Capítulo 4

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Na manhã seguinte, na aula de inglês avançado, enquanto a srta. Lee está tagarelando sobre as imagens, os personagens e os temas em que quer que prestemos atenção em Bartleby, o escrivão, começa um anúncio no alto-falante. Todos, ao mesmo tempo, se viram para mim. 

Tenho estado bem nervoso, mais do que de costume, porque, pelo terceiro dia seguido, minha carta ainda não voltou para as minhas mãos, tampouco foi divulgada, e a pessoa que a roubou não deu as caras, nem o irmão dele. Eu chamaria isso, este estado em que me encontro agora, de pânico absoluto, mas, na verdade, não sei ao certo se já estive tão alarmado a este ponto. É quase alucinante. Até a srta. Lee está me olhando.  

Levo pouco mais do que alguns segundos para entender por que, de repente, me tornei o centro das atenções da turma: foi o meu nome que acabou de ser chamado pelo alto-falante. 

Eu? Choi San? Não sou o tipo de aluno que é chamado para ir para a diretoria. Isso costuma ser reservado aos delinquentes, aos engraçadinhos e aos bagunceiros. Pessoas cujas ações afetam os outros. Eu não afeto ninguém. Sou inexistente. 

— San? — a srta. Lee me chama, confirmando que, sim, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente. O diretor quer me ver... agora. 

Quanto mais pessoas me observam, mais desajeitado fico. Com cerca de vinte e cinco pares de olhos vidrados em mim, levanto rangendo a cadeira, que bate na carteira atrás de mim, chuto a minha mochila aberta no chão, e quase tropeço no pé de uma pessoa antes de sair da sala. 

Enquanto atravesso os corredores vazios a caminho da diretoria, uma apresentação de slides dos piores cenários possíveis passa na minha cabeça. Imagem, personagem e tema percorrem minha mente: carta, Jung Yunho, humilhação.  

Em três anos, só tive uma interação com o diretor. Quando estava no segundo ano, fiquei em terceiro lugar em um concurso idiota de contos e o sr. Howard me entregou um prêmio em uma de nossas assembleias gerais. Minha história era baseada em uma viagem de pesca que fiz com meu pai quando eu era pequeno e era basicamente uma imitação de "O grande rio de dois corações", do Hemingway. Eu não ficaria surpreso se o sr. Howard não se lembrasse desse dia porque, na verdade, o concurso foi irrelevante e o terceiro lugar é praticamente o mesmo que nada.

Mas por que o sr. Howard quer me ver hoje? 

Chegando à diretoria, tento secar as mãos na blusa, mas elas não param de suar. Digo meu nome para a secretária e ela aponta para a porta aberta atrás dela. Vou andando devagar até ali, como um policial que se aproxima de uma esquina escura. Só que não sou o policial nessa cena. O diretor Howard é o policial, o que faz de mim o criminoso. 

O dr. Park diz que tenho tendência a tratar tudo como uma grande catástrofe, e que nada é tão ruim quanto imagino que será, mas essa situação é a prova definitiva de que eu estava certo em me preocupar durante os últimos dias. Todas as partes dessa equação — zero Yunho mais zero Wooyoung mais a carta idiota mais ser chamado à diretoria — equivalem a um total de humilhação e desgraça que não sou capaz nem mesmo de estimar. 

Coloco a cabeça para dentro da sala. Não vejo o sr. Howard, mas tem um homem e uma mulher sentados à frente da mesa dele. Eles parecem confusos com a minha chegada. Não há nada de importante ou oficial na sala, definitivamente não é o que eu imaginava como centro de operações de um diretor. Mas tem a cara do sr. Howard em todos retratos, então devo estar no lugar certo. O homem está curvado na cadeira, os cotovelos apoiados nos joelhos, os ombros largos preenchendo todo seu paletó. A mulher está atordoada, com os olhos vermelhos voltados em minha direção, mas não parece me ver. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora