Capítulo 28

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Raul

Ter finalmente contado a Fernanda sobre Laisa me fez muito bem. Não queria nada entre nós, e me sinto muito mais leve. A semana estava sendo intensa no trabalho, depois da demissão de Tatiana, estava procurando outro profissional para substituí-la e já havia feito várias entrevistas. Não estava satisfeito com o que tinha acontecido, Tatiana era uma ótima funcionária, sua competência e amizade, desde a época da faculdade, nos tornaram próximos.

Era uma pena que ela não tenha entendido que entre nós não aconteceria mais nada. Mesmo antes de Fernanda eu não queria. Ela era muito invasiva, interferia em tudo, forçava sua presença na minha casa e era extremamente desagradável. Antes de nos envolvermos ela não era assim, mas depois ficou insuportável. Em respeito a nossa amizade na faculdade, e por ser uma boa profissional eu a mantinha na empresa, apesar de odiar os seus avanços.

Nunca ficaria com ela, era uma mulher linda, mas às suas atitudes não. Eu via que ela fingia ser simpática com Rosa na minha frente, percebia como ela se esforçava para tratá-la com o mínimo de respeito. Rosa era muito além de uma funcionária, era uma amiga que me ajudou e ainda ajudava muito com Clara. E o que mais me fez jamais cogitar um relacionamento sério com ela, era justamente minha filha. Ela engolia a presença da minha menina, forçava sempre umas situações ridículas e algumas vezes, quando sua máscara caia ela tinha uns ataques. Nunca permitiria alguém assim ao meu lado, uma pessoa que pudesse desfazer ou maltratar minha filha.

Apesar de como tudo aconteceu estava aliviado. Não queria problemas. Minha relação com Fernanda estava cada dia mais sólida e não permitiria que uma maluca nos atrapalhasse.

A semana tinha sido uma loucura, e fui obrigado a trabalhar até mais tarde na sexta. O que me deixava tranquilo era saber que Clara estava sendo bem cuidado pela minha namorada. Sorri ao lembrar do momento que ela invadiu meu quarto de madrugada e me pediu em namoro.

Estava pensando em um jeito romântico de oficializar nosso compromisso. Fernanda merecia o mundo e eu estava disposto a fazer tudo por ela.
Dormimos juntos, os três, na minha cama. Era bom demais ter minhas meninas nos meus braços. Nunca me senti tão tranquilo e feliz em toda minha vida.

A segurança e a paz que Fernanda me dava eram tudo que eu precisava, tudo que eu desejei para minha filha.
Acordei primeiro que elas e sai de fininho da cama para preparar o café da manhã especial de sábado. Eu amava esses momentos com a minha filha e depois que Fernanda chegou na nossa vida, eles ficaram ainda melhores.

Clara definiu a nossa programação bem preguiçosa. Ela queria ficar agarradinha, como na noite passada, vendo filmes. Fernanda amou e quem sou eu para negar o que as duas desejavam.
Ficamos de manhã na piscina, eu admirando minha namorada com um biquíni tentador. Depois almoçamos a comida deliciosa de Rosa, Fernanda fez um brigadeiro para comermos com morangos e já estávamos no segundo filme, com Clara entre nós no sofá quando a porta da sala de TV foi aberta bruscamente.
Tatiana entrou aplaudindo e minha filha pulou com o susto que levou.

— Que lindos! Pai, filha e a golpista juntinhos.

Eu me levantei sem entender o que estava acontecendo enquanto Fernanda tentava acalmar Clara que estava muito assustada.

— O que você está fazendo aqui Tatiana?

— Você não aprendeu nada com o golpe que a Laisa te deu e já está caindo em outro. Preferiu me jogar pra fora da sua vida, enquanto essa daí te passa a perna.

Ela estava descontrolada, gritando e apontando para Fernanda.

— Você está assustando a minha filha, por favor, retire-se da minha casa.

Fernanda se levantou com Clara no colo e um verdadeiro caos se formou quando ela disse que ia levar minha filha para o quarto e Tatiana a cercou segurando-a pelo braço e forçando-a a ficar na sala.

— Você vai ficar e me ver te desmascarando sua vagabunda.

— Já chega Tatiana!

Perdi o controle e acabei gritando. Não ia permitir que ela fizesse esse escândalo dentro da minha casa, na presença da minha filha e ainda ofendesse minha namorada. Rosa apareceu aflita e pedi que levasse Clara para o quarto.
Minha filha grudou na Fernanda e não queria ir de jeito nenhum.

— Vai com a Rosa filha, já, já o papai sobe pra ficar com você.

— Não papai.

Fernanda cochichou algo em seu ouvido, o que fez com que ela fosse para o colo da minha funcionária, porém uma das mãozinhas permaneceu no pescoço de Nanda. Como se, numa última tentativa, ela conseguisse não ir.
Num piscar de olhos eu vi Tatiana aproximando-se das três e forçando, com violência, a mão da minha filha a soltar o pescoço de Fernanda.

Rosa saiu quase correndo da sala enquanto minha filha gritava, chorando. Eu não tive tempo de fazer nada, confesso que minha vontade era de matá-la com as minhas próprias mãos depois de vê-la sendo violenta com Clara, Fernanda atravessou o espaço que as separava e segurando Tatiana pelo pescoço a arrastou até prendê-la contra a parede.

O barulho do corpo de Tatiana se chocando contra a parede foi impressionante. Ela tentava se soltar em vão enquanto Fernanda a sufocava.

— Você pode me ofender, me agredir o quanto quiser. Mas não chegue perto da Clara novamente. Se você encostar nela, eu vou cortar suas duas mãos fora. Eu te mato se você colocar suas mãos nela de novo.

Tatiana estava desesperada por ar e ficando muito vermelha. Corri na direção das suas, saindo do meu estado de topor.
Toquei o ombro de Fernanda e a chamei baixinho, como se saísse de um transe ela me olhou e tirou sua mão do pescoço de Tatiana que agora estava marcado pela força que minha namorada usou.

— Saía da minha casa. — Sussurrei já cansado de toda aquela situação. Só queria ver minha filha e confirmar que ela estava bem. Fernanda tremia parada ao meu lado e juntos vimos Tatiana tirar um envelope de dentro da bolsa que usava.
Ela o estendeu a mim.

— Espero um pedido de desculpas quando você ver quem é a sua babá.

Fiquei indeciso se pegava ou não o envelope, mas querendo acabar logo com aquilo já que Tatiana continuou com ele estendido, o peguei e tirei o conteúdo. Eram fotos de Fernanda em várias situações num prédio de luxo no Rio.
As datas mostravam que eram fotos recentes.

— Ah não ser que você pague uma pequena fortuna de salário para a sua babá, ela tem alguém bancando esse apartamento.

Eu fiquei perdido no meio das duas. Fernanda avançou pra cima de Tatiana mais uma vez eu precisei impedir. Joguei as fotos no chão e tirei minha ex funcionária arrastada para fora da minha casa. Ela gritava histérica enquanto ofendia minha namorada. A coloquei para fora dando ordens aos seguranças que sua entrada era proibida.

Tentei assimilar durante o pequeno percurso de volta pra casa o que tinha acabado de acontecer. O que Fernanda fazia naquele prédio? Tatiana estava certa em uma coisa: Um apartamento naquele lugar custava uma pequena fortuna. Como ela pagava?
Eu não queria tirar qualquer conclusão precipitada, por isso iria conversar e ver o que Fernanda me diria.

A encontrei sentada no sofá da sala, com as fotos nas mãos. Ela passava uma a uma das   muitas imagens. Suas mãos tremiam e assim que entrei ela notou minha presença.
Pelo visto teríamos mais um momento de revelação.
Só desejava que fosse algo totalmente oposto ao que Tatiana disse.
Eu amava e confiava em Fernanda, aquela história tinha que ter uma explicação.

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora