Único

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Notas iniciais

Espero que gostem desta história feita para o desafio do projeto Operationstrix lá na plataforma vizinha.

E, por último, mas não menos importante, agradeço a Fuyuka_Hideki pela betagem <3

[...]

Correr até uma multidão de pessoas nunca me pareceu tão tentador como agora. A casa está silenciosa e minhas redes sociais estão desertas enquanto eu continuo a procurar por qualquer tipo de entretenimento que faça minha mente trabalhar. Contudo, apesar de tentar, o algoritmo do Instagram só consegue me entregar fotos tediosas de gatinhos, os quais já passaram pela minha timeline mais de dez vezes.

Resmungo alto, afundando a cabeça no travesseiro e esperando pelo momento em que meu pai ou minha mãe abra a porta, para que assim, finalmente, eu possa ler seus pensamentos e escapar do tédio do dia a dia — quem não quer saber sobre o dia atarefado de um espião e uma assassina de aluguel?

Ouço o barulho da porta de entrada e olho o horário, confirmando a chegada da mamãe, que grita meu nome e diz ter chegado. Eu retruco um pouco desanimada enquanto ela ainda fala sobre tomar um banho antes de vir me ver, porque — com certeza — sua aparência deve estar longe de uma dona de casa.

O silêncio volta a reinar, porém meu celular vibra e eu consigo sentir o alívio por poder conversar com alguém. O contato da Becky aparece no topo das notificações e um link enorme está estampado na metade da minha tela. Olho um pouco desconfiada e então leio em voz alta:

— “Você é a princesinha do papai?” — Encaro a tela do celular por alguns segundos e penso se devo apertar. — A Becky acha que sou mimada? — pergunto para mim mesma e encaro o Bond, que parece tranquilo enquanto dorme em sua mais nova caminha.

Nego minha pergunta e clico no link, que me direciona para uma nova aba do navegador. A matéria não é muito grande e há muitas fotos engraçadas entre pai e filha abaixo do subtítulo: “Você é a princesinha do papai? Reunimos cinco motivos para você descobrir se é a filhinha do papai.”

Dou risada da situação e descarto a possibilidade de estar sendo mimada. Apesar de carinhoso, não consigo lembrar de ver o Loid grudado em mim como um pai coruja e super protetor.

— Vamos ver o primeiro tópico! — digo animada, querendo provar minha teoria. — “Seu pai sempre tenta realizar os seus pedidos, mesmo que desagradáveis ou impossíveis” — proferi rápido, pensando nas vezes em que meu pai saiu de madrugada para comprar pasta de amendoim e na vez em que madrugamos na fila do novo filme do meu espião favorito. Sem falar da vez em que ele alugou um castelo para brincar de Bondman depois da minha aprovação no colégio Eden. — Ok, essa não valeu! Todo pai faz isso.

Rolo o dedo pela tela e vejo o próximo tópico:

— “Ele fazia e ainda faz de tudo para te ver sorrir, principalmente quando você tem um péssimo dia na escola” — murmuro e penso em todas as vezes que ele deixou de me dar uma bronca por causa da notas baixas, deixando de lado o objetivo da Operação Strix, já que levei mais tempo do que eu realmente tinha para conseguir as estrelas. — Droga, pai! — reclamo e olho para o pinguim de pelúcia que ele havia conseguido para mim em nosso primeiro passeio enquanto família.

Respiro fundo e repito dez vezes que não sou a princesinha do papai.

— “Seu pai é a primeira pessoa que você grita quando está em apuros” — falo baixo, semicerrando os olhos e me amaldiçoando, porque é verdade. Eu sempre grito por ele quando me machuco ou quando perco alguma coisa, mas não tenho culpa se ele sempre sabe onde está meu celular ou o Quimera.

Começo a ler o quarto tópico, todavia a voz de meu pai chama minha atenção. Loid grita alguma coisa sobre comida e eu digo que já vou, então, rapidamente, tento terminar de ler os últimos dois tópicos.

— “Ele fica com ciúme e sempre fala que nenhum garoto será bom o suficiente para você” — digo rápido, rindo nervosamente. Foi exatamente o que aconteceu quando o Damian me abraçou no meu aniversário de quinze anos.

“Eu não sou mimada, sou amada! É diferente”, penso, ofendida.

— Último tópico! — suspiro nervosa. — “Seu pai tem uma foto sua em todos os lugares, seja na carteira, no armário ou na mesa do trabalho.” — Finalmente alguma coisa que é mentira.

Sorrio vitoriosa e agarro meu ursinho de pelúcia, comemorando com mini pulinhos pelo quarto até chegar à porta, que é aberta de supetão antes mesmo que eu perceba a presença de alguém atrás dela.

— Ei, pai! Você poderia ter batido antes — peço envergonhada.

— Eu já vi você passar vergonha mais vezes do que sei contar, isso não foi nada demais — ele ri e me chama com as mãos. — Vamos jantar! Sua mãe comprou uma torta de frango e eu passei naquela padaria que você gosta. A sobremesa será cupcake de pasta de amendoim.

— Você comprou um dos meus doces favoritos sem eu ter que pedir? — pergunto desconfiada. — Vai me pedir o quê?

— Nada, Anya. — Sentamos à mesa e eu não consigo parar de encarar ele. — Não posso te agradar?

— Acho que… pode. — Semicerro os olhos e leio sua mente, mas não encontro nada. — Então, já que você está tão bonzinho, posso pedir um favor? — Lembro do convite para a festa da Becky. — Queria comprar um presente para a Becky, posso usar seu cartão? — inquiri ansiosa.

— Claro, ela te deu um baita presente no começo do ano. Acho legal você também querer dar algo para sua melhor amiga. Pode pegar meu cartão! — Ele tira a carteira do bolso e me entrega.

Abro com cuidado e vejo o cartão amarelo do lado esquerdo junto de outros iguais, mas de diversas cores. Puxo ele rapidamente, fazendo com que dois pedaços de papel saiam do compartimento, revelando duas fotos minhas e me deixando espantada.

— Desde quando você leva fotos minhas com você, pai? — pergunto quase sem ar.

— Por que não posso? — ele ri por causa da minha cara de espanto.

— Não sei! Por que você faz isso? — Sinto o desânimo me abater e tenho medo da resposta.

— Porque você é a princesinha do papai!

princesinha do papaiWhere stories live. Discover now