II - Mudanças

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Era dezembro e fazia muito frio, talvez o inverno mais frio dos últimos tempos e Madeline colocou mais carvão na lareira. Ela fazia isso desde os 9 anos, quando seu pai foi embora, logo depois ele começara a lhe mandar cartas, mas ela não respondeia nenhuma delas, sua mãe não permitira. Mas, ela as guardava no fundo da gaveta para que um dia pudesse ler e lembrar do pai, se o seu coração permitisse.

Querida Madeline

Espero que esteja bem, o papai sente saudades sua. Um dia, em breve, eu volto para que possa ver minha garotinha de olhos castanhos e cabelos pretos. Quando for à escola, diga àqueles garotos que não zombem de você, pois seu pai é um homem de punho forte...


Levando a lancheira na mão direita e os livros na esquerda, Madeleine seguia em passos lentos o caminho da escola, todos os dias, no mesmo horário. Ela observava tudo ao redor, os pássaros voando em bando, as relvas ainda molhadas, os coelhos saltitando as escondidas, cheirava as diversas flores que encontrava pelo caminho, via as meninas da sua idade, entre 12 e 14 anos, de mãos dadas com o pai ou com a mãe, ou até mesmo com os dois, nesse momento uma lágrima quase lhe escapava dos olhos. Mas ela as engolia. Madeline era firme e jurara não deixar nada fazê-la chorar. Ela gostava do perfume que as árvores secas exalavam e observava atenta os cavalos com os pelos vistosos, os mais belos que já vira. Apenas vinte árvores e ela estava na escola. As paredes eram brancas e o teto parecia o céu de tão alto e claro. Uma garota peculiar, dizia Fillipe quando passava por ela com seu chapéu surrado. Assim que chegava, Madeline desejava que à aula acabasse rápido, assim ela poderia voltar para casa e brincar no celeiro com Bili, o cavalo que era do seu pai. Talvez a única lembrança que lhe restara dele.

No entanto, a manhã parecia longa e os meninos não lhe davam folga. Fellipe vez outra a olhava por baixo do óculos. E apenas Bertani, a menina mais rica da escola ia em sua defesa. Madeline era tímida, embora seu pai sempre dissera ao contrário, ela não era uma garota que fazia amizade fácil, e mesmo que tentasse, as risadas sobre seus trajes não passavam despercebidas.

Havia pouca diversão para ocupar o tempo das meninas no intervalo, os meninos jogavam bola e corriam, já as meninas pareciam ter que respeitar uma infinita lista de regras das quais Madeleine detestava. O lago na frente da escola rodeado de pinheiros dava a ela uma sensação leve de liberdade. Como se ela não precisasse pertencer a nada, ser somente ela, sem aquelas etiquetas todas que a escola impunha.

A uma semana para completar seus quinze anos, Madeleine não sabia se estava preparada para viver num mundo diferente do que vivia hoje.

– Ah, chega, minha cabeça já está rodando. – gritou ao vento irritada. Lenvantou-se repentinamente, encarou o imenso campo em torno da escola, e com base em seu pensamento susurrou - Não vou me casar! - Ela sabia que depois dos quinze anos já seria quase uma mulher e teria que pensar em casamento. Aquilo ficou assombrando seu pensamento e enquanto comia seu lanche afastada dos demais, Bertani aproximou-se e disse:

– Eu trouxe bastante torta de maça, você gostaria de comer um pedaço? Foi minha mãe que fez, garanto que nunca comeu nada parecido. – Bertani tinha os cabelos cacheados, os cachos eram perfeitos e sua pele era branca, tão branca que suas bochechas viviam rosadas, ela carregava um brilho no olhar quando avançou na direção de Madeline.

– Mas eu não quero lhe causar problemas. – a voz de Madeleine saiu tão suave que Bertani quis ter lhe oferecido sua amizade desde o primeiro dia.

– Não vai me causar problemas. É um prazer dividir meu lanche com você, Made. Posso lhe chamar assim?

Antes de responder seu sorriso surgiu desprevinido.

Querida MadelineWhere stories live. Discover now