Hospital

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A entrevista levou cerca de meia hora, havia sido mais rápida do que eu esperava, principalmente após a cena com Natsuo, mas tudo havia ocorrido bem e eu tinha um sentimento forte de que eu iria conseguir o emprego, mesmo com as falhas pelo atraso.

Não avisei Enji quando a entrevista terminou, já que o ruivo deixou claro de que iria me buscar quando eu terminasse, apenas fui em direção ao hospital particular onde meu irmão havia sido internado, soube que o herói aposentado iria receber alta e voltaria para casa, onde ficaria de repouso por mais duas semanas. Mas ainda não tinha ideia de como explicar meu afastamento por pouco mais de duas décadas, não sabia justificar o motivo de não ter me reencontrado com ele por conta própria ou, ao menos, ter lhe enviado uma carta.

Olhando agora, o meu sumiço foi ridículo.

O hospital estava agitado como sempre, diversos feridos e emergências. Pedi na recepção uma visita ao loiro, no qual foi negado de imediato, pois era um quarto privado e se tratava de um herói que perdeu seus poderes, mostrei a mulher minha certidão de nascimento e meu último registro familiar, onde constava meu nome e - mesmo depois de anos eu não havia feito alterações - o nome do aposentado herói estava junto. A mulher me olhou incrédula e pegou o telefone fixo, por mais que tentasse esconder, era possível ouvir ela questionando ao "Senhor All Might" sobre uma possível irmã, com a resposta do mais velho, ela me deu um adesivo com meu nome, o do paciente e o número do quarto, colei o mesmo em minha blusa e me direcionei ao quarto indicado.

Fiquei nervosa assim que parei em frente a porta, senti minhas mãos suarem, conforme as batidas do meu coração aceleravam, minhas pernas fraquejavam e meu consciente implorava para fugir, afastei uma mecha de cabelo do rosto e bati na porta, ouvindo uma resposta do mais velho, entrei.

O loiro estava sentado na cama, com uma sorriso gigante no rosto fino, senti meus olhos se encherem com as lágrimas que segurei por tanto tempo desde a última vez que vi homem quando o mesmo ergueu o braço e chamou meu nome com a voz rouca, minhas pernas correram em sua direção e abracei seu corpo, o mais velho segurava forte minha blusa enquanto eu derramada minhas lágrimas em seu ombro.

- Achei que não viria. - Ouvi o mesmo falar com a voz embargada, senti uma de suas mãos finas e ásperas acariciarem meu cabelo.

Eu não conseguia mais parar as lágrimas, não conseguia mais segurar os soluços, muito menos soltar o corpo do mais velho. Senti-me em casa depois de tantos anos fora, o acolhimento do homem que me protegeu desde que eu havia chegado nesse mundo, sentia o amor sendo transmitido pelo carinho forte do abraço, me sentia cada vez mais feliz por saber que - finalmente - poderíamos nos abraçar dessa forma.

Contudo, eu ainda tinha a culpa, por mais que eu não tivesse individualidade, eu ainda tinha o dom com as maquinas, tais quais eu criara e foram usadas contra incontáveis heróis, armas usadas pelo vilões que mataram quem podiam com elas.

- Desculpa! Desculpa! A culpa é minha! - Pedia constantemente entre os soluços do choro, as lágrimas que desciam pelo meu rosto encharcavam sua blusa, umedecendo cada vez mais. - Eu devia ter voltado, eu devia ter te avisado que estava bem, devia ter ficado com você. Desculpa.

O mais velho levantou meu rosto e secou minhas lágrimas. Por mais que minha visão estivesse embaçada, eu podia ver as orbes azuis que seguravam as lágrimas, pude ver o sorriso calmo e acolhedor nos lábios rachados e finos, os cabelos loiros e arrepiados, pude ver as pequenas feridas no rosto e a alegria no mesmo.

- Está tudo bem, você está aqui agora. - Disse o mais velho que não aguentou uma lágrima nas orbes azuis, senti os lábios rachados em contato com a minha pele, os beijinhos em meu rosto provocavam cócegas, fazendo-me sorrir. - Depois conversamos sobre isso, o que acha?

- Eu acho muito bom. - Respondi e me afastei.

Olhei para o braço quebrado ao lado do corpo, o corpo fino sempre foi delicado e com uma saúde precária, sentia-me mal pelo mesmo, pois - não importa o que dissesse - a culpa era minha.

- Você vai embora hoje, não é?

- Sim, eu não acho seguro ficar aqui, prefiro ir para casa. Você vêm comigo, não é? Eu tenho quartos sobrando, você pode escolher o maior deles. - Questionou esperançoso.

- Eu trouxe frutas! - Exclamei na tentativa de mudar o assunto, obviamente, falhei.

- S/N, por favor. Venha comigo. A gente já está longe há tanto tempo, me diga ao menos que posso te comprar um apartamento perto do meu. - Suplicou, seus olhos tristes me convenciam melhor que os de Enji.

- Um pequeno e longe do centro. - Disse em um suspiro.

- Você ainda não gosta de sons altos quando acorda? - Questionou acariciando meu rosto, fazendo-me querer chorar novamente.

- Me conhece tão bem. Vai querer as frutas? Trouxe maçãs e bananas.

- Me conhece tão bem. - Respondeu em um sorriso.

Conforme o sol ia subindo até seu ponto mais alto, as horas iam se passando, não demorou para que o horário do almoço chegasse e, enfim, eu olhasse as horas em meu celular quando a enfermeira entrou com a bandeja de comida do mais velho, no visor do meu celular tinha as notificações de mensagens e chamadas perdidas:

"21 notificações perdidas de Querido💗🔥
34 mensagens de Querido💗🔥"

Avisei meu irmão de que iria pegar algo para comer na lanchonete do hospital, dei um beijo demorado na testa do mesmo, que segurou minha mão e a beijou, deixando um carinho na mesma.

Desci as escadas enquanto discava freneticamente o número do celular do ruivo, no segundo toque, o mais velho atendeu, sua voz afobada e rouca como se tivesse corrido uma maratona responderam em alto som.

- Alô?! S/N, onde você está?! - Questionou rapidamente, era notável a preocupação apenas pela voz agitada. - Eu te procurei em tudo quanto é canto! O atendente da padaria disse que você havia saído cerca de quarenta minutos depois que eu fui embora e isso faz mais de uma hora!

- Enji, desculpe. Eu não queria te preocupar, mas vim ver o Toshi. - Avisei o ruivo que soltou um suspiro aliviado.

- Ele volta para casa hoje, não é?

- Sim.

- Eu devia imaginar que você estaria aí. Eu estou indo aí, não suma. - Ouvi sua voz brincalhona enquanto eu saia do hospital para pegar um ar, pelo canto do olho, vi uma cabeleira negra que seria impossível de não reconhecer nem que se passassem mil anos, a máscara no rosto escondia as cicatrizes, junto do casaco de moletom fino.

- Eu tenho que desligar, te vejo logo. Eu amo você, Enji.

- Também te amo, S/N. - Assim que ouvi a resposta, desliguei a chamada e corri em direção ao beco.

Dessa vez, me escolha!Where stories live. Discover now