III - Estrela

11 2 0
                                    




Madeleine estava afogada em lágrimas quando percebeu que bem longe podia-se ouvir o som de algumas vozes. Inclinou-se lentamente em direção a pequena janela que dava para a varanda da frente, espiou por baixo do tecido amarelado e viu que haviam algumas pessoas na porteira, pessoas que ela jamais tivera visto antes. Não sabia se devia levantar ou permanecer ali, porém, aquelas pessoas não pareciam dispostas a irem embora, então ela abriu a cortina com um gesto rápido e gritou.

O que querem aqui?

Menina Madeleine, deixe-me entrar, preciso ter um dedo de prosa com você.

Vão embora. Não quero que entrem.

Madeleine, vamos entrar de qualquer jeito. - disse uma voz feminina.

Insatisfeita com a presença de todas aquelas pessoas, amarrou os cabelos e caminhou em passos mansos até o portão.

Quem são vocês? - perguntou raivosa.

Madeleine, sou o padre Bento, esses são alguns fiéis que vieram ajudar.

Não estou precisando de ajuda.

Madeleine, sabemos da morte de sua mãe, sentimos muito e queremos que venha conosco.

Eu não vou a lugar nen.

Não pode viver aqui, é muito jovem para ficar sozinha. - a mesma voz feminina de antes, a interrompeu.


Madeleine engoliu as lágrimas teimosas que escorriam por sua face avermelhada.

Eu estou muito bem. E aqui é a minha casa, já disse, não vou a lugar nenhum.

Madeleine, não pode morar sozinha, você ainda é apenas uma menina, os conselheiros não aprovarão.

Quem precisa aprovar é meu pai e minha mãe. Como sabem, minha mãe...não está mais aqui, virou uma estrela e ela está me olhando lá de cima, ela sempre dizia que estaria me olhando aonde quer que eu fosse, então ela está lá, mas está me olhando.

E o seu pai? - perguntou o padre Bento.

Fez-se um silêncio e a menina nada respondeu.

Eu sinto muito, sei que deve estar sendo muito difícil, entretanto é preciso seguir em frente, você não pode morar num lugar tão longe. Como vai se alimentar?

Plantando.

Madeleine, o plantio precisa de tempo para que a colheita seja feita, e você é jovem, não conhece a terra o suficiente para viver dela. - a voz feminina irrompeu mais uma vez.

A menina a encarou com certo desprezo e continuou a olhar para o céu, perdida em pensamentos assombrosos.

Me chamo Gema, sou a mãe de Bertani, ela pediu que eu viesse aqui, ela tem sentido sua falta na escola. 

Os olhos de Madeline encontraram os de Gema.

Eu não tenho tido tempo de ir à escola, mas diga a Bertani que agradeço a preocupação e o carinho.

Madeline, você precisa ir à escola. - o padre interviu.

Ainda não consigo - respondeu ríspida.

Aquela nem de longe parecia-se com a menina Madeleine, uma menina doce que respeitava os adultos, obediente e responsável.

Tudo bem se não consegui - Gema se aproximou e a menina recuou - o luto é um processo demorado, mas você vai superar, e como você disse, sua mãe está lá em cima cuidando de você. Agora é preciso que você se cuide aqui embaixo, e pra isso precisa ir à escola, precisa vir conosco.

Já disse que não vou- ela abaixou a cabeça e se recompôs - Agradeço a preocupação de todos e não quero parecer grosseira, mas peço que todos vocês saiam da minha propriedade e não voltem mais.


Um dos homens se aproximou da menina na intenção de segurá-la à força pelos braços, mas Gema e o padre impediram, disseram que iriam embora e que quando Madeline estivesse pronta era só os procurar na igreja. Ou se ela se sentisse melhor conversando com Bertani, poderia ir até a sua casa, que fica a duas quadras da escola.

Madeleine consente e vira de costas para todos, caminhando em passos largos de volta para o casarão, sem olhar para trás.

Querida MadelineWhere stories live. Discover now