Ellen

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Ellen



Estava chovendo muito aqui na Inglaterra, bom, como sempre na verdade. Mas há níveis de chuva, e hoje com certeza está no máximo. Assim que cheguei ao prédio onde ficava meu escritório, a recepcionista arregalou os olhos.

-Precisa de algo Sra.Pompeo?

-Não, obrigada.- disse entrando no elevador. Bom, eu estava ensopada, talvez isso acabe dando mais trabalho ao pessoal da limpeza. Mas é só água, não é mesmo?

Entrei no meu andar e como sempre todos pareciam que tinham prendido a respiração. Eu causava isso neles. Meu jeito mais seco e direto de coordenar as coisas fazia com que quem trabalhasse lá mantivesse a postura e bom desempenho. Eu não era má, mas queria o melhor que cada funcionário poderia dar lá dentro e isso exige que eu fosse mais rígida com todos. Se eu amoleço o coração para um ou dois, o restante vai pelo mesmo caminho e depois isso aqui vira um caos.

-Bom dia.- disse para Cristina assim que entrei na nossa sala.

-Bom dia. Dormiu no box, foi?

-Engraçadinha.- disse entrando no banheiro e procurando uma roupa nova. Costumava sempre deixar algumas lá caso acontecesse uma emergência igual hoje. Pus um vestido bege com um blazer cinza escuro por cima e nos pés eu continuei com meu salto.- está um caos lá fora.

-Eu cheguei um pouco antes da chuva começar.- a ouvi dizer quando saí do banheiro.

-Que bom.- me sentei na minha mesa, que ficava de costas para a janela. A de Cristina ficava perto da minha, mais lateralizada.- estamos cheias de coisas pra fazer. Melhor começarmos logo.

-Ok.- disse e começou a separar alguns papéis em sua mesa.- não quer conversar?

-Não.- disse rápido e sem olhar para ela.

-Ellen...

-Cristina, eu realmente não quero pensar nisso hoje, tá bom?- falei mais ríspida.

-Ele está fazendo dez anos.

-E você acha que eu não sei?!- bati forte a palma da mão na minha mesa e a olhei. - Acha que eu não sei o dia do aniversário do meu filho?

-Eu só acho que você deveria fazer algo sobre. Ficar fugindo e se escondendo não vai resolver nada.- disse séria.

-Foi a decisão certa. Eu não fazia bem a ele.- voltei a organizar meus papéis.

-Só porquê o Patrick era uma babaca às vezes não quer dizer que fosse verdade! Vocês eram melhores amigos mas sinceramente, como casal não dava tão certo. E com uma criança no meio...- suspirou. A morena levantou e parou na frente da minha mesa.- Ellen há
quase dez anos você fugiu sem dar notícias. Nem explicação. Já parou pra pensar nisso? Patrick tinha seus defeitos mas ele te amava demais. Tudo o que vocês queriam era um ao outro, e você abandonou sua família.

-Agora você quer vir me dar lição de moral? Que eu saiba você me apoiou nessa decisão.

-Ah não, peraí!- apoiou uma mão na minha mesa e com a outra apontou o indicador para mim.- Apoiei você a se mudar para cá para fazer a sua vida e achei que você deixaria o Ethan e o Patrick apenas por um tempo em Seattle. Não achei que tinha fugido sem dar notícias!

-Até onde eu sei até agora você não contou nada a ninguém.

-E não quer dizer que eu ache certo, Ellen! Estou sendo uma boa amiga e te ajudando, mas não quer dizer que eu ache certo!

-Cristina, hoje realmente não é o dia. Depois nós falamos, tá bom?

-Você diz isso todos os anos. Mas ok.- disse e voltou para a sua cadeira.

Quem vê a situação deve achar que eu sou louca de abandonar marido (ou quase marido) e filho para vir trabalhar do outro lado do mundo. Mas não é bem assim. Inicialmente eu neguei a proposta de montar uma filial, com muita dor no coração mas neguei. Queria me dedicar mais ao meu filho, já que na visão de Patrick eu não estava sendo uma mãe atenciosa e presente. Mas depois de um tempo, percebi que eu não estava sendo a mãe que o Ethan precisava, mesmo me esforçando muito, e foi quando um acidente com ele aconteceu, que eu realmente vi que eu estava sendo um empecilho na vida de Ethan. Ele ficaria melhor e mais seguro com Patrick, e foi quando eu decidi fugir. Sem avisar e nem dar notícias. Não queria mais contato com Patrick ou Ethan, seria muito doloroso os ver só de vez em quando e saber que seria julgada a cada segundo que eu passasse ao lado do meu filho. Sabia que Patrick não me entenderia. Consegui abrir minha filial e chamei Cristina que veio junto comigo e me apoiou. No início não falei pra ela que deixei tudo sem dar notícias, queria que ela focasse no trabalho.

Mas não há um dia que não sinta falta do meu filho ou imagine como ele esteja. Já os procurei diversas vezes em redes sociais mas nunca os encontro. Ele deve estar tão grande...Ethan era parecido comigo, será que ainda continua? Será que ele pergunta de mim? Patrick deve fazer o meu diabo para ele. Falando nele, como será que ele está? Deve estar me odiando a uma altura dessas.

Fico pensando em quando e como ficamos nessa situação. Éramos melhores amigos, depois tivemos o nosso romance dos sonhos. Quando descobri que estava grávida, tudo foi por água a baixo. Com um filho, descobri que Patrick era o melhor pai do mundo, mas como marido, eu não poderia dizer o mesmo. Parecia que ele achava errado tudo o que eu fazia, ele achava que eu trabalhar era errado, eu focar na minha vida pessoal era errado. Deixar Ethan chorando um pouquinho que fosse era péssimo. Mas ele? Ah! Ele podia passar 24h de plantão que era o paizão! Ele sabia fazer tudo, era médico, continuava estudando, fazia a janta e ainda "me ajudava" em casa. Mas ai de mim se contratasse uma babá.

Depois que tive um filho, descobri o quanto o mundo pode ser machista e abominável com as mulheres. Infelizmente.


Juro que vou tentar atualizar o mais breve possível kkkkk não desisti dessa fic, fiquem tranquilos ❤️

Grávida do Meu Melhor Amigo Where stories live. Discover now