night shadow [kaz brekker x oc]

𝐩𝐫𝐨𝐥𝐨𝐠𝐨: 𝐚𝐥𝐠𝐨 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐥𝐚𝐝𝐫𝐚

Ketterdam, 3 anos antes

A VIDA DE YELENA consistia bem mais de incertezas do que certezas.

Ela não sabia onde ia dormir naquela noite, se iria comer algo bom ou dormir de estômago vazio. Também não sabia se estaria viva para ver o sol nascer na manhã seguinte.

Isso não era tão incomum assim, afinal, ela era uma das crianças que sobreviviam em Ketterdam.

Se esforçava ao máximo para se esconder nas sombras da noite. Apesar disso, alguns postes de luz iluminavam seu rosto de traços femininos.

Apesar disso, a menina desfilava pelas ruas de um bairro chique, vestida como um rapaz franzino, porém fino: o cabelo extremamente preto preso dentro da cartola escura, a calça larga tentando ao máximo disfarçar o mínimo de silhueta feminina que poderia ter, o paletó levemente frouxo, o casaco escuro fazendo-a ficar pequena em meio a tanto tecido.

Havia roubado aquelas roupas de um varal de outro bairro há uma semana.

Por isso, Yelena tinha a sua primeira certeza da noite: não iriam descobrir que uma menina estava por de baixo daquele figurino, pelo menos enquanto ela estivesse escondida pelas sombras.

Sua segunda certeza era que não dormiria de estômago vazio, pelo menos naquela noite, visto que a sua roupa lhe proporcionou alguns furtos. Poucas pessoas achariam que um garoto bem vestido, aparentemente rico, lhe roubaria a carteira.

Yelena sorriu, sentindo o peso das carteiras em bolsos de seu casaco, enquanto pensava em quão burras as pessoas poderiam ser. Estava prestes a terminar a sua ronda naquela noite, quando avistou uma pessoa vindo em direção contrária à sua.

Era um rapaz um pouco mais alto que ela. Parecia ter um porte físico bom e se vestia com roupas que pertenciam àquele bairro chique.

Até aquele momento, suas vítimas se resumiam a velhos desatentos e senhoras sem sal, que ela sabia que jamais notariam que tinham sido roubados, pelo menos até chegar em casa. Aquele jovem parecia atento demais.

Por um momento, Yelena pensou em desistir e ir para algum bar velho do Barril procurar comida – ela não tinha ido lá tantas vezes, por isso, não sabia direito um lugar barato e seguro para se servir.

Porém, quando notou a dificuldade na locomoção do menino – um aparente problema no joelho, visto que usava uma bengala – a menina deu um leve sorriso.

Ele não conseguiria alcança-la.

Esse foi o seu maior erro.

Ela avançou mais um pouco e, ao se encontrarem, fez questão de dar um esbarrão no ombro do menino. Ele se desestabilizou um pouco, enquanto Yelena segurou em seu braço com força – ela tinha calculado errado o peso do menino, por isso, por pouco, ambos não foram ao chão.