto.

- Muito bem, dr. Flynn, serei direta. Preciso de um café e não pretendo voltar para aquela cama sem uma caneca bem grande dele. Não aguento mais ficar deitada. Veja... - Eu soltei a sua mão e abri os braços. - ...eu estou bem! Só preciso me movimentar.

EXTREMOWhere stories live. Discover now