26 | Vamos sair daqui?

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Lion

- Desculpa - eu me afasto, respiro fundo e sorrio ao me recordar do emprego. Eu não sei se esse é um bom momento para falar sobre isso, ela não deve estar nem um pouco interessada em saber da minha vida depois de tudo o que rolou. Mas... ah, dane-se, eu preciso ser um pouco menos pessimista. - eu consegui um emprego.

- O que? - ela sorri, parece animada. Ela está realmente interessada ou só está fazendo isso para não me deixar sem graça? - onde exatamente? Não foi em nenhuma oficina não, né? Você não parecia gostar muito disso.

- Não, não! Eu consegui emprego da Editora Caruso! Vou ganhar dois mil e quinhentos dólares por mês, dá é sobra para ajudar o meu pai em casa!

- Meu Deus, parabéns, Lion - ela estende os braços e me puxa para perto - eu sabia que você conseguiria algo muito melhor do que aquela oficina.

- Sim... e falando no meu pai, ele está um pouco estranho - mexo na nuca, medindo as reações dela. Não quero entupi-la com problemas da minha vida, quero que fique tudo bem entre nós - ele chegou um pouco perdido em casa hoje, parecia perdido no tempo, ele até me perguntou se eu não deveria estar na escola! E não foi só uma vez, ele me perguntou muitas vezes e depois me chamou de pequeno.

- Talvez ele só esteja brincando com você.

- Eu não acho que ele estava brincando. Ele não é de muitas brincadeiras, até reclamou quando não viu comida nos armários, disse que eu estava me tornando um menino insaciável e depois me deu boa noite, sendo que ainda era uma da tarde.

- Ele deve estar apenas cansado, Lion. Não disse que ele passou a noite inteira fora com os pacientes?

- Sim, ele passou sim.. mas eu estou preocupado.

- O que você acha que pode ser?

- Sei lá... eu nunca o vi daquele jeito, mas ultimamente ele vem demonstrando algumas coisas estranhas... ainda essa semana ele ficou louco atrás da chave dele, não sabia onde tinha a colocado, sendo que estava no lugar que ele sempre deixa.

- Eu também esqueço essas coisas de vez em quando, a nossa cabeça é cheia de altos e baixo. Não precisa se preocupar, eu ainda acho que é cansaço emocional! O seu pai, assim como você, já passou por coisa demais nessa vida. E para ele deve ter sido ainda mais difícil quando a sua mãe foi embora, porque não deve ser fácil para um homem criar uma criança sozinha.

- Hã?

- Geralmente as mulheres tem mais facilidade com bebês, Lion... as mulheres já nascem querendo brincar de boneca, já os garotos só querem saber de carrinhos ou de brincar na rua. Nem sempre os homens levam jeito com crianças, isso é comum! O seu pai deve ter se sentido perdido quando tudo isso aconteceu.

Ela olha para mim com aquela cara que eu não compreendo. Ela desce do balcão e me encara com os olhos intensos.

- Eu gosto de crianças.

- Sim, eu não estou dizendo o contrário. Apenas acho que para os homens deve ser mais difícil criar uma criança sozinhos, eles nunca estão habituados com o trabalho de casa. - ela enche um copo de água, volta a se encostar no balcão e me encara mais uma vez - o meu pai mesmo, ele quase nunca está em casa ou faz o serviço doméstico.

- O que? Eu sempre fui acostumado a lavar a casa, lavar tudo, fazer comida e tal... a minha mãe nunca me deixou quieto, e nem meu pai! Depois que a minha mãe foi embora éramos apenas eu e ele limpando a casa para deixá-la no mínimo habitável... era estranho viver sem a minha mãe, mesmo que ela me batesse noventa por cento do tempo, era bom tê-la por perto, eu me sentia alguém normal..

ᕼᥱᥲʋᥱᥒWhere stories live. Discover now