1.𝕋𝕦𝕓𝕦𝕝𝕒𝕔̧𝕠̃𝕖𝕤

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Em meio a uma multidão de cabeças ferventes de um dia de trabalho, por baixo das ruas da grande metrópole que consome tudo e todos, o tempo topo, o rapaz entra no trem, se senta perto da janela e coloca seus fones de ouvido. No antigo iPod toca Boys Keep Swinging, de David Bowie.(Provavelmente a sua música favorita do momento).

Por que pessoas, tidas como "cidadãos de bem" tem o péssimo hábito de demonizar tudo aquilo que não está no meio delas? Isso serve pra absolutamente tudo. Desde a orientação sexual de alguém, até a cultura de outras pessoas. Também é engraçado perceber como essas mesmas pessoas adoram inverter símbolos e ideias dessas mesmas culturas, para se encaixar no seu "padrãozinho", e muitas vezes mascarando e alterando fatos da história para a própria glorificação. Elas ainda tem uma repulsa enorme quando obras, já consolidadas, alteram a etnia ou sexualidade de algum personagem, sendo que eles fazem o mesmo com a história há milhares de anos. Elas estão tão alienadas nas mentiras que inventam, que não conseguem ver que eles que começaram esses "hábitos de adaptação".

Outro dia eu ouvi um cara dizer que o Bowie, na verdade, era hétero, e que ele passou anos "fingindo" ser bissexual por Marketing...Ah, e ele tinha "provas", ele usava como argumento a postura do Bowie como Tin White Duke, fazendo gestos racistas em um desfile. Dizendo "Ah... mas ele(Bowie), estava interpretando um personagem, ele não era assim de verdade. Do mesmo jeito que quando ele se assumiu bissexual, ele também estava interpretando um personagem, o Ziggy Stardust, então essa história de que ele dava a bunda, é tudo invenção da militância para querer deturpar o símbolo do Bowie."

Eu estava no ônibus quando ouvi essa merda. O argumento do Tin White Duke, faria bastante sentido, se Bowie não tivesse afirmado esse fato(a bissexualidade) outras vezes em outros momentos.

Próxima estação, next station, São Caetano. Desembarque pelo lado esquerdo do trem. Exit on the left side -


Será que essas pessoas têm um sentimento de posse sobre nossos símbolos, porque tem medo de se perderem no meio de outros símbolos? E perceberem que a visão de mundo deles não é a única?

Que coisa, viu...

*Andando em sua direção, o professor percebe uma voz muito familiar cantarolando o que para os seus ouvidos parece Boys Don't Cry do The Cure.

Com certeza é um conhecido, se não ele não o reconheceria tão bem, mas sua memória é muito ruim quando se trata de lembrar de pessoas.*

Eu só conheço uma pessoa que seria idiota o suficiente para sair cantarolando assim em um espaço publiblico.

*Esticando um sorriso de orelha a orelha, uma jovem estudante de direito, com uma echarpe cinza e olhos cor de esmeralda se senta ao seu lado.*

E ai vacilão, suave? -

De boa e você? Tá vindo de onde? -

Do estágio na Barra Funda... MANO, 'CÊ NÃO ACREDITA -

*Diz a garota virando abruptamente em sua direção.*

O que ? -

Eu tava analisando uns caso simples, para levar pro Fernando, e encontrei um depoimento de um viciado no meio da papelada de homicídios. Era um relato sobre o que aconteceu com os seus "amigos" na "Santa Cecília"... já viu né? -

Ok entendi... continua. -

Então, ele contou que estava voltando do Brás e encontrou com eles na São Bento, e que foram andando até a Sé. Ele enfatizou o fato de ter encontrado com eles em frente a saída do metrô, e que eles estavam se cagando de medo, que queriam sair daquele lugar o quanto antes. Eu achei que era mais uma história de alguns viciados que tinham roubado alguém que estava distraído no centro, e que a polícia estava atrás deles. Mas conforme eu fui lendo aquilo, fui encurvando na cadeira. Quando eles chegaram na Sé, o homem do depoimento queria se sentar para "aliviar o estresse ", mas os outros não deixaram. Arrastaram ele para dentro da catedral.

𝙸𝚗𝚏𝚎𝚕𝚒𝚣𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎, 𝚊𝚗𝚊𝚛𝚚𝚞𝚒𝚜𝚝𝚊𝚜.Onde histórias criam vida. Descubra agora