1. woodstock in my mind

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C H A P T E R    O N E

San Francisco/ Colorado / BethelAgosto de 1969

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San Francisco/ Colorado / Bethel
Agosto de 1969.

Enquanto atravessava a ponte Golden Gate dentro de uma antiga Kombi com alguns amigos, Matilda só conseguia pensar que os resquícios do verão beijando o seu rosto era um dos maiores prazeres que já sentiu na vida.

O horizonte oceânico e as majestosas colinas de San Francisco entregavam-lhe uma vista ainda mais sonhadora, um sentimento de paz que ela mal chegou perto de conhecer quando ainda vivia escondida no interior do Alabama.

Matilda Summers Jane nasceu e foi criada no condado de Greenbow. Irmã caçula de três irmãos e a única menina da casa, não teve o privilégio de conhecer sua mãe, pois infelizmente a mesma veio a falecer em seu parto. Para ela, relembrar sua infância na humilde fazenda onde viveu até os dez anos de idade era o mesmo de estar perdida em meio a um nevoeiro. O ato de trazer à tona as lembranças dos primórdios de sua vida era algo tão árduo e doloroso, que navegar em um mar de negação parecia ser a solução mais acalentadora para os seus problemas.

Em 1961, sua guarda finalmente foi direcionada para a avó materna, Susie Jones, onde as duas se mudaram de um velho trailer para um sobrado antigo no Brooklyn, na cidade de Nova York. No início, Susie fez o que esteve ao seu alcance para entregar um teto mais amistoso à neta. Apesar de sua tranquilidade e condolência, a avó de Matilda era hipocondríaca e fumava compulsivamente uma média de seis maços de cigarro por dia. Depressiva e sustentada pelo governo, passava a maior parte do tempo na cama ou em frente à TV assistindo filmes estrelados por Marilyn Monroe e Sharon Tate.

Com a demanda alta de medicamentos que entravam e nunca saíam de seu novo lar, é provável que seu primeiro contato com pílulas tenha sido instigado durante o período em que morou com a avó. Matilda aprendeu a se virar por conta própria desde muito nova. Não somente pelo estado deplorável da Sra. Jones, mas porquê a vida a obrigou a ser assim. Aos quinze anos, conseguiu um emprego em uma loja de discos de vinil em seu bairro, ainda frequentava o primeiro grau do ensino médio — ela desde sempre foi uma garota inteligente, mas os professores nunca pareceram dispostos a reconhecer isso.

Suas amizades eram escassas naquele bairro de classe trabalhadora. Ela era uma garotinha tímida e vulnerável no colégio, completamente divergente das outras de sua turma que possuíam madeixas douradas, olhos claros e faziam pouco caso para sua existência. Mesmo tão prematuramente abalada por dentro, estava disposta a dar o melhor de si e encontrar o sol nos dias mais obscuros. Em 1965, comprou um Fusca Volkswagen amarelo pastel; ela sempre foi fissurada por tudo que reluzisse em tons de amarelo. Esse fora o seu primeiro carro e também, sua primeira conquista extraída do salário que juntou durante meses nos turnos extras que conseguira fazer.

Duas semanas após completar dezesseis anos, era um domingo de manhã ensolarado quando sua avó faleceu por um episódio já premeditado de enfisema pulmonar. Susie não deixou nada para Matilda além de cobranças pendentes do aluguel, sua infinita coleção de pílulas e um coração com marcas que iriam custar caro para serem curadas. Naquela época, Summers não tinha mais ninguém no mundo onde pudesse se apoiar além dela mesma, então, mesmo com um peito sobrecarregado de receios, ela reuniu tudo o que conseguiu do apartamento da avó e enfiou no porta-malas apertado do seu carro. Juntou todas suas economias e abandonou sem pensar duas vezes os estudos, dando adeus àquela selva de concreto e seguindo o vento da primavera até o norte de San Francisco.

𝐌𝐚𝐭𝐢𝐥𝐝𝐚 | 𝐇.𝐒Where stories live. Discover now