CAPÍTULO TRÊS

165 38 2
                                    

CAPÍTULO TRÊS

Aquele era o terceiro dia que Rebecca estava na companhia de Amanda. Era estranho ter a presença da moça sempre por perto, afinal, quando queria falar algo ou revidar as provocações dela, tinha que ter cautela para que não houvesse pessoas por perto, pois poderia ser taxada de maluca. No entanto, a companhia daquele anjo causava uma sensação de proteção e companheirismo em Rebecca.

Passavam das nove da noite quando a vendedora finalmente conseguiu encerrar o expediente. Naquele dia, a loja estendeu suas atividades para "balanço" e em consequência, os funcionários foram dispensados horas mais tarde que o habitual.

*.*.*

Após despedir-se de Eliane, Rebecca andava com passos rápidos pela penumbra que encobria as ruas do centro de Belo Horizonte naquele horário.

Várias pessoas transitavam por ali, entre trabalhadores, mendigos, arruaceiros e pivetes. Era comum esse tipo de público se aglomerar nas principais ruas aquele horário da noite, mas a mulher estava acostumada, embora ficasse sempre alerta.

Ao seu lado, Amanda permanecia em silêncio, assumindo uma feição séria e atenta a cada passo que sua resguardada dava. Mas percebeu que logo atrás, após atravessarem a rua, havia um homem em atitude suspeita. O boné encobria parte da face e estava com as mãos enfiadas no bolso da calça jeans, andando rápido, como se não quisesse perder Rebecca de vista.

— Becca, entra no próximo estabelecimento. — Amanda murmurou com urgência, atenta ao homem. Faltava pouco para que alcançasse Rebecca.

A vendedora franziu as sobrancelhas e buscou os olhos esverdeados de seu anjo.

— Por quê?

— Tem um homem te seguindo. E as intenções dele não são nada boas, Rebecca.

Nesse momento, um forte calafrio envolveu o estômago de Becca. Sentiu o desespero preencher cada pedaço de seu corpo e quase entrando em pânico, pensou em correr, porém a moça a segurou pelo ombro.

— Não corra! Se você correr, ele vai correr também! — alertou. — Mantenha o passo e entre naquela lanchonete.

— Estou com medo — sussurrou sentindo o coração acelerado.

— Estou com você. Vou te proteger, mas precisa se acalmar.

Assim que a vendedora adentrou a lanchonete, emaranhou-se no meio das pessoas, buscando uma mesa mais afastada, onde se sentou com Amanda.

Sua respiração era agitada e fechava os olhos diversas vezes, imaginando o que poderia ter acontecido, caso seu anjo não estivesse contigo.

— Obrigada por me salvar!

Com os lábios repuxados, Amanda sorriu e estendeu a mão, alcançando a de Becca sobre a mesa.

— Nunca deixarei nada de ruim te acontecer. — Acariciou as mãos dela. Rebecca retribuiu o gesto. — Ligue para o Bernardo e peça para ele te buscar.

A vendedora respirou de modo profundo e solicitou que a garçonete lhe trouxesse água, ligando para o filho, segundos depois.

*.*.*

— Está mais calma? — Amanda indagou após a mulher sorver alguns goles d'água.

— Um pouco. O Bernardo vai demorar um pouquinho, pois está na casa de um amigo. — Ergueu as sobrancelhas, pousando o copo sobre a mesa. — Mas já está vindo.

Um sorrisinho sarcástico iluminou o rosto da bela Amanda.

— Hum, isso é muito bom, pois o carinha ali da outra mesa não para de te olhar.

Miniel - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora