XVIII

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Passou-se um mês. Alan e Isaac tornaram-se ainda mais próximos, publicamente agindo como grandes amigos e privadamente como um casal. Durante esse tempo, o conde alimentou-se do sangue do inglês por mais uma vez (só precisava de o fazer uma vez por mês), mas isso não o impediu de puxar o seu amado para dormirem juntos, o que aconteceu com mais frequência.

Hoje, os dois passeavam no jardim do castelo. O sol, escondido por nuvens, não iluminava totalmente o dia, tornando o ambiente ameno e confortável, juntamente com uma leve e fresca brisa. As flores invernais, abertas, exalavam um odor doce, húmidas pelo orvalho da manhã fria.

Tudo era perfeito, com exceção de um leve desconforto que Isaac sentia. Não era nada demais, pelo menos era o que pensava.

Os dois falavam sobre alguma coisa; nada de importante, apenas casualidades. Sorrisos escondiam algo especial. As pessoas perfeitas, no lugar perfeito, à hora perfeita.

Enquanto caminhavam, o desconforto de Isaac ficava cada vez mais forte, dando-lhe uma forte dor de cabeça.

De repente, vacilou, deixando o peso do seu corpo a favor dos reflexos de Alan, que o segurou rapidamente.

Que boa a sensação de poder confiar em alguém que se ama, a sensação de que a pessoa que nos é querida nos ajudará nos momentos em que precisarmos.

"Isaac!" Foi a última coisa que ele ouviu antes de perder os sentidos.

Depois de uma indeterminada quantidade de tempo, o inglês finalmente acordou. O seu corpo estava pesado e sua cabeça cheia, mas sentia algo quente na sua mão, a envolvê-la. Eram as mãos do conde, sentado na cama ao lado dele, segurando-o como se não quisesse mais largar.

Assim que o viu de olhos abertos, abraçou-o.

"Isaac, o que aconteceu? Porque desmaiaste? Conta-me, o que há de errado?"

"Nada, eu estou bem..."

"Não consigo acreditar que não foi nada. Mas não te preocupes, Agaton foi até à vila buscar um médico."

"Eu já disse que estou bem, só tive uma leve tontura."

O olhar de Alan tornou-se doloroso.

"Porque não me dizes o que realmente se passa? Por favor, eu só quero ajudar-te."

Depois de ficar em silêncio por um tempo, Isaac ganhou coragem para tentar explicar, mas foi interrompido pela porta a abrir.

Do outro lado estavam Agaton e um jovem da idade dele; pela aparência, médico.

"É o senhor Cravin?"

"Sim, pode entrar."

"O meu nome é Nicolai e fui chamado pelo seu servo para o vir examinar."

O jovem entrou e dirigiu-se à cama, onde se sentou numa cadeira, do lado oposto a Alan. Segurou uma tabuleta e uma caneta, pronto para escrever.

"Sentiu algo antes de desmaiar?"

"Sim, um desconforto. No início, era quase impercetível, mas ficou cada vez mais forte até ao ponto de eu desmaiar."

"Como era esse desconforto?"

"Era como uma dor na barriga."

"Em que região da barriga?"

Isaac pensou um pouco, até que cobriu a região do cólon com a mão.

"Aqui."

"E há quanto tempo sente esse desconforto?"

"Desde hoje de manhã, depois de acordar."

"Isso já tinha acontecido antes?"

"Não, que eu me lembre."

O questionário continuou por mais algum tempo. Nicolai fez alguns exames e, depois de duas horas de testes, parecia que tinha chegado a uma conclusão.

"Isto é... impossível. Cientificamente impossível!"

"O que se passa?" Perguntou Alan, de forma séria e preocupada.

"Eu já verifiquei duas vezes, mas algo não bate certo. Hahaha, os resultados dizem que Mr. Cravin..."

"O que ele tem?"

"Bem, tudo indica uma... gravidez. Mas é impossível um homem estar grávido, não é?"

A sala ficou em silêncio.

"Não é?"

"Isaac," chamou Alan "é possível?"

"Como eu ei de saber? Só descobri agora!"

Alan pensou um pouco.

"Um homem grávido é humanamente impossível, não é?"

"Suponho que sim." Respondeu o médico.

"E se Isaac... não for humano?"

O homem em questão ficou chocado.

"Com todo o respeito, mas o que seria então? Um peixe palhaço? E como chegou a essa conclusão?" Murmurou Nicolai.

"Há algum tempo que reparei, mas não quis dizer nada a respeito porque achei que ele sabia. Do lado esquerdo da sua barriga, há uma marca em forma de estrela."

"E o que isso significa?" Perguntou Isaac.

Alan olhou para Agaton, que saiu rapidamente. Voltou dentro de segundos com um livro antigo e começou a ler.

"Lykánthropos. Subespécie, Lobisomem Branco. Uma notável e esperta criatura. Ao contrário dos outros lobisomens, este só se transforma em dias de eclipse, o que lhe dá mais chances de acasalar. Rapidamente adaptáveis, indivíduos desta subespécie podem passar-se perfeitamente por humanos. Tanto fêmeas quanto machos conseguem engravidar, e esse dom é transmitido às suas crias; as quais, durante a sua primeira lua azul, obtêm uma marca negra semelhante a uma estrela, que fica na pele para sempre. De facto, até depois de mortos essa marca permanece, pintada num dos ossos do seu esqueleto. Estado: quase extinto."

Quando acabou de ler, Agaton fechou o livro e encostou-o ao peito.

"Estás a dizer que... meu pai era um lobisomem branco?" Perguntou Isaac.

"É a única explicação lógica. Este livro está na nossa família há, pelo menos, nove gerações, por isso dificilmente está errado."

Uma lágrima verteu do olho do inglês.

"Isaac?" Chamou Alan, abraçando-o em seguida. "Meu amor, porque estás a chorar? Está tudo bem. Sabes que eu também não sou humano."

Nicolai estava pasmo. Era o único humano no meio de um grupo de seres sobrenaturais.

"Hehe, vocês não são humanos... não me vão matar, pois não?"

Foi Agaton quem respondeu.

"Por enquanto, não; mas não pense que pode simplesmente voltar para casa com um segredo destes revelado. Ficará aqui, trabalhando somente para nós. Pagar-lhe-emos com um quarto, comida e algum dinheiro, não precisa de se preocupar com a sua família."

Curiosamente, o outro sorriu.

"Eu não tenho família, deixei tudo para trás quando me quis tornar médico. E ainda, eu gostaria de acompanhar Mr. Cravin durante a sua gravidez, mesmo de graça. Não precisam de me pagar por isso!"

"Ficamos felizes que aceite a nossa proposta."

O pequeno choro de Isaac não parava, mas não era de tristeza. Ele beijou a bochecha de Alan e sorriu.

"Obrigado. Obrigado por me dares um filho."

O vampiro mais velho também sorriu, com uma pequena gota de água no canto do olho.

"Eu é que deveria agradecer. Eu vou ser pai!"

Com amor, DráculaOnde histórias criam vida. Descubra agora