CAPÍTULO UM

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CAPÍTULO UM

Eram pouco mais de sete da noite e o clima quente, característico do verão, pairava sobre a cidade de Belo Horizonte.

Acomodada na calçada de um dos bares da famosa Avenida Amazonas, a caminho da Estação Central do metrô, Rebecca Costa desabafava com Eliane sobre mais um de seus relacionamentos fracassados. Em uma das mãos, segurava um copo de cerveja bem gelada.

— Ah, caramba! Quer saber de uma coisa, Lia?! A verdade é que nunca vou encontrar alguém. — Sorveu um gole da cerveja. — Acho que estou fadada a morrer sozinha, viu?!

A brisa leve beijou a pele negra de Eliane e esvoaçou alguns fiozinhos encaracolados que teimaram em soltar-se do coque improvisado. A mulher revirou os olhos castanhos e após sorver um gole da cerveja, retrucou:

— Ah, não sei por que pensa assim, Becca. Você é um mulherão, cara!

Rebecca permitiu que um suspiro profundo escapasse por entre os lábios delineados. Ajeitou uma mecha do cabelo platinado atrás de uma das orelhas e encarou a amiga com um sorriso fraco.

— Ah... — deu de ombros observando o garçom as servirem com um tira-gosto. — É que eu queria encontrar alguém que fosse perfeito ou pelo menos na medida certa, sabe?! Sempre que encontro um cara legal, o sexo é um desastre. Porém, quando finalmente encontro um desgraçado "bom de cama", ele é um verdadeiro canalha. — Lia deu uma risadinha. — Enfim, nunca é do jeito que eu quero.

— Hum, mas diz aí... Será que você não está sentindo a falta do Cláudio? — referiu-se ao ex-marido de Rebecca enquanto espetava uma batata frita.

A mulher esbugalhou o belo par de olhos castanhos claros e negou, chacoalhando a cabeça, bebendo um gole considerável de sua cerveja.

— Eu hein?! Tá doida! De jeito nenhum! — Eliane gargalhou, divertindo-se com a reação da colega. — Ele já assumiu a outra lá. E, além do mais, já faz dois anos de divórcio. Então, se a gente se envolvesse outra vez, seria um fiasco.

Lia deu mais uma risadinha sarcástica enquanto lia a barra de notificação do celular.

— Hum... O Pedro já está vindo me buscar — explicou, referindo-se ao noivo.

— Ah, que pena! — Becca elevou as sobrancelhas. — Vamos terminar essa cerveja, então. — Tratou de esvaziar a garrafa, servindo os dois copos. — E aí?! Como andam os preparativos do casamento?

— Aí, nossa! Acho que estamos indo bem! — os olhos da mulher assumiram um brilho apaixonado. — Becca, olha só... Se você quer tanto alguém, por que você não faz a oração do Cupido?

— Como é?! — franziu as sobrancelhas. — Oração pra Cupido? Que bobagem, amiga! — retrucou em tom de deboche.

— É sério, cara. Como você acha que consegui o Pedro, Rebecca?

— Aí, credo! — fez o sinal da cruz. — fora de fazer amarração!

— Ah, não! Para com isso! Não é amarração! — Lia rolou os olhos. — É uma prece! Uma amiga me repassou — dizia enquanto abria a bolsa, em busca da carteira perdida em meio aos seus apetrechos. — Dias depois, conheci o Pedro e começamos a namorar. — Finalizou com um sorriso.

Rebecca inspirou fundo e passou as mãos pelos cabelos aprumados em um corte Chanel e encarou seu reflexo no celular. De fato, a repaginada no visual que fez após o término do casamento, lhe deixou mais jovial.

— Ah, isso é besteira, Eliane. Coincidências existem.

Lia alcançou as mãos da amiga sobre a mesa, atraindo o olhar dela para o seu.

Miniel - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now