Capítulo 7

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No caminho de volta para casa depois do velório de Yunho, mandei uma mensagem para Jongho, digitando mais rápido do que conseguia andar.

Por que eu fui? 

Jongho:
Falei para você não ir.

Só estava tentando 
fazer a coisa certa. 

Jongho:
Quem disse que era a coisa certa?

Eles me convidaram pra jantar.
Querem saber mais sobre Yunho e eu. Sobre nossa “amizade”. 

Jongho:
Está ficando divertido agora. Quando você vai? 

Acho que não vou
conseguir fazer isso. 

Jongho:
Tira fotos.
Quero saber como é a casa deles.

Paro em um cruzamento movimentado, os carros passando em alta velocidade. Já passou das sete da noite. Minha camisa parece estar me sufocando. Tudo que quero fazer é deitar na cama e me esconder embaixo das cobertas. Ultimamente, toda vez que saio de casa, acabo me metendo em mais e mais confusão. 

O semáforo abre para mim e volto a andar, atendendo a ligação que Jongho faz para mim na hora.

— Então você acha que devo ir pro jantar? 

Agora você tem de ir. O que vai falar pra eles? 

— A verdade. Preciso falar a verdade de uma vez por todas. 

A verdade? Sério mesmo? 

— Por que não? 

Você acha que vai pra casa dos Jung e vai só explicar para eles que a única coisa que restou do filho é uma carta de fetiche sexual bizarra que você escreveu pra você mesmo? Você percebe que pode ir pra cadeia por causa disso se for pego, certo? 

— Mas eu não fiz nada. 

É, odeio dizer isso, San, mas você deve ter cometido perjúrio. 

— Isso não é só sob juramento? Tipo, num tribunal? 

Bom, você não estava sob juramento? De certa forma? 

— Hum, não. 

Faça um favor para você mesmo e me escuta dessa vez. Você quer ter outro surto como no ano passado na aula de inglês em que tinha de apresentar aquele seminário sobre Daisy Buchanan, mas em vez disso ficou olhando suas anotações e dizendo “hum, hum, hum” várias vezes como se estivesse tendo um derrame? 

— O que você espera que eu faça? Continue mentindo? 

Não falei pra mentir, só concordar com a cabeça. O que quer que eles digam sobre Yunho, você concorda. Só não se contradiz e não inventa porra nenhuma. Não falha nunca. Literalmente nada que falo pros meus pais é verdade e eles nem desconfiam. 

Absorvo as instruções de Jongho. Estou tentando aceitar o que ele diz que devo fazer ao mesmo tempo que penso em maneiras de não fazer isso. No momento, a única casa em que quero estar é a minha. 

Está escurecendo quando chego. A entrada está vazia e as luzes apagadas. Ignoro os envelopes e panfletos abarrotados na caixa de correio. Nenhum deles é para mim. 

A porta da frente resmunga quando empurro para abri-la. Entro, finalmente, mas não sinto o alívio que achei que sentiria. 

Tem um bilhete na porta do meu quarto: “Sit tight. Take hold. Thunder Road!”. Quando não é uma previsão astrológica, minha mãe cita letras de músicas do Bruce Springsteen. Parece que ela não tem a menor ideia de como se comunicar comigo. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora