Capítulo 4 - Kris

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KRIS

Eu me encontrava numa pequena sala onde alguns equipamentos de filmagens eram guardados. Jessica estava sentada num banquinho de madeira com as duas mãos  apoiadas nos joelhos. Seu corpo convulsionava enquanto ela chorava baixinho. Há alguns minutos ela saíra do banho, por isso os cabelos molhados. Jessica ficara tremendamente assustada quando o jato de esperma de Marcos atingiu a sua face. Ela correu assustada para o banheiro, e quando encontrei a Carine no meio do caminho, ela parecia igualmente surpresa com a reação da novata.

O que ela esperava de uma produtora de filmes pornôs? Efeitos especiais para poupar seu lindo rosto de ser sujo com sêmen? Um dublê para fazer as cenas mais arriscadas, como dupla penetração?

— Jessica — chamei. Ela não olhou para mim, então eu me aproximei e toquei seus ombros. — Com aquele seu teste ficou óbvio que você é inexperiente. Então eu me pergunto por quê? Por que você está aqui?

Ela finalmente me olhou.

— Você! — apontou o dedo para mim.

Eu recuei um passo. Por minha causa? Será que Jessica, de alguma forma, conhecia a "Fernanda" que eu mantinha lá fora? Conhecia a história de uma menina de doze anos que sofria calada os abusos do padrasto? Uma adolescente perdida nesse mundão, rastejando em busca de comida. De um lugar aquecido para dormir nos dias de inverno. Será que Jessica me conhecia?

— Eu queria ser como você, Kris. Eu tenho todos os seus filmes escondidos em casa, e toda vez que eu os assistia, mais o meu desejo de ser como você crescia. Eu acompanho os seus filmes desde o primeiro. Aquele em que você contracenou com a Nessinha.

Mesmo assustada com a revelação, sorri com a lembrança.

Logo que eu cheguei à produtora de José e após me considerar "apta" para começar a gravar, minha companheira de cena fora a Nicole. E, devo admitir, se não fôssemos as duas héteros e com namorados, poderia ser capaz de investir em um relacionamento com ela. Nicole era possuidora de uma santa língua que... Fora a primeira e única vez que eu, realmente, gozei numa gravação. Nicole, por ser mulher, sabe como tocar, onde sentimos mais prazer, e esse é o diferencial quando se transa com uma mulher. As mulheres são mais carinhosas, e é por isso que em nosso meio a maioria são lésbicas. Porque, depois de sofrer tanto em cena, em casa precisamos de alguém paciente e afetuoso.

— Jessica... — Eu não sabia por onde começar a explicar à garota como realmente funcionava os bastidores de um filme pornô. Porque, por trás das câmeras, acontecem muitas coisas que o espectador nem sonha existir. — O filme que vocês assistem não é real.

Jessica me interrompeu, indignada.

— Como não é real, Kris? Nós vemos você ser penetrada. Você geme. Você goza. O ator goza. Como não é real?

— Por favor, não me interrompa novamente. — Puxei uma cadeira e posicionei-a de frente para Jessica. Sentei-me. — Jessica, se eu te contar que, de todos os filmes que já fiz, eu nunca gozei. Você acreditaria em mim?

— Mas as suas expressões  dizem o contrário — ela desdenhou.

— Exatamente isso. Expressões. Eu sou capaz de fazer com que pensem que estou adorando o que estão fazendo comigo; sou capaz de fingir um orgasmo em cena. Este mundo que você quer entrar não são flores o tempo inteiro, e na maior parte do tempo tudo o que conseguirá é ser furada pelos espinhos de uma rosa.

— Mas...

— Vamos imaginar um filme pornô como um filme comum. Há os atores, há o roteiro, há o cenário. Os atores gravam a cena, e se não ficar boa, faz de novo até chegar à perfeição. Aqui é a mesma coisa. Os atores, por mais que se odeiem, se precisarem interpretar um casal apaixonado, eles devem colocar o ódio para escanteio e fingir que há atração entre eles. Há os efeitos especiais, os cortes, tudo.

— E o sexo?

— Não vou generalizar, Jessica, mas conheço algumas meninas que passam pomada de xilocaína antes das gravações, então elas realmente não sentem nada. Quantos filmes você já assistiu que o ator interrompe a penetração vaginal, para passar lubrificante no ânus da parceira para a penetração anal? Sim, nenhum. Porque isso não é mostrado.

— E os homens... — Jessica não concluiu a sua pergunta, mas eu podia supor o que ela queria saber.

— Eles tomam os famosos comprimidos azuis. — Mostrei-lhe o meu sorriso amigável. — Quantos homens você conhece que consegue manter o pau duro por mais de cinco horas? Na hora da gravação, quem determina tudo é o diretor. Muitas vezes seguimos um roteiro, e assim como qualquer filme comum, gravamos a cena mais de cinco vezes até o diretor achar que está adequado para o público que ele quer alcançar.

— Eu não sabia...

— Ninguém sabe. Quem sabe dessas coisas é apenas quem está aqui nos bastidores. Mas, agora me diga. Por que você está aqui?

— Eu já respondi. Eu queria ser como você.

— E você ainda quer? Pelo que eu vi do seu teste, você estava bem assustada.

— Eu ainda estou, mas eu me acostumo.

— Você tem que idade Jessica? — perguntei. Ela não parecia ter mais de vinte anos.

— Dezoito. Eu pensei que eu fosse transar com aquele cara, mas fiz apenas um oral nele.

— José é muito cuidadoso com as pessoas da sua equipe. Você não atuará até, no máximo, dois meses, quando fizer todos os exames necessários. Por lei, os atores precisam usar camisinha, mas, é claro, José não obedecerá. Ele faz a própria lei.

Jessica começou a torcer os dedos um nos outros, demonstrando ansiedade.

 — Kris... Você não tem medo de engravidar nas gravações? — Essa era uma duvida global.

Claro que não engravidamos.

— Não. Temos uma pessoa especialmente para administrar o controle de natalidade em todas as atrizes.

— Obrigada por ter vindo aqui.

— De nada. — Eu sorri.

Mesmo assustada, Jessica não pensou em nenhum momento em desistir. Ela era uma versão de mim, quando cheguei àquele estúdio totalmente desorientada apenas com uma certeza em mente: "eu precisava me destacar. Me destacar e ganhar muito dinheiro". Eu havia conseguido as duas coisas.

E esperava que Jessica também.

POR TRÁS DAS CÂMERASOnde histórias criam vida. Descubra agora