I - A fazenda

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Madeleine morava bem longe, bem onde o barulho dos trilhos desapareciam. Seu pai dizia que era perto do céu, se olha-se para o alto logo que os primeiros vestígios da luz surgissem, podia-se envaidecer-se com a claridade visível do céu antes do nascer do sol, a alvorada mais formosa, bem ao leste, na Fazenda Ferrari.  O casarão em que viviam era antigo, tinha sido construído pelo avô de Madeleine, rodeado de flores brancas, as mais belas e perfumosas. Da varanda, ela podia observa a imensidão do campo a fora. Lá os pássaros cantavam em um coro que não desafinava nunca, e a menina adorava ouvir o cacarejar do galo Frederico, um galo comportado, que não podia ultrapassar os limites da varanda, a mãe provavelmente o colocaria na panela, caso ela desrespeitasse as regras e como Madeleine queria que o senhor Frederico pudesse envelhecer ao seu lado, ficava de olho em tudo que o galo fazia.

Seu pai ter que ir à cidade comprar alimento era algo que acontecia raramente. Lá na fazenda tudo era plantado, o café era ensacado e vendido para os comerciantes que vinham buscar uma vez ao mês, o pai era um homem tímido e vivia quieto, mas quando se tratava da filha ele não tinha papas na língua, os dois falavam pelos cotovelos. E as tardes de domingo em que caminhavam pela pequena trilha num espaço bem apertado no meio da floresta eram as mais divertidas para Madeleine. Eram também às tardes em que o pai a ensinava a cavalgar, o cavalo Bili trazia ao redor da crina um colar de flores que o pai colhera para a menina.

- É bom você correr, antes que fique tarde e pegue a estrada com a noite já caindo. Parece que vai chover. - Mattia olhou para o céu. - Lembre-se de trazer linhas. - finalizou Aurora, com uma caneca na mão, sentando-se no primeiro degrau da pequena escada da porta de entrada.

- Não há porque se preocupar, assim que terminar aqui eu vou. - respondeu o pai empilhando os sacos de café.

Madeleine gostava quando o pai tinha de ir a cidade, pois a Sra. Marta , a dona da quitanda que tinha uma variedade infinita de doces, lhe mandava um agrado, ela adorava.

Quando o pai subiu na charrete, Madeleine esticou uma das mãos miúda e acenou.

- Tchau papai. Eu vou te esperar acordada, não esqueça de trazer os meus doces e agradeça a sra. Marta, diga que são os doces mais gostosos.

Eles nunca visitavam ninguém e Madeleine não podia ir com o pai até a cidade, ainda não, a mãe dizia que somente quando ela completasse dez anos. A menina ansiava por este dia. O povo da cidade dizia que os Ferrari viviam num lugar inóspito, o casarão precisava de reforma, mas nunca lhe sobravam nada, e que aquilo não era vida. Mas a família não se importava com os rumores que aguçavam os ouvidos dos desocupados da cidade.

A noite caira, o céu estava rajado de raios e o vento parecia soprar bem forte. A menina estava intrigada com a demora do pai e com o comportamente inquieto da mãe. Madeleine logo pensou que alguma coisa tivesse acontecido, o pai nunca se demorava, ela tinha só nove anos, mas a inteligência de uma menina de quinze.  Depois do jantar ela perguntou a mãe aonde o pai foi e por que estava demorando. Mas Aurora não lhe explicara nada, apenas disse que logo ele estaria chegando e que estava na hora delas irem deitar, pois Madeleine tinha de ir a escola na manhã seguinte.

Mas a menina pensou. - E se o papai não voltar, como irei a escola?

Depois do chá, a mãe fechou a janela ainda entreaberta, o ventou então cessou, agora Made não poderia mais olhar para o portão. A mãe  a colocou na cama, ajeitou a coberta dando-lhe um beijo na testa, as velas foram apagadas, depois ouviu as orações da mãe aos pés de sua cama.

Querida MadelineWhere stories live. Discover now