1.

5 0 0
                                    

Dia 10 - Primeira Sessão de Lucy

Era mais uma quarta feira onde eu começaria atendendo uma paciente um tanto quanto... perturbada? Eu sei, eu sei! Não é certo falar assim sobre eles, mas nunca contei a ninguém o que acho sobre cada um, então está tudo bem.

Tudo em minha vida se encontrava perfeitamente bem, profissional, pessoal e romântica. Não sou um cara que engata relacionamentos, até porque lido com tanta confusão de sentimento dos outros que prefiro me manter solteiro, é mais fácil conciliar.

Meu café da manhã era sempre tomado no consultório enquanto eu lia uma rápida análise feita sobre a paciente. As pessoas precisavam passar por isso antes de ser atendidas por mim, para que eu saiba com o que vou lidar.

No relatório foi constatado que a garota tinha altas crises de ansiedade, acompanhadas de manias constantes que a mesma dizia não saber do que se tratava. Odiava sair sozinha para lugares lotados e sempre se sentia mal quando pensava nas pessoas olhando para ela e para seu corpo.

Não é lá muito diferente do que costumo ver, mas é sempre curioso conhecer pessoas com distorção de imagem, eu as vejo e quase sempre não tem razão pela qual reclamarem, mas é algo que preciso auxiliar.

Ao lado do texto, havia uma foto estilo 3x4 que mostrava o rosto dela. Uma jovem muito bonita e que não parecia estar tão transtornada como descrevia, porém era algo para se avaliar.

— Sr. Lewis? — a secretaria abriu a porta, olhando diretamente para mim. A encarei, esperando o que fosse dizer. — A Lucile Ramirez chegou.

— Peça para que ela entre, já estou pronto. — falei, ajeitando os papéis em cima de minha mesa. A porta se fechou antes mesmo de eu voltar a olhar naquela direção.

Estava tudo no jeito... As canetas por ordem crescente em cima da mesa. As folhas alinhadas e nada além de mim, fora do lugar. Eu precisava me sentar na outra cadeira.

Não demorou muito para que a porta se abrisse e eu fosse surpreendido por alguém sorridente. Ela estendeu a mão, como um cumprimento após fechar a porta.

— Bom dia, doutor. — disse ela, me deixando um pouco inerte por alguns minutos. Eu divaguei olhando para aqueles grandes olhos amendoados e cílios que os contornavam bem, acentuando graciosamente a doçura do seu olhar. Os cabelos castanhos que na medida que ia chegando as pontas, ficavam mais claros se esparramavam sobre seu colo.

Pisquei algumas vezes e segurei sua mão em um cumprimento.

— Bom dia, Lucile. — respondi e me sentei, fazendo um sinal para que ela fizesse o mesmo. — Como foi o começo de sua semana?

— Ah, foi bom, foi bem melhor que a semana passada. Trabalhei, estudei, passeei com meus cachorros... tudo bem até. — ela deu de ombros, não mantendo um contato visual.

— Antes de tudo, preciso te perguntar, você já fez terapia antes? Passou por algo parecido? — a questionei, vendo-a mexer os dedos de ambas as mãos sobre a coxa.

— Na verdade, fiz sim. Uma vez! Eu só precisei parar porque mudei de cidade. — Lucile soltou um suspiro melancólico e logo seu olhar se perdeu no chão.

— Entendi. Mas vamos lá, você disse que o começo da semana foi um pouco melhor do que a anterior... certo? — ela assentiu — E e o que houve na anterior que te fez achar essa melhor?

Lucile respirou fundo e soltou o ar pela boca, parecendo pensar veemente no que lhe ocorreu.

— Eu tive um surto! — riu de nervoso, esfregando uma mão na outra — Não foi o primeiro, mas esse foi um pouco severo... até demais. — ela engoliu seco enquanto erguia suas mangas compridas, mostrando os cortes que estavam em seus braços.

— Você tentou...? — perguntei assim que a olhei nos olhos, depois de ver os ferimentos.

— Não! — Lucille negou imediatamente — Não foi isso... eu só soquei uma janela de vidro e mais alguns vasos de cristal... — ela não manteve seu olhar sobre os meus, talvez por vergonha de si mesma. Assenti e anotei algo em minha caderneta. — Estava me sentindo mal, muito mal comigo mesma e só passou pela minha cabeça que devia acabar com aquilo.

— E como se sentia? — indaguei logo em seguida.

— Terrível! Como se eu fosse a pior pessoa do mundo ou como se a pior coisa do mundo fosse acontecer comigo. — ela colocou a mecha de cabelo atrás de sua orelha, encarando suas mãos sobre a perna — E infelizmente, ainda não consegui encarar isso de uma forma menos agressiva.

— Me diz uma coisa... — parei de escrever — O que te faz se sentir assim? Qual o seu gatilho, normalmente?

— Rejeição. — ela tentou sorrir, mas falhou quando pareceu não encontrar o que dizer em seguida — Mas, você sabe me dizer o que tenho?

Umedeci os lábios e sorri, ao ouvi-lá dizer aquilo.

— Não posso te agnosticar de primeira, Srta. Ramirez, você precisa vir mais vezes e só no final do tratamento, poderei dizer.

Ela assentiu, concordando. Com certeza ansiedade era um dos seus empecilhos, dava para ver pela forma que balançava sua perna e em como cutucava suas unhas involuntariamente, como se já fosse algo mais que comum, automático.

— Eu confesso que fiquei com medo de vir, me abrir para um completo estranho... — e enquanto ela falava, observei como seus lábios se moviam com cada palavra que saia de sua boca. Eram rosados e bem contornados, como o formato de um coração. Consegui reparar também em seu nariz, pequeno e levemente arredondado na ponta, o que ornava bem com seu rosto. —... Mas acredito que isso não será um problema. — forçou um sorriso, rápido e contragosto.

Me retirei dos meus devaneios perversos e voltei para a realidade mórbida, onde ela era somente a minha paciente.

— Eu concordo com você. De início pode ser que pareça estranho dizer sobre seus problemas a um estranho, mas com passar do tempo vai ver que fez um amigo... um amigo com propriedade para te aconselhar.

Ela assentiu, parecendo um pouco menos tensa que antes.

— Obrigada, acho que isso vai me ajudar em muitas coisas.

— Estou aqui para isso, para te ajudar a superar tudo que lhe impede de prosseguir. Sou como um guia... — brinquei, e ela riu concordando. — Só precisa vir em todas as sessões corretamente.

— Pode deixar, não vou faltar em nenhuma sessão, fique tranquilo. — deixou claro, como se a sua palavra fosse me aliviar.

— Assim que tem que ser. — disse, sem demonstrar nada além de sutileza. 

***

Oiiii, gente! Tudo bem? Essa é uma história original, que contém aviso porque aborda assuntos delicados, então por favor, não leiam se não se sentirem bem. Isso não é uma história de romance!!!

The Pacient Where stories live. Discover now