Seis meses são o suficiente para virar a vida de alguém de cabeça para baixo e foi o suficiente para virar a de Ruby Owens. Depois de perder o irmão gêmeo em um assalto aos vinte anos e os pais em um acidente de avião quatro meses depois de voltar d...
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2023, Nova York - Seis meses depois do Blip -
Estava tudo dando errado. O vestido que usaria para ir no casamento da sua prima tinha rasgado na costura lateral, as torradas caíram no chão assim que ela tirou da torradeira e havia quebrado o bule de vidro de café batendo com ele na beirada da pia, espalhando o líquido quente pelo chão da cozinha.
Definitivamente, aquele era um péssimo dia para ser Ruby Anne Owens.
Enquanto olhava para o desastre que tinha feito em sua cozinha, ela decidiu consultar a hora em seu relógio de pulso, percebendo que estava mais atrasada do que achou que estaria, então, apenas abriu mão do direito de escolha e com, basicamente, um estalar de dedos, o chão estava limpo e o bule tinha sido consertado.
Somente as torradas não tiveram salvação, mas de qualquer forma, não daria mais tempo para almoçá-las, então ela apenas seguiu para dentro do próprio quarto e encarou o vestido rosa salmão, com certa desanimação, até.
Christine Palmer era sua prima, dessas distantes que acabam nem mesmo tendo seu sobrenome, mas mesmo assim, sabia que seria falta de educação faltar a um evento desses, principalmente porque seria o primeiro a reunir a família depois do blip.
No entanto, talvez, por isso mesmo, ela estava tão desanimada. Ruby não queria ser alvo dos olhares de pena e das condolências que ainda receberia mesmo depois de meses. Seus pais tinham morrido havia dois meses, vítimas de um inesperado e desastroso acidente de avião e seu irmão gêmeo já tinha perdido a vida há cerca de seis anos, atualmente, depois de um assalto a uma farmácia. Um dos tiros o atingiu bem no peito e segundo os médicos, assim como seus pais, o homem tinha morrido na hora.
Mesmo assim, Ruby se forçou a estalar os dedos novamente e, em um passe de mágica, além do vestido sem graça estar costurado, agora ele tinha uma leve camada de brilho. Nada muito exagerado, afinal, seria um casamento diurno, então não podia enfiar tanto glitter quanto queria, mas também não precisava ir com aquela coisa monótona que era o vestido salmão de cetim.
Se olhando no espelho de corpo todo que ficava atrás da porta do quarto, ela pegou um cordão qualquer com uma pedra verde e prendeu os cabelos ruivos, lisos e compridos, em um coque no alto da cabeça, o deixando largo a ponto de várias mechas caírem, emoldurando seu rosto repleto de sardas.
Seu nariz era fino e empinado e Ruby tinha lábios grossos, em formato de coração. Junto de olhos verdes-esmeraldas, ela era a típica personalização da ruiva-escocesa-clichê e, talvez por isso, odiasse tanto a própria aparência mesmo depois de vinte e seis anos se encarando todos os dias em fotos e espelhos.
